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'Fizeram de mim um monstro' diz Bola, que acusa ex-delegado de querer incriminá-lo

Rayder Bragon

Do UOL, em Belo Horizonte

06/11/2012 21h03Atualizada em 06/11/2012 22h23

O ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, disse nesta terça-feira (6), durante julgamento em que é acusado pela morte de um homem, em 2000, em Contagem (MG), ser do “bem”. “Fizeram de mim um monstro”, disse ele. Segundo ele, a repercussão nacional do caso Eliza Samudio, no qual é apontado como o executor do crime, trouxe visibilidade para outros processos por homicídio aos quais responde --ele nega a participação em todos.

Eliza era namorada do então goleiro do Flamengo Bruno Fernandes, que também é julgado pelo crime. O motivo do assassinato seria uma desavença por conta de um pedido de pensão de Eliza, que tinha um filho com o ex-goleiro.

O depoimento do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, terminou por volta das 22h20. A juíza Marixa Rodrigues suspendeu a sessão de julgamento e determinou a sua retomada nesta quarta-feira, às 9h. 

Segundo dia

No segundo dia do julgamento, iniciado segunda-feira (5), no salão do júri do Fórum Doutor Pedro Aleixo, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, Bola negou a autoria da morte do ex-carcereiro Rogério Martins Novelo e disse não conhecer a vítima. Ele deu as declarações durante interrogatório feito pela juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, do 1º Tribunal do Júri de Contagem.

Nesse caso, a irmã do homem morto e principal testemunha do crime pelo qual Bola foi acusado, havia reconhecido o ex-policial quando começaram a ser veiculadas imagens dele nas emissoras de televisão e jornais em razão da repercussão do caso Eliza Samudio.

“É a primeira vez que sento na frente de um júri, estou apavorado. Eu jamais respondi a processo algum. Isso é coisa pessoal, do meu desafeto, o doutor (ex-delegado) Edson Moreira”, disse Santos, referindo ao responsável pelo inquérito sobre o desaparecimento de Eliza, ex-amante do goleiro Bruno Souza.

Por esse processo, o ex-policial e o goleiro, além de mais três réus, vão a julgamento que se inicia no dia 19 deste mês, sendo que as audiências serão realizadas no mesmo local.

“O meu problema foi pessoal com o Edson Moreira. Ele disse que todo cachorro morto que viesse rolando ladeira abaixo [crimes de homicídios de autoria desconhecida] seriam jogados nas minhas costas”, disse Santos.

Bola explicou que a rixa entre os dois começou ainda na academia de Polícia Civil, em Minas Gerais, em 1990.

“Ele era o coordenador da minha turma. Dava aulas de práticas policiais”, disse Bola, afirmando que a animosidade entre os dois se iniciou porque ele teria desmentido afirmação de Moreira para alunos da academia. Segundo Santos, o ex-delegado supostamente ostentava que havia trabalhado na Rota (Rondas Ostensivas Tobias Barreto), em São Paulo, no final da década de 80.

Bola afirmou que Moreira tinha, na verdade, trabalhado na cavalaria paulistana, revelação que teria “ferido o orgulho’ de Moreira. Ele ainda acusou o ex-delegado de ter pedido a ele para torturar um acusado de homicídio, quando já era policial civil, fato que ele disse não ter concordado.

O ex-delegado Edson Moreira está em um local reservado e sem comunicação, no fórum da cidade mineira. Ele depôs na manhã de hoje e está aguardando a decisão da juíza sobre a possibilidade de uma acareação entre ele e o réu.

Bola ainda entregou um bilhete à juíza, lido por ela durante a sessão, no qual ele afirma “estar desesperado”.

“Sempre fui e sempre serei uma pessoa do bem. Jamais tirei a vida de ninguém”, leu a magistrada.

O réu ainda afirmou na tarde de hoje para a juíza Marixa Rodrigues ser “uma pessoa doente”, alegando sofrer de problemas cardíacos e pressão alta.

Durante a audiência de ontem, foram ouvidas três testemunhas, sendo duas arroladas pelo MP (Ministério Público) e uma pela defesa.