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Gravação aponta falha em atendimento dos Bombeiros em incêndio no Leblon

Bombeiros inspecionam o apartamento do desembargados Ricardo Damião Aerosa, no bairro do Leblon - Fernando Quevedo/Agência O Globo
Bombeiros inspecionam o apartamento do desembargados Ricardo Damião Aerosa, no bairro do Leblon Imagem: Fernando Quevedo/Agência O Globo

Julia Affonso

Do UOL, no Rio de Janeiro

16/03/2013 14h16

O Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro investiga se a corporação falhou no combate ao incêndio que causou a morte do desembargador Ricardo Areosa, 57, e de sua mulher, a advogada Cristiane Teixeira Pinto, 33, no Leblon, zona sul da capital fluminense, no começo do mês.

Um áudio das ligações gravadas de pedido de socorro aos Bombeiros obtido pelo “RJTV”, da TV Globo, na sexta-feira (15), mostra que houve problemas no atendimento do telefone da corporação (193) e na comunicação dos Bombeiros com a CEG (Companhia Estadual de Gás) quando os agentes tentavam cortar a distribuição ao apartamento para evitar que o fogo se propagasse.

Segundo o telejornal, a primeira ligação para os Bombeiros partiu da vizinha Michele Hayashi, que mora em frente ao prédio do casal, às 23h10, para a Central 193.  As ligações mostram que os bombeiros demoraram cerca de 20 minutos para chegar ao prédio, que fica a cerca de 2 km do quartel, pois o telefone 193 aparentemente não repassou o pedido de socorro da jovem ao quartel responsável, o da Gávea.

Às 23h24, o grupamento de busca e salvamento da Barra, zona oeste, avisou ao Quartel da Gávea sobre o pedido de socorro de Michele. Ela contou ainda que o socorro só chegou às 23h37. A unidade da Gávea, responsável pelo atendimento, demorou 21 minutos para entrar em contato com a unidade de Copacabana para pedir a escada Magirus.

Casal morre ao fugir do fogo

  • O casal Cristiane Teixeira Pinto, 33, e Ricardo Damião Areosa, 57, vítima do incêndio

Além disso, o Corpo de Bombeiros teve dificuldades de comunicação com a CEG e se deparou com uma gravação de telemarketing quando entrou em contato para que o gás do apartamento fosse cortado. A demora para falar com a atendente foi de quase 20 minutos, e o prazo de uma hora foi dado para fazer o corte de gás.

Procurada, a assessoria do Corpo de Bombeiros informou que foi pega de surpresa com a divulgação do áudio que mostra as ligações entre os quartéis dos bombeiros e da corporação para a CEG e que não tem acesso ao material.

À época, o Corpo de Bombeiros informou em nota que a solicitação de socorro foi registrada às 23h24 no quartel da Gávea e a guarnição chegou ao local às 23h30, o que confere com o áudio obtido pela TV Globo.

De acordo com os militares, quando a equipe chegou, o casal já havia saltado pela janela do apartamento. Segundo os Bombeiros, a porta blindada do imóvel --com quatro fechaduras-- dificultou o acesso. A corporação também informou que, apesar da inoperância do hidrante, não faltou água para o combate ao incêndio, pois foi captada água no prédio vizinho.

Já os vizinhos do casal relataram que os Bombeiros teriam chegado ao local apenas 35 minutos depois do incêndio. Houve relatos ainda de que os hidrantes da rua estavam sem água no momento do incêndio, outra linha de investigação da polícia que já havia sido confirmada pelos Bombeiros.

Vizinhos dizem que bombeiros estavam sem escada apropriada

O desembargador e a mulher morreram na noite do dia 3 de março, depois de pularem do apartamento onde moravam para escapar do incêndio. O casal morava na cobertura de um prédio de quatro andares e não conseguiu abrir a porta. Eles saltaram de uma altura de cerca de 15 metros, pela janela da área de serviço.

Areosa caiu em cima de um muro e morreu imediatamente. Cristiane atingiu o toldo de um prédio vizinho e chegou a ser socorrida com vida, mas morreu no Hospital Miguel Couto, vítima de traumatismo craniano.

Um dia após a morte, o Corpo de Bombeiros decidiu substituir o comandante do quartel da Gávea, capitão José Carlos Constantino, pelo tenente-coronel Renato Gomes, que comandava o quartel de Ricardo de Albuquerque, zona norte da cidade, e disse que a troca não teria relação com o caso.

Investigações

No dia 7 de março, a delegada Flávia Monteiro, da 14ª DP (Leblon), responsável pelas investigações do caso, recebeu o laudo da perícia do incêndio. O documento indicou que a causa do incêndio foi um curto-circuito na fiação da sala do casal. Segundo ela, testemunhas começariam a ser ouvidas no mesmo dia.

A Polícia Civil também está investigando se se o Corpo de Bombeiros falhou no atendimento ao casal. Segundo a assessoria de imprensa da polícia, a porta de entrada do apartamento do casal não era blindada, e sim, "reforçada".

Areosa era desembargador do Tribunal Regional do Trabalho, formado pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e autor de cinco livros, dentre eles "Processo do Trabalho - Teoria Geral do Processo Trabalhista e Processo de Conhecimento", publicado em 2009.

Santa Teresa

Na terça-feira (12), um carro do quartel do Corpo de Bombeiros de Santa Teresa, região central do Rio de Janeiro apresentou um problema quando se encaminhava para um atendimento no mesmo bairro. Segundo a corporação, não se sabia à época qual havia sido o problema da viatura e a resposta sairia após o carro ser vistoriado na oficina dos bombeiros.

Assim que o carro deu defeito, o Quartel Central da corporação foi acionado para apagar o incêndio em Santa Teresa, chegando ao local quatros minutos depois de ter chamado, na rua Costa Barros, 100. Testemunhas relatam, porém, que o socorro demorou cerca de 30 minutos para chegar. Durante a varredura no imóvel incendiado, que acontece na fase de rescaldo, os militares encontraram um corpo carbonizado sem identificação.