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Depoimento de testemunhas não dá pistas sobre assassinos do cabo Bruno, diz delegado

Familiares e amigos velam o corpo do ex-policial militar Florisvaldo de Oliveira, o cabo Bruno, morto a tiros em Pindamonhangaba (SP) na noite desta quinta-feira (27) quando chegava em casa - Lucas Lacaz Ruiz/AE/AE
Familiares e amigos velam o corpo do ex-policial militar Florisvaldo de Oliveira, o cabo Bruno, morto a tiros em Pindamonhangaba (SP) na noite desta quinta-feira (27) quando chegava em casa Imagem: Lucas Lacaz Ruiz/AE/AE

Isnar Teles

Do UOL, em São José dos Campos (SP)

27/09/2012 18h59

A Polícia Civil de Pindamonhangaba (a 145 km de São Paulo) ouviu nesta quinta-feira (27) duas testemunhas do assassinato do ex-policial militar Florisvaldo de Oliveira, 53, conhecido como cabo Bruno.

As testemunhas, um parente e um amigo do ex-policial, voltavam com ele de carro de um culto religioso na noite do crime, na última quarta-feira.

Segundo o delegado Vicente Lagioto, 45, titular do 1º DP da cidade, os depoimentos, no entanto, não deram pistas à polícia sobre os autores.

Um mês após sair da prisão, cabo Bruno é morto

“Um deles declarou que a ação foi muita rápida e que só viu os executores quando estavam em fuga e de costas. Não souberam dizer nem se usavam capuz ou algo que não os identificassem”, disse Lagioto, acrescentando que, dessa forma, não será possível fazer retrato falado dos acusados.

O delegado abriu inquérito no início da tarde para apurar o assassinato, com um prazo de 30 dias para ser concluído, mas que pode ser prorrogado por mais 30, caso novos fatos sujam durante as investigações.

“Vamos agora ouvir o depoimento da mulher do Florisvaldo e de outras pessoas ligadas a ele. Começaremos também o trabalho de perícia, que será feito nas cápsulas encontradas no local e marcar a reconstituição do crime, que deve ocorrer em até 15 dias”, declarou. Os assassinos usaram pistolas de calibres ponto 40 e 380.

O corpo do ex-policial será transferido ainda nesta quinta-feira para Catanduva (SP), cidade onde mora sua mãe, e será enterrado amanhã no cemitério Nossa Senhora de Fátima.

Hipótese

Para o delegado Vicente Lagioto, “ao que tudo indica, trata-se de uma vingança em razão dos crimes praticados pelo ex-policial, na cidade de São Paulo”. “Chegou a ser levantada a possibilidade de queima de arquivo, mas os crimes ocorreram há mais de 30 anos, portanto, todos prescritos”, afirmou.

Após ganhar a liberdade, há cerca de um mês, Florisvaldo de Oliveira, teria, segundo informações da polícia, declarado a pessoas próximas que a exposição da notícia na mídia teria sido prejudicial, pois temia por sua vida.

“Pelo que sabemos, ele estava participando de cultos com uma certa regularidade e não tomou nenhuma precaução, a não ser informar a poucas pessoas sobre o local de sua residência. Ouvimos um vizinho no dia do crime, que nem sabia que se tratava do Cabo Bruno. Nem eu sabia que ele morava em Pindamonhangaba”, disse.

O crime

O ex-policial foi executado quando chegava em casa com a família, no bairro Quadra Coberta, em Pindamonhangaba. Ele retornava de um culto evangélico na cidade de Aparecida.

Segundo a polícia, dois homens esperavam próximos à casa da vítima. Quando o ex-policial desceu do carro, foi abordado e levou mais de 20 tiros, cinco deles na cabeça.

Após o crime, os assassinos fugiram a pé. Segundo testemunhas, um carro os teria auxiliado na fuga.

Palestra

Na última terça-feira, o ex-policial fez uma palestra para cerca de 30 policiais militares em um batalhão em São Paulo.

Nas redes sociais sua mulher, a pastora e cantora gospel Dayse França, 46 anos, publicou: “Ele falou sobre o passado, mas com o objetivo de incentivar os novos policiais para que não façam o mesmo que ele fez e que sejam mais conscientes na hora de tomar decisões nos trabalhos de rua. Deus fez maravilhas hoje em São Paulo no Batalhão da Polícia Militar com o testemunho do servo do senhor, meu amado”.

Liberdade

Depois de sair da prisão, Florisvaldo de Oliveira passou exatos 34 dias em liberdade até perder a vida. Saiu da Penitenciária de Tremembé na tarde do dia 23 do mês passado. Ele  foi beneficiado por um decreto assinado pela presidente Dilma Rousseff em 2011 que concede liberdade a quem cumpriu mais de 20 anos de prisão e tenha tido bom comportamento.

O Cabo Bruno foi expulso da PM e preso em 1983. Chegou a fugir três vezes. Ao todo, passou 27 anos atrás das grades acusado de liderar um grupo de extermínio nos anos 80 que atuava na zona sul de São Paulo e que tinha o apoio de comerciantes da região. Ele dizia ter cometido pelo menos 50 assassinatos. Florisvaldo foi condenado pela Justiça a 117 anos de prisão.

Religioso

O ex-policial militar, considerado o justiceiro mais temido da capital paulista na década de 80, morreu três dias depois de ter sido empossado pastor da Igreja Refúgio em Cristo, em Taubaté.

Florisvaldo de Oliveira começou sua vida religiosa ainda na prisão, em 1991, quando se tornou evangélico. Ajudou a construir duas capelas na Casa de Custódia de Taubaté.