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Contradições sobre morte de padre após festa intrigam polícia de Novo Hamburgo (RS)

Flávio Ilha

Do UOL, em Porto Alegre

18/12/2012 13h49

O delegado Enizaldo Plentz, da delegacia de Homicídios de Novo Hamburgo (região metropolitana de Porto Alegre), admitiu nesta terça-feira (18) que o padre Eduardo Teixeira, 35, pode não ter sido vítima de latrocínio, como apontam os indícios do crime cometido na noite do último domingo (16) na cidade.

Testemunha do caso, o padre Rafael Barbieri, 37, deu dois depoimentos “com muitas contradições” para a Polícia, segundo o delegado. Teixeira foi morto por volta das 23h50 de domingo, depois de ter sido baleado por supostos assaltantes quando os dois religiosos voltavam de uma festa na vizinha cidade de Estância Velha.

A hipótese de latrocínio perdeu força porque o carro onde estava a vítima, um Corsa, foi encontrado intacto pouco mais de uma hora depois do crime, na cidade vizinha de Campo Bom. Dentro do carro, no assoalho do caroneiro, estava a bolsa usada por Teixeira com objetos pessoais e o celular do padre assassinado.

“Tenho muitas dúvidas sobre a hipótese de latrocínio. Pode ter sido um assassinato, para o qual ainda precisamos descobrir a motivação”, disse o delegado Plentz. Conforme a primeira versão apresentada pelo padre Barbieri ao delegado, os párocos teriam sido rendidos pelos assaltantes, que estavam armados, numa abordagem próxima ao local do crime.

Num segundo depoimento, Barbieri disse que os dois religiosos seguiam para a igreja Nossa Senhora das Graças, no bairro Rondônia, em Novo Hamburgo, mas teriam se perdido no caminho. No bairro Hamburgo Velho, a vítima, segundo a testemunha, pediu informação a dois jovens que se prontificaram a guiá-los até o destino em troca de uma carona.

Socorro

Na rua Barão de Santo Ângelo, a dupla teria anunciado o assalto e obrigado os religiosos a seguirem 30 metros numa trilha por dentro do parque Henrique Luis Roessler – conhecido como Parcão. Teixeira teria tentado pedir socorro, de acordo com a testemunha, quando foi atingido por um disparo no tórax. Apesar de socorrido, o padre não resistiu ao ferimento e morreu a caminho do hospital. 

Amigos há mais de oito anos, Teixeira, que era pároco em Campo Bom, foi acompanhar Barbieri num jantar em comemoração pela nova paróquia do padre, em Novo Hamburgo. “Mesmo conhecendo bem a cidade, eles teriam se perdido em Novo Hamburgo e abordaram os dois desconhecidos na rua numa hora pouco recomendável”, afirmou o delegado Enizaldo Plentz.

Gritos

Barbieri afirmou no depoimento que entregou uma carteira com pouco mais de R$ 100 aos supostos assaltantes. “Mas não sabemos ainda por que o padre tentou voltar correndo para o carro. Ele e um dos assaltantes até teriam chegado a entrar em luta corporal”, completou Plentz. “E nem podemos provar que alguma coisa foi roubada de fato”, completa.

Moradores da região afirmam ter ouvido gritos antes do tiro. Após a fuga dos ladrões, também ouviram o padre Rafael Barbieri tentando reanimar o amigo. Em seguida, a Brigada Militar foi chamada. O veículo foi encaminhado para perícia.

Conforme informações divulgadas pela Mitra Diocesana, Eduardo Teixeira foi nomeado recentemente como titular da paróquia São Jorge, do bairro Campina, em São Leopoldo, e iria assumir o posto no dia 11 de janeiro. Teixeira foi sepultado na segunda-feira (17) no cemitério de Campo Bom.