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Cadeirante fica preso por mais de duas horas em estacionamento de shopping de Curitiba

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curitiba

23/08/2012 14h08

O jornalista Rafael Bonfim, 30, cadeirante, teve de esperar por mais de duas horas para poder deixar o estacionamento de um shopping center no centro de Curitiba, na noite do último sábado (18). Um motorista havia estacionado irregularmente sobre o espaço destinado ao acesso do cadeirante ao veículo, e, assim, Bonfim não conseguiu entrar em seu carro.

Recorrer à Setran, autoridade municipal de trânsito, e à Polícia Militar revelou-se infrutífero. Nenhum dos dois apareceu para auxiliar o cadeirante (a PM não atendeu às chamadas da administração do shopping). Assim, Bonfim só pôde deixar o local quando os ocupantes do veículo que bloqueava o acesso ao seu carro chegaram ao estacionamento.

Cadeirante fica preso em estacionamento de shopping em Curitiba

“Paguei meu estacionamento por volta das 20h20, mas quando cheguei ao carro, me vi bloqueado”, disse Bonfim ao UOL. “Foram quase duas horas e meia esperando, no estacionamento, entre o momento que paguei o estacionamento e a hora em que consegui entrar no carro para ir embora.”

“Vendo minha situação, pessoas que estavam no local me ofereceram ajuda para entrar no carro pelo lado do passageiro, mas neguei.” A justificativa: “Fiz questão de tomar todas as medidas que pude para acionar e testar a fiscalização do cumprimento da lei das vagas exclusivas”, disse o jornalista, autor de um blog sobre inclusão de pessoas com deficiência.

Por volta das 20h45, Bonfim ligou, de seu celular, para a Setran pelo telefone 156. Às 21h33, recebeu um e-mail com a seguinte resposta: “Informamos que, devido à indisponibilidade de viaturas, por atendimento a outras ocorrências (semáforos, colisões, obras em urgência e eventos programados), não foi possível encaminhar uma equipe até o endereço mencionado. Favor entrar em contato com 190 para fiscalização.”

Seguranças destacados pela administração do shopping center para acompanhá-lo tentaram, então, acionar a Polícia Militar (cuja sede fica a duas quadras do Shopping Estação, onde houve o incidente) pelo telefone 190. Mas, segundo a administração do estabelecimento, esperou-se por 15 minutos, sem que um atendente surgisse, até que a ligação caísse.

"Assumiram o erro e foram embora"

A rotina repetiu-se por três vezes – na terceira, não foi preciso esperar a queda da ligação. Chegou antes a informação de que os ocupantes do veículo infrator já haviam retornado ao estacionamento. “Eram quatro homens, jovens. Eu e os seguranças conversamos com eles, que argumentaram que não havia vagas, assumiram o erro e foram embora pedindo desculpas”, disse Bonfim.

“Foi a primeira vez que acionei órgãos competentes dessa maneira. Percebo que estamos assistidos por um sistema sobrecarregado e mal administrado. Entendo que havia outras ocorrências, talvez até mais graves. Mas um retorno quase uma hora depois para dizer que não há carros é esquisito. E eu estava na região central da cidade”, afirmou.

“Dois seguranças do shopping ficaram comigo durante todo o tempo que esperei, e anunciaram mais de uma vez pelo sistema de som buscando o dono do carro. Mas acho que eles estavam no cinema.”

Postado na YouTube e e em seu blog, o vídeo gravado por Bonfim durante a espera já contava com mais de 8.000 acessos na quarta-feira (22) à noite. Muitos comentaristas demonstram indignação com a calma exibida pelo jornalista durante todo o imbroglio. “O debate que isso tem gerado é bem mais importante do que um barraco”, disse Bonfim.

Outro lado

Procurada pela reportagem do UOL, a assessoria de imprensa da Prefeitura de Curitiba, responsável pela Setran, informou que não havia carros disponíveis e disse que “a prioridade de fiscalização são as vias públicas”. Agentes públicos podem aplicar multas e sanções em estacionamentos como o do Shopping Estação.

A Polícia Militar disse que o shopping center tem o dever de fiscalizar o uso correto das vagas exclusivas para deficientes e idosos. A assessoria da PM disse que “não há mais fila de espera” no telefone 190, “salvo quando há situações de emergência.

A corporação informou ainda que, no sábado (18), recebeu quase 11 mil chamadas e que havia gente suficiente trabalhando para atendê-las. Apesar disso, disse que, em breve, o 190 será ampliado e terá mais gente trabalhando.

Em nota, o Shopping Estação informou que “a equipe da administração do empreendimento prestou todo auxílio possível para que o cliente, que teve o acesso ao seu carro obstruído por outro veículo, conseguisse deixar o centro comercial.