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Começa julgamento de acusados de atirar camaronês ao mar na costa do Paraná

Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curitiba

12/11/2012 13h26

Começou nesta segunda-feira (12), em Paranaguá (PR), o júri popular dos cinco tripulantes do navio Seref Kuru, acusados pelo Ministério Público Federal (MPF) de torturar e atirar ao mar o camaronês Wilfred Happy Ondobo, 28, a cerca de 15 km da costa paranaense, em junho deste ano.

Os marinheiros Orhan Satilmis, Ihsan Sonmezocak, Mamuka Kirkitadze, Zafer Yildirim e Ramazan Ozdamar respondem por tentativa de homicídio qualificado, segundo decisão do juiz federal Vicente de Paula Ataíde Júnior.

Ao UOL, o Ministério Público Federal de Curitiba informou que o procurador Alessandro José Fernandes de Oliveira, que cuidou do caso desde o início e deverá fazer a acusação perante o júri, espera que o julgamento se estenda ao menos até esta terça.

Satilmis, identificado por Ondobo como seu principal agressor, também irá responder por tortura e crime de racismo. Se considerados culpados, os réus podem ser condenados a até 20 anos de prisão, pelo crime de tentativa de homicídio, a até oito anos, por tortura, e a até três anos e multa, por racismo. Nesse caso, deverão cumprir pena no Brasil.

Entenda o caso

Ondobo disse às autoridades brasileiras que entrou clandestinamente no navio no porto de Douala, nos Camarões, no dia 13 de junho. Dias depois, sem água e comida, resolveu se entregar a tripulação. Segundo a denúncia do MPF, a partir daí Ondobo afirmou ter sido agredido verbal e fisicamente, além de ser privado de sono e mantido em uma pequena cabine. Nos depoimentos, relatou chutes no peito e tapas no rosto que o teriam deixado desacordado.

Satilmis, que foi denunciado por racismo pelo MPF, teria dito a Ondobo que “não gostava de preto”, que para ele são “todos animais”. Durante o tempo em que permaneceu encarcerado a bordo, o camaronês recebia duas refeições diárias. À noite, tripulantes batiam na porta e na janela para evitar que ele dormisse.

Após 11 dias a bordo, por volta das 19h, Ondobo relatou ter recebido uma lanterna e 150 euros da tripulação e foi obrigado a saltar do navio. No mar, ele permaneceu por 11 horas à deriva boiando sobre um palete, estrutura de madeira usada no transporte de cargas, que lhe foi atirado pela tripulação, até ser resgatado por um navio que vinha do Chile.

Em depoimentos à Polícia Federal, a tripulação do navio tentou negar o crime, mas indícios – como uma foto escondida por Ondobo no local onde foi mantido encarcerado – comprovaram a presença do camaronês a bordo.

Em 10 de agosto, mesmo dia em que a denúncia contra os tripulantes do Seref Kuru chegou à Justiça, o navio, de bandeira da Ilha de Malta e agora sob o comando de uma nova tripulação, deixou o porto de Paranaguá, carregado com 11 mil toneladas de açúcar, rumo ao porto de Douala, nos Camarões.