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Pacientes do SUS relatam caso de expulsão de hospital no Paraná

Campo Mourão está a 460 km de Curitiba - Arte UOL
Campo Mourão está a 460 km de Curitiba Imagem: Arte UOL

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curitiba

14/01/2013 16h45

Pacientes atendidos pelo SUS (Sistema Único de Saúde) no Centro Hospitalar Center Clínica, em Campo Mourão (460 km de Curitiba), denunciaram a um programa de televisão local que foram obrigados a deixar a unidade pelo proprietário, o médico Francisco Fernandes Claudino.

Segundo a denúncia, pacientes ainda sob tratamento foram obrigados a deixar os quartos que ocupavam – alguns ainda estariam recebendo soro quando ouviram a ordem para que saíssem. Em certo momento do vídeo, Claudino discute com o filho de uma paciente e afirma – “sou rico, graças a Deus, não preciso nem de pobre nem de rico”.

“Ele cortou o soro de minha mãe a mandou embora. Agora ela está sentada numa cadeira, tomando o soro. E o médico dela disse que não é possível dar alta”, afirmou Euclides Rosa, filho de uma paciente, na reportagem veiculada na sábado (12).

“Sexta-feira passada fui internado com infecção na perna. Ontem (sexta, 11), chegou o doutor Claudino e disse para eu ir embora, que estava de alta. Me disse para sumir, que já tinha ficado tempo demais ali. Aguardo meu médico chegar para ver qual o procedimento a ser tomado”, afirmou Daniel Ribeiro.

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“Meu fiho estava almoçando, veio o doutor Claudino e mandou todo mundo descer. Comprei um salgado, que meu filho tinha fome, e não me deixaram entrar. Aqui só tem lei pra rico, pra pobre não tem. Mas a doença dá em todos. Eles têm que respeitar o povo”, disse Sebastião Pereira.

Superlotação

Procurada pela reportagem, a direção do hospital indicou o advogado da empresa para dar entrevistas. João Alves da Cruz refutou as reclamações apresentadas na reportagem. “Não houve desalbergamento (sic) de pacientes. Mas, se for necessário um leito de urgência ocupado por um paciente que em breve terá alta, conversa-se com o médico e, se possível, libera-se o espaço.”

“Foi o que houve com a paciente (mãe de Euclides Rosa) que tomava soro. Ela teria alta mais tarde, e o leito dela era necessário para um caso de urgência”, disse. Para o advogado, a causa do problema é o fechamento do pronto-atendimento da Santa Casa de Misericórdia, que também atendia pelo SUS.

“Com isso, tudo desaguou no pronto-socorro do doutor Claudino. Campo Mourão é a maior cidade da região (tem 87.287 habitantes, segundo o Censo 2010). Então, tudo cai aqui. O setor de trauma está ocupando quase todo o hospital”, declarou Cruz.

O advogado viu distorção no trecho da reportagem que exibe Claudino discutindo com pacientes. “A imprensa veicula o que interessa. A pessoa [que aparece discutindo com Claudino, no vídeo] ofendeu todo mundo no hospital. “Para chegar àquele ponto, imagina o tanto de ofensa que ele ouviu antes.”

“De todo jeito, qualquer funcionário do hospital que seja truculento está sujeito a medidas administrativas da empresa, que é maior que qualquer pessoa”, disse o advogado. Segundo Cruz, a administração do Center Clínica “não é realizada apenas pelo doutor Claudino, mas também pelo filho e pela mulher dele.”

“Um pouco grosseiro”

Procurada pelo UOL, a Prefeitura de Campo Mourão informou que o vídeo foi encaminhado à ouvidoria do SUS no município, onde já há denúncias anteriores contra o Center Clínica. Segundo a prefeitura, o hospital presta serviços ao SUS, pagos pelo município, que é gestor pleno do sistema. Não há prazo para a apuração das denúncias.

Também alertado sobre o caso, o CRM/PR (Conselho Regional de Medicina do Paraná) encaminhou o vídeo para a corregedoria do órgão, “para análise e possível abertura de procedimento sindicante”. Um funcionário do CRM/PR, que não quis se identificar, disse ao UOL conhecer Claudino, que definiu como “um pouco grosseiro”.

Autor da reportagem, o advogado Ricardo Borges, que mantém um programa dedicado basicamente a notícias policiais em uma emissora local, disse ao UOL que enviaria as imagens para o Ministério Público e a polícia.