Defensor vê "inversão de ordem" no inquérito e irá pedir liberdade de médica
O advogado criminalista Elias Mattar Assad disse, nesta quarta-feira (20), que irá pedir a liberdade da diretora médica da UTI (unidade de terapia intensiva) do Hospital Evangélico, Virginia Helena Soares de Souza, “com base na ausência de provas de materialidade”.
“A ordem lógica [num inquérito policial] é investigar, colher provas de materialidade e autoria, e depois promover prisões. Aqui [no caso do Evangélico] houve o inverso”, disse, referindo-se à prisão preventiva da médica, que para a polícia é suspeita de “antecipar as mortes” na UTI geral do segundo maior hospital de Curitiba.
“A autoria ela nega. E a materialidade é um laudo que atribui uma morte a uma causa humana. Isso não vai existir, as mortes [ocorridas na UTI] estão atestadas por outros médicos. E como agora, anos depois, se vai mudar isso? Exumando um cadáver? Com todo o respeito, acho uma prova impossível de ser feita”, disse.
No fim da tarde, o advogado obteve decisão judicial que o permitiria, pela primeira vez, ter acesso a cópia do inquérito, que está sob sigilo a pedido da polícia. Até então, Assad só fora autorizado a ler o material no fórum.
Advogado atribui denúncias a “tensão interna no hospital”
Assad atribuiu as denúncias à médica, que foram o estopim da investigação iniciada há um ano e que culminou na prisão preventiva dela nesta terça (19), à “tensão interna” no Evangélico.
“Há uma transição entre duas diretorias. É público e notório que há uma crise de gestão, atrasos de salários, ameaças de greve. Existem duas facções de funcionários lá dentro, os mais antigos e mais novos, em 'guerra fria'. Essa grande tensão interna pode ter feito aflorar ressentimentos com relação à médica”, afirmou.
A reportagem encaminhou o argumento do advogado à assessoria de imprensa do hospital, que não havia respondido até o fechamento deste texto, às 17h15.
A instituição
Inaugurado em 1959, o Evangélico é o maior hospital particular do Paraná. O prédio, localizado no Bigorrilho, bairro de classe média alta de Curitiba, tem 43.694 metros quadrados e atende a mais de um milhão de pacientes por ano, segundo o site do hospital, que é unidade de referência no atendimento a queimados.
Nos últimos anos, o Evangélico enfrenta dificuldades administrativas que levaram funcionários a paralisarem as atividades por diversas vezes – todas elas por atrasos no pagamento de salários, admitidos pela Sociedade Evangélica Beneficente de Curitiba, mantenedora do hospital. A última paralisação ocorreu na semana passada.
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