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Ação movida pela Cruz Vermelha Brasileira pode deixar Cruz Vermelha do Rio sem endereço

Julio Reis

Do UOL, no Rio

09/08/2012 18h15Atualizada em 09/08/2012 21h49

Funcionando no 2° andar do prédio de número 10 na Praça Cruz Vermelha, a filial fluminense da instituição que batiza um dos endereços mais conhecidos do centro do Rio pode ter que deixar o local no início da próxima semana. Isso porque Cruz Vermelha Brasileira, que tem seu escritório no mesmo prédio e é síndica do imóvel, pediu o despejo de sua filial.

O conflito entre as instituições, que em princípio deveriam funcionar de forma unitária, teria começado porque a filial do Rio acusa e levou denúncia ao Ministério Público de que a Cruz Vermelha Brasileira não teria repassado para as operações no Estado os recursos arrecadados em âmbito nacional e internacional em prol dos desabrigados das enchentes da região serrana em janeiro de 2011.

Segundo a diretora executiva da Cruz Vermelha Rio, Rosely Sampaio, a Cruz Vermelha Brasil divulgou uma conta bancária diferente da conta aberta pela filial do Rio para arrecadar doações que deveriam ajudar na tragédia da região serrana, mas até aqui os valores arrecadados não foram recebidos.

“A Cruz Vermelha Brasil exerce um papel normativo. Já as filiais estaduais e municipais ficam responsáveis pelo escopo operacional das ações de enfrentamento de desastres e ajuda humanitária. Nós usamos e prestamos conta das doações que recebemos em nossa conta, mas aquilo que foi arrecadado pela Cruz Vermelha Brasileira para ajudar no enfrentamento da tragédia na região serrana não foi transferido até hoje”, disse Sampaio.

O presidente da filial do Rio, Luiz Alberto Sampaio, vê retaliação na inciativa da Cruz Vermelha Brasileira. “Tentamos negociar uma saída, mas não houve acordo. Já estamos recorrendo dessa notificação recebida no dia 13 de julho e que nós dá trinta dias para deixar o prédio sob a estranha alegação de confusão de identidade. Isso começou depois que o Conselho de Finanças Nacional solicitou uma prestação de contas em que os recursos arrecadados para região serrana fossem repassados para a região serrana”, disse.

Ainda segundo Alberto Sampaio, a filial paga aluguel mensal de R$10 mil e arca com todas as despesas de água e luz do prédio.

Conta no Maranhão

De acordo com reportagem da revista Veja divulgada esta semana, a Cruz Vermelha Brasileira organizou três grandes campanhas nacionais de arrecadação em 2011: para as vítimas dos deslizamentos na região serrana fluminense, para a Somália e para o terremoto seguido de tsunami no norte do Japão.

No entanto, as doações não foram aplicadas em nenhum dos locais eram remetidas para contas bancárias da entidade em agência do Banco do Brasil no Maranhão, onde, segundo a revista, reside o presidente da instituição Walmir Moreira Serra que é irmão da presidente da filial maranhense, Carmem Maria Teixeira Moreira Serra. Ainda segundo Veja, o valor arrecadado conta-se na casa dos milhões.

Nota divulgada no site da Cruz Vermelha Brasileira nesta quarta-feira (8) diz que o presidente da Cruz Vermelha Brasileira, Walmir Moreira Serra, se reuniria, ainda nesta quinta-feira, em Brasília, com o delegado regional do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Felipe Donoso, para constituir uma auditoria ampla e irrestrita nas filiais municipais, estaduais e no Órgão Central da Cruz Vermelha Brasileira.

"Os resultados dessa auditoria, que acontecerá em todas as instâncias da instituição, serão apresentados à população, que sempre apoiou e acreditou na missão humanitária da Cruz Vermelha Brasileira, diz o texto.

Procurada pelo UOL para comentar as denúncias e a solicitação de despejo, a Cruz Vermelha Brasileira respondeu no fim da noite desta quinta-feira (9) que “a desocupação do prédio sede do Órgão Central da Cruz Vermelha Brasileira é matéria já exaustivamente debatida internamente, inclusive no Conselho Diretor Nacional, desde o ano de 2009, portanto, o que mais houve para a filial do Rio foi prazo, tempo para se organizar e encontrar a sua própria sede”.

Segundo a Cruz Vermelha Brasileira a filial do Rio certamente é uma das poucas, que pelas condições financeiras que goza hoje e pelas relações politico e institucionais que possui no Estado tem totais condições de ter sua sede própria, onde encontrará facilidade para organizar sua logística.

Sobre as denúncias, a Cruz Vermelha Brasileira, disse que através do seu presidente Walmir Moreira Serra, formalizou hoje, em reunião com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, em Brasília, pedido à Federação Internacional de uma auditoria interna na sede da instituição e nas suas filias estaduais e municipais, abrangendo a administração, financeiro e contabilidade.

Os auditores internacionais e técnicos do Movimento Internacional irão também levantar as condições patrimoniais das filiais, as fichas de seus dirigentes e se as ações desenvolvidas estão alinhadas com as diretrizes traçadas pela Federação Internacional da Cruz Vermelha, diz a Cruz Vermelha Brasil.

Com relação às denuncias, a Cruz Vermelha Brasileira diz que irá aguardar os resultados da auditoria para fornecer respostas completas e transparentes que serão divulgadas no site da instituição e tornadas públicas.

Já Comissão de Finanças, órgão fiscalizador da Diretoria Nacional da Cruz Vermelha Brasileira diz, em nota publicada na noite desta quinta-feira (9), que é “inadmissível que após tanto tempo depois do ingresso das doações somente agora, após as denúncias virem a público, que o presidente Walmir de Jesus Moreira Serra Junior e o seu vice presidente e braço direito, Anderson Marcelo Choucino, falem em repassar esses recursos aos legítimos destinatários. Eles impediram que a Cruz Vermelha Brasileira cumprisse seu mandato humanitário”.

A nota prossegue afirmando que a falta de prestação de contas dos recursos arrecadados em 2011 precisam ser explicados de forma incontestável, mediante exibição dos extratos bancários e demais comprovantes.

Também o Conselho Diretor Nacional da Cruz Vermelha, composto entre outros por membros de todas as filiais, diz que a gestão do presidente da Cruz Vermelha Brasil e do vice-presidente Aderson Couchino, não conta mais com o apoio da maioria dos membros e já foi aprovado, no plenário do conselho, a decisão de afastá-los dos seus cargos e abrir sindicância.

Ainda segundo texto, divulgada na quarta-feira (1), a decisão ainda “não foi posta em prática porque ambos se utilizam de diversos estratagemas administrativos e jurídicos e completo desrespeito ao Estatuto, tentando conduzir o processo para os escaninhos da Justiça”.