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Júri do caso Eliza entra no segundo dia com depoimento de ex-caseiro e possível acareação

Carlos Eduardo Cherem, Guilherme Balza e Rayder Bragon

Do UOL, em Contagem (MG)

20/11/2012 06h00Atualizada em 20/11/2012 09h40

O júri do goleiro Bruno Fernandes e mais três réus acusados de envolvimento no desaparecimento de Eliza Samudio foi retomado nesta terça-feira (20), no Fórum de Contagem (Grande Belo Horizonte), por volta das 9h30.

O primeiro depoimento de hoje será de João Batista, ex-caseiro do sítio do goleiro em Esmeraldas (MG), local onde a vítima teria sido mantida em cárcere privado e poderia ter sido morta, segundo a acusação.

Batista será a segunda testemunha a ser interrogada. A primeira, o ex-motorista do goleiro Cleiton Gonçalves, depôs ontem (19) e declarou que Sérgio Rosa Salles, primo de Bruno, lhe disse em 10 de junho de 2012 que “Eliza já era”. O promotor Henry Castro afirmou que poderá pedir uma acareação entre as duas testemunhas, dependendo do que Batista disser em de depoimento.

Cleiton está retido em um hotel em Contagem desde seu depoimento. "Existe a possibilidade de nos fazermos a acareação. Cleiton e a testemunha [João Batista]. No primeiro depoimento de João Batista [primeira testemunha que será inquerida nesta terça-feira], dependendo do que ele falar, teremos de fazer uma acareação entre os dois", disse.

O promotor explicou que o depoimento de João Batista é importante porque ontem, durante o interrogatório, Cleiton relatou que durante um jogo de futebol, no sítio do jogador, em 8 de junho de 2010, o ex-motorista teria ficado sabendo da presença de Eliza Samudio no sítio.

"Durante um jogo de futebol, no sítio do goleiro, Cleiton teria se dirigido para se banhar na sede do imóvel e Bruno o impediu. Indagado sobre o motivo, Cleiton foi alertado por Bruno que Eliza se encontrava no local e que ele não deveria entrar", disse o promotor.

Castro disse ainda que, após isso, Cleiton teria alertado Bruno para que ele a liberasse e não a matasse.

"No primeiro depoimento, Cleiton disse que a confusão já estava feita e que teria feito alertas ao Bruno. O goleiro, portanto, teria de resolver aquilo. Esse primeiro depoimento teria sido tomado com algum constrangimento. Prevendo isso, arrolamos uma testemunha [João Batista] do depoimento do Cleiton para confirmar que o testemunho foi tomado sem constrangimento algum", disse.

Ontem (19), o promotor questionou Cleiton sobre o depoimento dado à Polícia Civil, no qual teria feita a afirmação. A testemunha, entretanto, não confirmou a declaração e disse que pode ter falado isso à polícia por ter sido pressionado durante o interrogatório.

Na sessão dessa segunda, Cleiton afirmou ainda que a declaração de Sérgio Rosa Salles  teria ocorrido dentro do ônibus que levava o time de várzea de Bruno de Minas Gerais para o Rio de Janeiro, no dia 10 de junho. Apesar de confirmar a declaração de Sérgio, Cleiton afirmou que não procurou saber do que se tratava. “Peguei minha cerveja e foi para parte de trás do ônibus”, disse.

Cleiton confirmou também ao promotor que o primo de bruno lhe confidenciou que os ossos de Eliza foram jogados para os cães da raça rotweiller no sítio de Bola.

Salles era réu no processo que investiga o sumiço de Eliza Samudio e também iria a júri popular, mas foi assassinado neste ano em um crime passional, segundo a investigação da Polícia Civil.

Depois de Batista e do possível interrogatório, outras testemunhas serão ouvidas. Ao todo, 25 testemunhas foram arroladas por defesa e acusação. Seis delas já foram descartadas.

Primeiro dia

O primeiro dia do julgamento do caso Eliza Samudio, no acanhado Fórum Pedro Aleixo, em Contagem (Grande Belo Horizonte), foi marcado por tumulto, abandono de defesa por parte dos advogados de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola. Arrolado pela acusação, Cleiton foi a primeira e única testemunha a depor.

Logo no início do julgamento, os advogados de Bruno, Rui Pimenta, e de Bola, Ércio Quaresma brigaram por causa de um lugar no plenário do júri. Quaresma chegou a dar tapinhas dos ombros de Pimenta, que revidou com um leve empurrão.

Em seguida, Quaresma implicou com a falta de estrutura do Fórum de Contagem, reclamando não haver extensões suficientes para ligar os computadores e não ter espaço para os familiares dos réus acompanharem o júri.

Durante o sorteio dos jurados, a juíza dispensou sete jurados que participaram de outro júri de Marcos Aparecido, ocorrido no início do mês, no qual ele foi inocentado pela morte de um agente penitenciário. A decisão irritou Quaresma, que só se conformou após os próprios jurados pedirem dispensa do julgamento.

O defensor também questionou o fato de, segundo ele, não ter tido acesso às gravações de interrogatórios das testemunhas.

