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Polícia de Campinas (SP) reconstitui mortes após exames de ressonância

Fabiana Marchezi

Do UOL, em Campinas (SP)

06/02/2013 13h28

A Polícia Civil de Campinas (a 93 km de São Paulo) começou na manhã desta quarta-feira (6) a reconstituição dos exames de ressonância magnética que levaram três pessoas à morte no Hospital Vera Cruz. “O objetivo da reconstituição é coletar informações que ajudem a esclarecer o motivo dos óbitos”, disse o advogado Ralph Tórtima, que defende o hospital.

Para ele, a expectativa é de que os trabalhos produzam alguma informação relevante. No entanto, Tórtima afirmou que somente a somatória dos resultados de exames, depoimentos e outros documentos pode apontar o que de fato causou as mortes.

Cerca de 30 pessoas participam da reconstituição, entre elas representantes da Polícia Civil, do Instituto de Criminalística, da Secretaria Estadual de Saúde, do Departamento de Vigilância em Saúde do município e funcionários da clínica responsável pelos exames e do hospital. O Setor de Ressonância continua interditado por tempo indeterminado.

A equipe deve reconstituir desde a chegada dos pacientes ao hospital até o atendimento no pronto-socorro. O diretor do Instituto de Criminalística (IC) de Campinas, Nelson Patrocínio da Silva, disse que o trabalho conta com a participação de médicos, enfermeiros e técnicos em radiologia. "Às vezes a reconstituição é complicada. O término dos trabalhos vai depender do número de versões que teremos", resumiu.

A Ressonância Magnética Campinas, empresa responsável pelo serviço na unidade médica, informou que aguarda a divulgação de resultados de análises feitas pelo Instituto Adolfo Lutz e pelo Instituto Médico Legal.

O delegado José Carlos Fernandes, responsável pelo caso, investiga se as mortes dos pacientes ocorreram por ação dolosa – quando há intenção de matar – de algum funcionário.

Na última sexta-feira (1), Fernandes afirmou que houve pequenas divergências entre os 11 depoimentos dos funcionários da unidade de saúde. O Hospital Vera Cruz informou, por meio da assessoria de imprensa, que não tem conhecimento de indícios que corroborem com a hipótese de crime doloso.

O Ministério Público do Trabalho também está apurando se houve jornada de trabalho abusiva no setor de radiologia do hospital. Na tarde de segunda-feira (4), a unidade médica entregou registros de sete funcionários, entre enfermeiros e técnicos de radiologia que tiveram contato direto com as vítimas.

A assessoria do órgão informou que um procurador avaliará os dados de entrada e saída dos funcionários entre 21 e 28 de janeiro. A partir de então, caso seja verificada alguma irregularidade, um inquérito poderá ser instaurado.

Os resultados dos hemogramas das três vítimas reforçam a possibilidade de intoxicação química. Segundo o secretário da Sáude de Campinas, Carmino de Souza, os resultados apontaram grande redução do número de plaquetas, componente do sangue fundamental no processo de coagulação, e hemólise, que significa a quebra dos glóbulos vermelhos.

O caso

Três pessoas, com idades entre 25 e 39 anos, morreram na última segunda-feira (28), após a realização de exames de ressonância magnética no hospital particular Vera Cruz. Após os óbitos, o setor foi imediatamente interditado por tempo indeterminado pela Vigilância de Saúde do município.

A primeira a passar mal foi Mayra Cristina Augusto Monteiro, de 25 anos, que fez o exame e foi liberada. Em casa, ela passou mal e teve de voltar para o pronto-socorro do hospital, onde morreu. As outras vítimas, Manuel Pereira de Souza, de 39 anos, e Pedro José Ribeiro Porto Filho, de 36 anos, morreram logo após a realização da ressonância. Todos realizaram o exame na cabeça e fizeram uso do contraste. Eles tiveram parada cardiorrespiratória.

O caso veio à tona na manhã de terça-feira (29), desde então, uma comissão investiga as causas das mortes. Outros 83 pacientes realizaram ressonâncias no mesmo dia. Eles foram contatados pelo hospital e informaram que estão bem.

"O que mais intriga é que os exames não constataram nenhum tipo de problema em nenhum dos três pacientes. Não sabemos o que realmente provocou as mortes", disse Gustavo Sergio Carvalho, diretor administrativo do hospital, na ocasião.

De acordo com a direção do hospital, a empresa responsável pelos exames é terceirizada e atua no local há 20 anos. Cerca de 1.800 ressonâncias são realizadas por mês, e nenhuma ocorrência deste tipo foi registrada na unidade até hoje.

Por recomendação da vigilância, os corpos passaram por autópsia para que as causas das mortes sejam conhecidas