Acusados de atirarem clandestino ao mar, tripulantes de navio estão retidos em Paranaguá (PR)
![Paranaguá está a 98 km de Curitiba - Arte/UOL](https://conteudo.imguol.com.br/2012/07/26/mapa-brasil-sul-parana-paranagua-1343316770965_300x300.gif)
Os 19 tripulantes de nacionalidade turca de um navio de carga estão retidos em Paranaguá (98 km de Curitiba) a pedido da Polícia Federal. Eles são suspeitos de atirarem ao mar, a oito milhas náuticas (cerca de 15 km) da costa brasileira, um jovem camaronês que viajava na embarcação como clandestino.
Em depoimentos prestados à PF e ao Ministério Público Federal, o jovem relata ter ficado 11 horas à deriva, durante a noite e a madrugada, boiando sobre um palete de madeira que lhe foi atirado pelos marinheiros para servir como boia.
Arrastado pelas correntes marítimas, o jovem foi resgatado por outro navio, que entrou em contato com a Marinha do Brasil e providenciou cuidados médicos. “Segundo o médico, ele estava desidratado, confuso, mas não precisou de internação”, disse o procurador federal Alessandro José Fernandes de Oliveira, que comanda a investigação.
O camaronês, que não teve a identidade revelada, tem cerca de 20 anos de idade e está hospedado num hotel em Paranaguá, à custa da Unimar, agência marítima que contatou o navio para o transporte de uma carga de açúcar a partir de Paranaguá. Ele permanece no Brasil ao menos até o fim das investigações.
O caso ocorreu no final de junho – o navio Seref Kuru, de bandeira maltesa, chegou ao porto de Paranaguá, vazio, no último dia 27. Na sexta-feira passada (20), a embarcação atracou por determinação da Justiça Federal. Os tripulantes tiveram os passaportes retidos e estão sob vigilância até a conclusão do inquérito.
“Trabalhamos, inclusive, com a hipótese de homicídio com dolo eventual. Ou seja, assumiu-se o risco de que o jovem poderia morrer ao ser jogado ao mar”, afirmou Oliveira. Segundo o inquérito, o rapaz afirmou ter entrado encondido no navio no dia 13 de junho, em Camarões.
Oito dias depois, como sua comida acabara, o camaronês resolveu se entregar à tripulação. “A partir daí, disse ter sido vítima de racismo e de tortura física e psicológica. Dias depois, o lançaram ao mar dizendo que nadasse até a costa brasileira, o que seria praticamente impossível. Ele teve sorte de as correntes o levarem à rota de outro navio”, afirmou o procurador federal.
“Coiotes” africanos
De acordo com Oliveira, o caso do jovem camaronês não é isolado. “Existe hoje, na África, uma máfia que vende imigração clandestina nos moldes dos 'coiotes' do deserto mexicano (que levam imigrantes ilegais aos EUA). A diferença é que, na África, eles embarcam sem saber onde vão chegar”, afirma.
“É algo que o Brasil terá de enfrentar. Temos leis que garantem o asilo em caso de perseguições políticas ou religiosas, mas não sabemos o que fazer quando alguém vem para cá em busca da sobrevivência É uma questão social complexa, que vai além deste crime pontual. Teremos de enfrentá-la em algum momento”, afirmou Oliveira.
O camaronês resgatado no litoral do Paraná está, segundo o procurador, numa situação “anômala” – sem autorização para ficar no Brasil, ele é importante para a investigação, então as autoridades desejam sua permanência em território nacional.
Porto
Procurado pelo UOL, o porto de Paranaguá informou que o navio Seref Kuru deveria embarcar uma carga de açúcar ensacado, que ainda não está liberada. Por isso, a autoridade portuária irá solicitar à Justiça Federal autorização para desatracar o navio, liberando espaço para que outras embarcações que estão ao largo em situação regular possam operar.
Segundo o porto, o proprietário do navio já comunicou oficialmente que uma nova tripulação foi contratada e está a caminho de Paranaguá para operar a embarcação enquanto a tripulação de nacionalidade turca permanecer no Brasil devido ao inquérito.
Segundo o Ministério Público Federal, a tripulação retida em Paranaguá está sob a vigilância de uma empresa privada contratada pela Unimar. A reportagem procurou a agência, mas o responsável não foi encontrado.
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