Após Quaresma rebater seus argumentos, a juíza Marixa Fabiane se irritou e disse que o advogado de Bola poderia ter feito os questionamentos quanto ao acesso às mídias anteriormente. "Tem dois anos que esse processo está em curso", disse. "Não é o juiz que vai determinar a hora que vou examinar as provas", respondeu Quaresma. "A palavra do senhor está cassada", replicou a magistrada.

O auge da confusão ocorreu quando as defesas dos acusados questionaram o tempo, de 20 minutos, concedido pela magistrada para que cada advogado apresentasse os requerimentos preliminares. Após Marixa não ceder mais tempo, Ercio Quaresma anunciou que abandonaria a tribuna, o que fez algumas horas depois, após mais tumulto.

“Não temos a menor condição de trabalhar num julgamento em que prova da defesa é cerceada já no prólogo, que dirá no epílogo”, afirmou Quaresma.

Fernando Diniz, advogado do Luiz Henrique Romão, o Macarrão, também ameaçou abandonar a defesa, mas voltou atrás. Bola não aceitou que um defensor público fosse constituído para a sua defesa, e agora seu julgamento deverá ocorrer em outra data, caso não haja nenhuma reviravolta de seus advogados.

O julgamento prosseguiu com a presença de Bruno, que disse à juíza estar “tranquilo quanto à realização do júri, Dayanne de Souza, ex-mulher do jogador, e Fernanda Castro, ex-amante do atleta, que acompanharam o júri sem algemas. Macarrão alegou não estar se sentindo bem e foi levado de volta ao presídio Nelson Hungria, após ficar alguns minutos no salão do júri.

Sorteio do júri

Também nesta segunda-feira foram definidos os sete jurados que decidirão o futuro dos réus. O corpo de jurados ficou definido com seis mulheres e um homem. Enquanto a defesa procurou, sem sucesso, descartar a maioria das juradas, a acusação tentou evitar a participação de homens no júri.

VEJA O O QUE SERÁ APRESENTADO NO JULGAMENTO DOS ACUSADOS

RÉUACUSAÇÃOO QUE DIZ O MPO QUE DIZ A DEFESA
BRUNOResponde pelos crimes de sequestro e cárcere privado, homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáverMentor e mandante da morte de Eliza, ameaçou-a de morte durante a gravidez. O goleiro determinou que Eliza fosse sequestrada e levada a sua casa, no Rio de Janeiro. Acompanhou o deslocamento de Eliza, já sequestrada e ferida na cabeça após receber coronhadas, para MinasNega a existência do crime. Eliza não foi morta porque não há corpo. Anteriormente, havia reconhecido a morte de Eliza, mas sem a participação, concordância ou o conhecimento do goleiro. A atribuição do crime havia sido dada a Macarrão, insinuando que o ex-braço direito nutria um “amor homossexual” pelo jogador
MACARRÃOResponde pelos crimes de sequestro e cárcere privado, homicídio triplamente qualificado, e ocultação de cadáverTambém ameaçou Eliza durante a gravidez e foi o responsável pelo sequestro da moça no Rio de Janeiro. Foi o motorista do carro, com Eliza e o filho, na viagem para Minas Gerais. Dirigiu o veículo que transportou a moça até a casa de Bola. Amarrou as mãos de Eliza e desferiu chutes nas pernas da moçaNão existem provas materiais do crime de homicídio. Ele declarou que, Para evitar “especulações”, não adianta detalhes da estratégia de defesa a ser adotada
BOLA*Responde pelos crimes de homicídio duplamente qualificado e ocultação de cadáverExecutor de Eliza, estrangulou a jovem dentro de casa, em Vespasiano. Esquartejou o corpo da mulher e atirou uma das mãos a cães rottweiler. Foi incumbido de desaparecer com o corpoNega as acusações e afirma que apresentará “prova cabal” aos jurados, durante o julgamento, da inocência de Bola
DAYANNEResponde pelos crimes de sequestro e cárcere privado da criançaParticipou da “vigilância” feita sobre Eliza e o filho no sítio do goleiro em Esmeraldas, apontado pela polícia como o cativeiro de Eliza antes de sua morte. Sabia do plano para matar a ex-amante do jogador. Tentou desaparecer com o filho de Eliza, localizado posteriormente pela polícia em Ribeirão das NevesNega que Dayanne soubesse do plano para matar Eliza, ela apenas cuidou da criança depois de um pedido do ex-marido. Sobrevivência do filho de Eliza se deu graças a Dayanne
FERNANDAResponde pelos crimes de sequestro e cárcere privado de Eliza e do filho delaOutra ex-amante de Bruno, auxiliou Macarrão a manter Eliza dentro da casa do goleiro no Rio antes da viagem para Minas. Cuidou do filho de Eliza nesse período e acompanhou Bruno e Macarrão na ida para Minas. Sabia da intenção do grupo de matar ElizaÉ inocente, não sabia de nenhum plano para matar Eliza. Não presenciou um cenário que remetesse ao crime atribuído a ela. A viagem a Minas Gerais com o goleiro havia sido programada um mês antes do crime. Não notou ferimentos em Eliza
  • * Os advogados do acusado abandonaram o julgamento. Como Bola recusou a indicação de um defensor público, ele deverá ser julgado em outro momento