Bolsonarismo explora sucesso de Frei Gilson para ganhar força com católicos
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O bolsonarismo tenta se associar a um frei popstar para avançar sobre os católicos. A ofensiva conta com ferramentas testadas e aprovadas com os evangélicos: se vender como defensor do cristianismo e dos valores cristãos.
O que aconteceu
O frei Gilson reuniu 1 milhão de espectadores em uma live no início da Quaresma. O horário não ajudava, já que ela acontecia às 4h. Mas os números mostram a popularidade do religioso: são 7 milhões de seguidores nas redes sociais e 6,4 milhões no YouTube.
A dimensão da live chamou a atenção de militantes políticos. Trechos de outras missas foram recuperados. "Essa é uma fraqueza da mulher, ela sempre quer ter mais [...] Ela nasceu para auxiliar o homem", diz o frei em um dos cortes.
Internautas de esquerda criticaram, enquanto políticos de direita viram uma oportunidade. Afirmaram que mais uma vez estava comprovado que a fé cristã é apedrejada pela esquerda.
Eu tava só vendo o povo iludido com esse Frei Gilson. Sempre soube que era bolsonarista. Essa raça de gente não presta. E o povo acordando 4h da manhã pra rezar com ele.
? Bianca Archanjo (@bia_archanjo) March 9, 2025
A direita saiu em defesa do frei Gilson. Jair Bolsonaro (PL) declarou que o religioso é atacado por se apresentar como um "fenômeno em oração". O deputado Evair de Melo (PP-ES) protocolou ontem um pedido de uma moção de aplausos ao religioso.
Nikolas Ferreira (PL-MG) igualou evangélicos e católicos. O deputado se adiantou a reclamações de evangélicos ao ressaltar que todos são cristãos e sugerir que sofrem o mesmo tipo de "preconceito". Na sequência, se solidarizou e buscou a simpatia dos católicos, ao dizer que servir a Deus pode obrigar um fiel a ser mártir.
Obviamente, sem nenhuma surpresa, começaram diversos ataques. Para quem é cristão, não foi nada mais natural você ser atacado por servir a Cristo.
Deputado Nikolas Ferreira (PL-MG)
Esquerda errou, diz Janones
A esquerda mordeu a isca, na avaliação de André Janones (Avante-MG). O deputado criticou a reação de militantes da esquerda nas redes sociais por abrir margem para a direita avançar sobre os católicos.
Ele afirmou ao UOL que seguir um influenciador não significa partilhar todos os seus posicionamentos. "As pessoas que seguem o frei nem sempre concordam com tudo, mas, quando você diz que ele manipula, isso ofende os fiéis".
O deputado defende que religião e política não devem ser misturadas. "Cada um tem que se preocupar com seu quadrado. Posso criticar no grupo do meu WhatsApp, porque não sou deputado o tempo todo. Mas esse debate não veio no bojo de um projeto, de uma discussão do Congresso".

Contra a instrumentalização da fé
O presidente da Frente Parlamentar Católica criticou a polarização. "O que o Bolsonaro falou, o que o Lula falou, nós não estamos preocupados com isso", disse o deputado federal Luiz Gastão (PSD-CE).
O parlamentar falou que o foco da frente é aprovar leis cristãs. Ele ressalta que o grupo é formado por deputados de diferentes partidos que defendem esse público no Congresso. O que une os deputados são as bandeiras, e não a filiação partidária.
Gastão se solidarizou com o Frei Gilson. O deputado declarou que ele não fez nada além de professar a palavra de Deus e vivenciá-la. "A palavra do frei Gilson é a palavra de Deus", completou o presidente da frente.
Erro estratégico da esquerda
Parlamentares evangélicos consideram a situação benéfica para a direita. O senador Magno Malta (PL-ES) disse que a esquerda cria resistências entre os católicos ao criticar um frei, figura vinculada à virtude e à fé.
Ele aproveita o episódio para afirmar que ficou claro quem defende o cristianismo. Malta ponderou que as manifestações de apoio a um religioso ganham projeção quando um lado tenta destruir a reputação de um frei.
Integrante influente da bancada evangélica, Eli Borges afirmou que houve "igrejofobia". O deputado aponta que os militantes de esquerda manifestaram falta de compatibilidade com as religiões e iniciaram uma campanha de cancelamento nas redes sociais, algo que aumenta o fosso entre cristãos e a esquerda.
Ele declarou que parlamentares religiosos não têm político de estimação. Mas acrescentou que, ao atacar um frei que prega valores cristãos, a esquerda reforça a posição de que defende o aborto e outras pautas reprovadas por evangélicos e católicos.
Pesquisas de intenção de voto mostram que Bolsonaro tem maior força no campo evangélico do que no católico. Não à toa, o ex-presidente teve facilidade durante a campanha da reeleição para visitar igrejas evangélicas pelo país para pedir voto ao lado de Michelle Bolsonaro (PL).
Ele também conta com aliados evangélicos influentes. No domingo, Bolsonaro faz manifestação no Rio e subirá num carro de som contratado por Silas Malafaia. O pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo é a pessoa que organiza os atos políticos do ex-presidente.
A direita tenta ganhar força entre os católicos em momento de queda de aprovação de Lula. Em meio a uma diminuição geral da aprovação do presidente petista, o último Datafolha mostra que o governo sofreu um baque neste eleitorado: de 42% para 28%.
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