Em interrogatório, Macarrão nega que tenha sequestrado Eliza Samudio
Durante interrogatório no Tribunal do Júri de Contagem (Grande Belo Horizonte), nesta quarta-feira (21), o réu Luiz Henrique Romão, o Macarrão, negou que tenha sequestrado Eliza Samudio, contrariando o que diz a acusação.
Segundo Macarrão, Eliza estava hospedada no Hotel Transamérica, na zona oeste do Rio de Janeiro, porque tinha ido à cidade a pedido de Bruno, para que ele pudesse conhecer o filho Bruninho.
De acordo com o réu, Eliza estava irritada e fez várias ligações para o seu celular durante 4 de junho de 2010. Ele, então, foi até o hotel para acalmá-la. Macarrão disse que estava acompanhado de Jorge Rosa -- na época, menor, e que confessou à polícia a morte de Eliza.
Ainda de acordo com Macarrão, os dois deixaram o hotel e foram até um restaurante chamado Rosas, que fica próximo ao hotel, para jantar. Lá, encontraram Eliza, que voltou a cobrá-los sobre o dinheiro da pensão, de acordo com o depoente.
Macarrão disse que foi com Eliza até um caixa eletrônico do Bradesco para demonstrar a ela que não havia como sacar R$ 1.500 que ela exigia naquele momento, segundo ele. O réu disse que, na ocasião, conseguiu sacar R$ 800, o que deixou Eliza insatisfeita.
Os três, diz o acusado, entraram na Land Rover de Bruno para levar Eliza de volta ao hotel, mas ela se recusou a voltar para o estabelecimento. “Hora nenhuma eu peguei ela e sequestrei. Ela não queria ir para lá (para o hotel)”.
Briga com o menor
No caminho, ela continuou reclamando da falta de dinheiro, o que irritou o menor. Ele, segundo Macarrão, deu uma cotovelada no nariz de Eliza, que provocou o sangramento que manchou o banco do carro.
“Jorge deu uma cotovelada, ele estava no banco do carona”, disse. “Eu disse a ele: ‘viu o que você fez? Essa mulher vai acabar com a vida do Bruno, cara. Amanhã ela tá na imprensa.”
Segundo a acusação, o sangue encontrado pela perícia no carro era fruto de uma coronhada que o menor efetuou na cabeça de Eliza. “Quero deixar bem claro que eu nunca andei armado. Nunca houve essa fantasia de arma.”
Macarrão disse ter comprado um remédio para Eliza e a levado para a casa de Bruno no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio. "Mas sem ter sequestrado ela", disse. Em seguida, ele diz ter ligado para Fernanda Castro, ré no mesmo processo, por medo de que o primo do goleiro ficasse sozinho com Eliza na casa.
"Em hora nenhuma eu coloquei a Fernanda para vigiar a Eliza ou tomar conta da criança", disse Macarrão, para complementar: "Meu medo era que o Jorge [primo do goleiro] fizesse algo contra ela [Eliza].
Viagem para Minas
Macarrão disse ter convidado Fernanda Castro para ir a Minas Gerais para conhecer os jogadores do time 100%, que era bancado por Bruno, em Ribeirão das Neves (MG). Enquanto Macarrão dirigia a Land Rover, Bruno foi em outro veículo. "Nós sempre viajamos com dois carros", disse.
Antes de partir, o reú afirmou ter ouvido do goleiro Bruno que Eliza teria pedido a ele R$ 50 mil. "Ela não confiava na gente, por isso quis viajar com a gente para pegar o dinheiro", afirmou.
Macarrão afirmou que havia R$ 30 mil no sítio de Bruno em Esmeraldas (MG), dinheiro que seria usado para bancar uma viagem do time 100%. “O Bruno se dispôs a dar esse dinheiro para ela.”
No trajeto do Rio de Janeiro a Minas Gerais, diz Macarrão, eles chegaram a dar carona a um policial e Eliza comprou um energético em um posto. “Como uma pessoa sequestrada faz isso?”
Noite no motel
O depoente disse ter pernoitado em um motel onde ele e Jorge (primo do goleiro) sempre normiam, localizado em Contagem (MG). Lá, Bruno teria dito que iria para a casa da avó, em Ribeirão das Neves (MG). Eliza e o bebê teriam dormido em um cômodo no andar de baixo do quarto do motel. "Eu vim em poucas horas do Rio de Janeiro. Nós tomamos umas cinco multas", disse.
Macarrão disse ter sido acordado, no outro dia, por Eliza dizendo que Bruno queria falar com ele, no celular. "O Bruno queria um quarto no hotel. eu liguei para a recepção e pedi o quarto 25", afirmou, não explicando a razão de Bruno ter voltado ao local após afirmar que iria para a casa da avó.
Luiz Henrique Romão disse ter notado a presença de Sérgio Rosa Salles, outro primo de Bruno, no motel. Ele teria ido ao local no carro de Bruno.
