Acusados de atirarem clandestino ao mar, tripulantes de navio estão retidos em Paranaguá (PR)
Os 19 tripulantes de nacionalidade turca de um navio de carga estão retidos em Paranaguá (98 km de Curitiba) a pedido da Polícia Federal. Eles são suspeitos de atirarem ao mar, a oito milhas náuticas (cerca de 15 km) da costa brasileira, um jovem camaronês que viajava na embarcação como clandestino.
Em depoimentos prestados à PF e ao Ministério Público Federal, o jovem relata ter ficado 11 horas à deriva, durante a noite e a madrugada, boiando sobre um palete de madeira que lhe foi atirado pelos marinheiros para servir como boia.
Arrastado pelas correntes marítimas, o jovem foi resgatado por outro navio, que entrou em contato com a Marinha do Brasil e providenciou cuidados médicos. “Segundo o médico, ele estava desidratado, confuso, mas não precisou de internação”, disse o procurador federal Alessandro José Fernandes de Oliveira, que comanda a investigação.
O camaronês, que não teve a identidade revelada, tem cerca de 20 anos de idade e está hospedado num hotel em Paranaguá, à custa da Unimar, agência marítima que contatou o navio para o transporte de uma carga de açúcar a partir de Paranaguá. Ele permanece no Brasil ao menos até o fim das investigações.
O caso ocorreu no final de junho – o navio Seref Kuru, de bandeira maltesa, chegou ao porto de Paranaguá, vazio, no último dia 27. Na sexta-feira passada (20), a embarcação atracou por determinação da Justiça Federal. Os tripulantes tiveram os passaportes retidos e estão sob vigilância até a conclusão do inquérito.
“Trabalhamos, inclusive, com a hipótese de homicídio com dolo eventual. Ou seja, assumiu-se o risco de que o jovem poderia morrer ao ser jogado ao mar”, afirmou Oliveira. Segundo o inquérito, o rapaz afirmou ter entrado encondido no navio no dia 13 de junho, em Camarões.
Oito dias depois, como sua comida acabara, o camaronês resolveu se entregar à tripulação. “A partir daí, disse ter sido vítima de racismo e de tortura física e psicológica. Dias depois, o lançaram ao mar dizendo que nadasse até a costa brasileira, o que seria praticamente impossível. Ele teve sorte de as correntes o levarem à rota de outro navio”, afirmou o procurador federal.
“Coiotes” africanos
De acordo com Oliveira, o caso do jovem camaronês não é isolado. “Existe hoje, na África, uma máfia que vende imigração clandestina nos moldes dos 'coiotes' do deserto mexicano (que levam imigrantes ilegais aos EUA). A diferença é que, na África, eles embarcam sem saber onde vão chegar”, afirma.
“É algo que o Brasil terá de enfrentar. Temos leis que garantem o asilo em caso de perseguições políticas ou religiosas, mas não sabemos o que fazer quando alguém vem para cá em busca da sobrevivência É uma questão social complexa, que vai além deste crime pontual. Teremos de enfrentá-la em algum momento”, afirmou Oliveira.
O camaronês resgatado no litoral do Paraná está, segundo o procurador, numa situação “anômala” – sem autorização para ficar no Brasil, ele é importante para a investigação, então as autoridades desejam sua permanência em território nacional.
Porto
Procurado pelo UOL, o porto de Paranaguá informou que o navio Seref Kuru deveria embarcar uma carga de açúcar ensacado, que ainda não está liberada. Por isso, a autoridade portuária irá solicitar à Justiça Federal autorização para desatracar o navio, liberando espaço para que outras embarcações que estão ao largo em situação regular possam operar.
Segundo o porto, o proprietário do navio já comunicou oficialmente que uma nova tripulação foi contratada e está a caminho de Paranaguá para operar a embarcação enquanto a tripulação de nacionalidade turca permanecer no Brasil devido ao inquérito.
Segundo o Ministério Público Federal, a tripulação retida em Paranaguá está sob a vigilância de uma empresa privada contratada pela Unimar. A reportagem procurou a agência, mas o responsável não foi encontrado.
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