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Após três meses de salários atrasados, coveiros entram em greve em Natal

João Batista, 27, aproveita greve de coveiros em Natal para fazer "renda extra" abrindo covas - Elendrea Cavalcanti
João Batista, 27, aproveita greve de coveiros em Natal para fazer "renda extra" abrindo covas Imagem: Elendrea Cavalcanti

Elendrea Cavalcante

Do UOL, Natal

26/09/2012 15h58

Em meio à crise na saúde do Rio Grande do Norte e à greve dos servidores do Itep (Instituto Técnico-Científico de Polícia), agora os coveiros também cruzaram os braços em Natal. A paralisação acontece por conta do salário, que no próximo dia 5 completa três meses de atraso.

Os coveiros fazem parte de um grupo de mais de 300 trabalhadores de uma empresa terceirizada pela Prefeitura de Natal para realizar, além dos trabalhos nos cemitérios, também a manutenção e limpeza de canteiros, feiras e praças da cidade.

O problema é que a prefeitura acumula uma dívida de cerca de R$ 1 milhão com a empresa, que alegou não ter condições de pagar seus funcionários enquanto o Executivo Municipal não quitasse os atrasados.

Por conta da greve, na última sexta-feira (21), a prefeitura fez um repasse emergencial de R$ 400 mil para a empresa, que serviu para pagar apenas despesas e um mês de salário de 80 trabalhadores, segundo o Sindlimp (Sindicato dos Empregados em Empresas de Asseio, Conservação, Higienização e Limpeza do Rio Grande do Norte), que representa a categoria.

O Sindlimp explicou que os coveiros e demais trabalhadores voltarão ao trabalho com o pagamento dos dois meses atrasados. “Tem trabalhador que diz que se for pago um mês dos atrasados, volta. O terceiro mês vence dia 5”, disse o presidente do sindicato, Wilson Duarte.

Renda extra

Enquanto os coveiros da terceirizada estão em greve, familiares precisam contar com o serviço dos poucos coveiros do município para enterrarem seus mortos ou então contratar pessoas particulares para realizarem o serviço.

O autônomo João Batista, 27, é uma dessas pessoas. Antes da greve, ele trabalhava apenas na construção de túmulos. Agora, ele tem aproveitado a paralisação dos coveiros para fazer “renda extra” abrindo covas e enterrando os mortos.

“As famílias me procuram e faço o serviço. Eu não cobro nenhum valor fixo. O que as pessoas me dão são ‘agrados’, às vezes de R$ 10, R$ 20. Desde de que a greve começou, já cheguei a fazer nove enterros em um único dia, apenas no Cemitério Bom Pastor 1.”

Ao lado do Bom Pastor 1 está o Cemitério Municipal Bom Pastor 2. No local, o UOL encontrou apenas zeladores contratados por famílias para a manutenção dos túmulos, além de um dos coveiros, identificado como “Quinho” e que limitou-se a informar que os trabalhos estavam parados.

Outro lado

Nessa terça-feira (26), o secretário da Semsur (Secretaria Municipal de Serviços Urbanos), Luís Antônio Lopes, disse que até o próximo dia 5 a prefeitura pretende equacionar o valor de R$ 1,22 milhão com a empresa.

“Até porque há um débito histórico com esta firma. Mas, à parte, vamos também fazer uma auditoria porque há itens que foram colocados no contrato com esta empresa que não foram cumpridos por parte dela. Portanto, o valor final da dívida deve ser analisado”, disse.

Lopes afirmou que 22 coveiros concursados da prefeitura estão se revezando durante a greve dos funcionários da terceirizada para atender à demanda. “São pessoas que não ficam paradas em um cemitério. Elas são deslocadas conforme a demanda. “Não estamos vivendo um momento dos melhores. Portanto, temos que buscar soluções caseiras.”