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Após mortes e interdição, exames de ressonância magnética são liberados em Campinas

Fabiana Marchezi

Do UOL, em Campinas

30/01/2013 10h36

Com exceção do Hospital Vera Cruz, onde três pessoas morreram após realizarem ressonância magnética, os outros hospitais e clínicas de Campinas (93 km de São Paulo) já estão liberados para realizarem ressonância e tomografia a partir desta quarta-feira (30), desde que não utilizem nenhum dos sete produtos que foram interditados de forma cautelar na noite de terça-feira (29) pela Secretaria Estadual da Saúde. Também nessa terça, a Secretaria de Saúde do município havia determinado a suspensão dos dois tipos de exame em toda a cidade, com exceção dos casos emergenciais. 

Interditado

  • Divulgação

    Equipamento de ressonância magnética utilizado no Hospital Vera Cruz, em Campinas

Nesta quarta, uma equipe da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ligada ao Ministério da Saúde, iniciou o acompanhamento da investigação da causa da morte dos três pacientes. Cinco técnicos especializados em epidemiologia se reúnem com a Vigilância em Saúde da cidade para trocar informações do que já foi coletado e analisado. Eles também farão uma vistoria nas instalações e estoque do hospital.

Segundo a Anvisa, é possível que a interdição dos lotes dos medicamentos usados nos pacientes se estenda para todo o país. "Provavelmente, esses lotes dos produtos serão recolhidos pelos fabricantes para serem analisados e servirem como prova no futuro", explicou o secretário municipal de Saúde, Carmino Souza. A possibilidade de defeitos no aparelho está praticamente descartada. Os profissionais que atenderam os pacientes também estão sendo ouvidos.

Entre as suspeitas das causas das mortes estão o contraste, composto químico aplicado nos pacientes antes do exame, e o soro fisiológico, aplicado neles após o procedimento. As investigações são conduzidas pelo Departamento de Vigilância Sanitária de Campinas (Devisa), mas na tarde de terça-feira técnicos da Vigilância Sanitária Estadual também passaram a acompanhar os procedimentos a pedido do município.

A Anvisa reforçou que a investigação seguirá sob os cuidados do município e que os técnicos do órgão farão apenas o acompanhamento da apuração para que sejam definidas as diretrizes em âmbito nacional. A possibilidade de ampliar a interdição do lote dos medicamentos a todo o país será avaliada após a visita dos técnicos.

Outro lado

A assessoria da Eurofarma Laboratórios informou que só se pronunciará sobre o assunto após ser notificada da interdição. A Bayer, em nota, disse que ainda não foi notificada oficialmente e que "está disposta a colaborar com as autoridades responsáveis pelas investigações, caso seja solicitada a prestar quaisquer esclarecimentos".

A Samtec informou que não foi notificada oficialmente, mas que também está à disposição para prestar possíveis esclarecimentos. As assessorias dos outros laboratórios não foram encontradas para comentar o assunto.

O caso

Três pessoas, com idades entre 25 e 39 anos, morreram na última segunda-feira (28), após a realização de exames de ressonância magnética no hospital particular Vera Cruz. Após os óbitos, o setor foi imediatamente interditado por tempo indeterminado pela Vigilância de Saúde do município.

A primeira a passar mal foi Mayra Cristina Augusto Monteiro, de 25 anos, que fez o exame e foi liberada. Em casa, ela passou mal e teve de voltar para o pronto-socorro do hospital, onde morreu. As outras vítimas, Manuel Pereira de Souza, de 39 anos, e Pedro José Ribeiro Porto Filho, de 36 anos, morreram logo após a realização da ressonância. Todos realizaram o exame na cabeça e fizeram uso do contraste. Eles tiveram parada cardiorrespiratória. 

Em entrevista coletiva na manhã desta terça (29), o hospital informou que as causas das mortes ainda são desconhecidas. A entidade de saúde aguarda o laudo do Instituto Médico Legal (IML). Outros 83 pacientes realizaram ressonâncias no mesmo dia. Eles foram contatados pelo hospital e informaram que estão bem.

"O que mais intriga é que os exames não constataram nenhum tipo de problema em nenhum dos três pacientes. Não sabemos o que realmente provocou as mortes", disse Gustavo Sergio Carvalho, diretor administrativo do hospital. O caso também está sendo investigado pelo 1° Distrito Policial da cidade.

De acordo com a direção do hospital, a empresa responsável pelos exames é terceirizada e atua no local há 20 anos. Cerca de 1.800 ressonâncias são realizadas por mês, e nenhuma ocorrência deste tipo foi registrada na unidade até hoje. O hospital também informou que está colaborando com os órgãos competentes e que está dando toda assistência aos familiares.

Por recomendação da vigilância, os corpos passaram por autópsia para que as causas das mortes sejam conhecidas. O Instituto Médico Legal (IML) não deu prazo para divulgar os resultados dos exames, que serão divulgados no menor tempo possível.