Para o acusado, "por controlar" o dinheiro do goleiro, tinha contra si a ira de Salles e de Jorge, dois primos do ex-goleiro. "Eles me chamavam de puxa-saco, ladrão. Eu não andava com o Sérgio, não andava com o Jorge."
Sítio em Esmeraldas (MG)
Macarrão disse ter levado Eliza para ver um jogo do time 100% no sítio em Esmeraldas (SP) porque queria que os amigos conhecessem seu filho. "Bruno apresentou o Bruninho [filho dele com Eliza] para todo mundo ver. Eu deixei a chave do carro com ela", afirmou.
Depois, o réu disse ter se dirigido a um bar na cidade de Ribeirão das Neves para uma confraternização dos jogadores do time 100%. Na sequencia, diz ter ligado para quatro mulheres, com "quem estava acostumado a ficar" para irem ao sítio de Bruno.
As mulheres dormiram no sítio, onde Fernanda Castro teria passado a noite com o jogador. Já Eliza ocupou um quarto contíguo à churrasqueira, descreveu Macarrão, que teria dormido com uma das garotas, segundo o próprio.
O ex-braço direito de Bruno afirmou ter voltado, no domingo, dia 6 de junho, ao Rio de Janeiro para, devolver um dos carros emprestados ao jogador para a viagem a Minas Gerais e para preparar a festa para o time do 100%, que iria para a cidade para participar de um jogo e um churrasco após a partida.
VEJA O QUE É APRESENTADO NO JULGAMENTO DOS ACUSADOS
RÉU | ACUSAÇÃO | O QUE DIZ O MP | O QUE DIZ A DEFESA |
BRUNO * | Responde pelos crimes de sequestro e cárcere privado, homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver | Mentor e mandante da morte de Eliza, ameaçou-a de morte durante a gravidez. O goleiro determinou que Eliza fosse sequestrada e levada a sua casa, no Rio de Janeiro. Acompanhou o deslocamento de Eliza, já sequestrada e ferida na cabeça após receber coronhadas, para Minas | Nega a existência do crime. Eliza não foi morta porque não há corpo. Anteriormente, havia reconhecido a morte de Eliza, mas sem a participação, concordância ou o conhecimento do goleiro. A atribuição do crime havia sido dada a Macarrão, insinuando que o ex-braço direito nutria um “amor homossexual” pelo jogador |
MACARRÃO | Responde pelos crimes de sequestro e cárcere privado, homicídio triplamente qualificado, e ocultação de cadáver | Também ameaçou Eliza durante a gravidez e foi o responsável pelo sequestro da moça no Rio de Janeiro. Foi o motorista do carro, com Eliza e o filho, na viagem para Minas Gerais. Dirigiu o veículo que transportou a moça até a casa de Bola. Amarrou as mãos de Eliza e desferiu chutes nas pernas da moça | Não existem provas materiais do crime de homicídio. Ele declarou que, Para evitar “especulações”, não adianta detalhes da estratégia de defesa a ser adotada |
BOLA* | Responde pelos crimes de homicídio duplamente qualificado e ocultação de cadáver | Executor de Eliza, estrangulou a jovem dentro de casa, em Vespasiano. Esquartejou o corpo da mulher e atirou uma das mãos a cães rottweiler. Foi incumbido de desaparecer com o corpo | Nega as acusações e afirma que apresentará “prova cabal” aos jurados, durante o julgamento, da inocência de Bola |
DAYANNE * | Responde pelos crimes de sequestro e cárcere privado da criança | Participou da “vigilância” feita sobre Eliza e o filho no sítio do goleiro em Esmeraldas, apontado pela polícia como o cativeiro de Eliza antes de sua morte. Sabia do plano para matar a ex-amante do jogador. Tentou desaparecer com o filho de Eliza, localizado posteriormente pela polícia em Ribeirão das Neves | Nega que Dayanne soubesse do plano para matar Eliza, ela apenas cuidou da criança depois de um pedido do ex-marido. Sobrevivência do filho de Eliza se deu graças a Dayanne |
FERNANDA | Responde pelos crimes de sequestro e cárcere privado de Eliza e do filho dela | Outra ex-amante de Bruno, auxiliou Macarrão a manter Eliza dentro da casa do goleiro no Rio antes da viagem para Minas. Cuidou do filho de Eliza nesse período e acompanhou Bruno e Macarrão na ida para Minas. Sabia da intenção do grupo de matar Eliza | É inocente, não sabia de nenhum plano para matar Eliza. Não presenciou um cenário que remetesse ao crime atribuído a ela. A viagem a Minas Gerais com o goleiro havia sido programada um mês antes do crime. Não notou ferimentos em Eliza |
- * Os advogados de Bola abandonaram o julgamento. Como Bola recusou a indicação de um defensor público, ele deverá ser julgado em outro momento. Bruno também adotou a mesma tática e conseguiu adiar o seu julgamento e de sua ex-mulher Dayanne
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