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Advogado quer proteção a autor de denúncia de ameaças contra pessoas ligadas ao caso Eliza Samudio

Rayder Bragon

Do UOL, em Belo Horizonte

23/07/2012 10h49

O advogado Ângelo Carbone afirmou que impetrará nesta segunda-feira (23) um mandado de segurança no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG) para a inclusão do detento Jaílson Alves de Oliveira em programa de proteção a testemunhas. Oliveira é autor de denúncia sobre suposto plano para matar pessoas ligadas ao caso Eliza Samudio.

O detento acusa o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, apontado pela polícia como executor de Eliza Samudio, e o goleiro Bruno Souza de tramarem plano para matar pessoas ligadas ao caso da ex-amante do jogador. Ele disse ter ouvido de Bola o suposto plano quando dividiram o mesmo pavilhão na penitenciária de segurança máxima Nelson Hungria, em Contagem (região metropolitana de Belo Horizonte).

Bruno e mais sete pessoas vão a júri popular, ainda sem data marcada, pelo sumiço de Eliza, desaparecida desde junho de 2010. Ângelo Carbone afirmou ter enxergado no episódio da fuga do cliente, ocorrida na semana passada de uma unidade de detenção em Belo Horizonte, uma trama para que o cliente fosse assassinato.

Oliveira havia fugido no dia 17, do Ceresp (Centro de Remanejamento do Sistema Prisional) São Cristóvão, e recapturado no mesmo dia.  Inicialmente, a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds-MG) tinha revelado que ele havia sido localizado no dia seguinte, mas corrigiu a informação. Carbone disse ter estranhado a fuga do cliente e, assim que soube dela, afirmou ter procurado a imprensa para “salvar a vida” de Oliveira. Após ser recapturado, ele foi levado para a penitenciária de segurança máxima Nelson Hungria, em Contagem. 

“Vi uma tentativa de queima de arquivo. Quando a pessoa está no regime fechado, é uma cana tão brava, no meu modo de falar, que você não pode sair dos muros da penitenciária. Você fica dentro do complexo. Tanto que a gente está tentando passá-lo para o regime semiaberto”, afirmou.

Carbone declarou que o cliente sempre esteve na mira da polícia. “É muito longe (de Belo Horizonte) o lugar onde disseram que o acharam. E o capturaram rapidamente sem uma noção de onde ele estava. Eu acho que nunca ele saiu dos olhos dos policiais”, afirmou.

Em nota, a Seds tinha declarado que Oliveira prestava serviços de pintura no Departamento de Investigações de Homicídios e Proteção à Pessoa no momento da fuga. O departamento é anexo ao Ceresp São Cristóvão.

“Segundo informações da Polícia Civil, o departamento fez a solicitação da realização deste tipo de serviço por um preso, à unidade prisional, sem, contudo, identificar quem deveria cumprir a tarefa” trouxe nota da secretaria, que afirmou ter aberto um processo administrativo para apurar as causas da escolha de Oliveira para o serviço.

Por sua vez, a Polícia Civil mineira adiantou ter instaurado processo administrativo para investigar a fuga de Oliveira. O advogado afirma que Jaílson Oliveira será uma testemunha fundamental no júri popular que definirá o destino dos acusados pela morte de Eliza Samudio.

“Ele vem sendo ameaçado de morte desde que ele fez as denúncias. A defesa (dos réus) vai vir com aquela história de que não tem corpo. Essa dúvida é dissipada por testemunhas. Quem é a testemunha do caso? É ele (Jaílson). Ele é quem vai contar toda a história que ouviu do Bola”, salientou.

Plano

A polícia abriu inquérito para investigar o caso das ameaças de morte as pessoas ligado ao caso Eliza Samudio, mas todos os envolvidos, incluindo Bola, o goleiro Bruno Souza e Luiz Henrique Romão, o Macarrão, negaram participação na suposta trama.

As hipotéticas vítimas seriam a juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, do 1º Tribunal do J úri de Contagem, que pronunciou o goleiro e mais sete réus a júri popular pelo sumiço de Eliza; o delegado Edson Moreira, responsável pela investigação do caso; o deputado estadual Durval Ângelo (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais; além dos advogados José Arteiro Cavalcante, assistente de acusação, e Ércio Quaresma, que faz parte da defesa de Bola.

Os mentores seriam Marcos Aparecido dos Santos e o goleiro Bruno, que teriam tentado contratar o traficante Nem da Rocinha, do Rio de Janeiro, preso atualmente em presídio de segurança máxima federal.

Após ouvir, em abril deste ano, o depoimento de José Cavalcante, o delegado Wilson Luiz de Oliveira havia afirmado que o suposto plano “caiu no vazio”. “Essa denúncia caiu no vazio. Nós entrevistamos todas as pessoas possíveis e nada foi confirmado. Ninguém foi efetivamente ameaçado. Não ficou provado nenhum crime”, explicou à época o policial.

De acordo com ele, falta va somente o depoimento da juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, que ainda não tinha data definida para ser feito. O delegado afirmou ter ido ao presídio federal de segurança máxima no Mato Grosso do Sul, em março passado, e colhido o depoimento do traficante Nem da Rocinha.

Nem teria afirmado que nunca esteve no Estado e que não conhece o ex-policial. Sobre o goleiro, o traficante afirmou que não o conhecia pessoalmente, apenas sabia que ele era jogador de futebol.

O delegado informou, por meio da assessoria da corporação, que o inquérito ainda não foi concluído porque falta o depoimento da juíza Marixa Rodrigues. O policial disse ter encaminhado o caso à Justiça de Contagem (MG) com intuito de o Judiciário colher o depoimento da magistrada. Depois disso, o inquérito será finalizado.