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Polícia admite participação de policiais na morte de jornalistas no Vale do Aço (MG)

Rayder Bragon

Do UOL, em Belo Horizonte

19/04/2013 17h41Atualizada em 19/04/2013 20h48

A cúpula da Polícia Civil de Minas Gerais admitiu, nesta sexta-feira (19), a possibilidade da participação de policiais civis e militares na morte de dois jornalistas ocorridas recentemente em duas cidades do Vale do Aço, na região leste do Estado. A informação é do chefe da Polícia Civil de Minas, Cylton Brandão da Matta, que está na cidade de Ipatinga (217 km da capital mineira), onde foi assassinado a tiros, em março deste ano, o jornalista Rodrigo Neto de Faria, 38.

Jornalista é morto em Minas Gerais

"Os assassinatos ocorridos nos últimos anos No Vale do Aço podem ter o envolvimento de policiais civis e militares, como indicam as investigações da Polícia Civil de Minas Gerais", informa nota divulgada pela assessoria de imprensa da polícia. No mesmo texto, Matta descartou a possibilidade da existência de um grupo de extermínio na região, mas adiantou o surgimento nos próximos dias de “novidades às investigações que estão atacando na raiz problemas antigos e causadores de intranquilidade para a população”. 

Logo após a divulgação da nota, a Polícia Civil de Minas Gerais afirmou, por meio de outro informe, que dois policiais civis, cujos nomes não foram informados, foram presos suspeitos de envolvimento em crimes em Ipatinga (MG) e outras cidades da região do Vale do Aço. As prisões temporárias foram decretadas pela Justiça. No entanto, a polícia não informou se a dupla tinha envolvimento com morte dos jornalistas.  

Em seguida à morte de Neto de Faria, o repórter fotográfico Walgney Carvalho, 43, foi assassinado a tiros no último domingo (14), em um bar na cidade de Coronel Fabriciano (198 km de Belo Horizonte). Ele e Rodrigo Neto de Faria trabalhavam na editoria de polícia do jornal “Vale do Aço”. As duas cidades ficam na região do Estado conhecida como Vale do Aço.

Reportagens investigativas

Rodrigo Faria era autor de reportagens investigativas sobre aos menos 14 homicídios registrados nos últimos anos na região e que não foram elucidados.

Já Carvalho seria uma das testemunhas sobre a morte do colega e prestava depoimentos sobre o assassinato à polícia.

Na cidade de Ipatinga, foi criado por jornalistas o Comitê denominado “Rodrigo Neto’, para acompanhar a investigação da polícia sobre a morte do jornalista e exigir mais segurança.

O governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB), chegou a admitir a existência de uma organização criminosa agindo na região, mas não citou o envolvimento de policiais.

O chefe da Polícia Civil de Minas Gerais também anunciou a mudança de comando da corporação no Vale do Aço.

O delegado regional de Ipatinga, Gilberto Simão de Melo, será substituído pela delegada Irene Angélica Franco e Silva Guimarães. Ainda conforme a assessoria da Polícia Civil, o delegado-corregedor Élder Dângelo passa a acumular a chefia do 12º Departamento, que coordena os trabalhos de seis delegacias regionais, responsáveis por mais de 90 cidades.

Matta não associou a saídas dos delegados substituídos com alguma suposta ineficiência na elucidação das mortes.

"Os dois delegados que estão saindo deixam os cargos com mérito, mas a chegada dos novos chefes vai marcar uma nova fase da Polícia nesta região. A vinda do delegado-corregedor, mesmo que interinamente, dá a dimensão das mudanças que estamos fazendo e sinaliza claramente a nova fase que estamos iniciando”, afirmou em nota o chefe da polícia.

Reportagem de hoje do jornal Folha de S.Paulo traz a informação que jornalistas estão com medo de trabalhar no jornal onde os dois profissionais estavam e em outros da região.

“Nunca recebemos nenhum pedido de proteção para jornalistas. Mas se algum profissional achar necessário, pode procurar nossos policiais aqui. Podem me acionar em Belo Horizonte, estamos à disposição. Vamos tomar as providências e acionar também a estrutura que o governo do Estado dispõe, junto à Secretaria de Desenvolvimento Social, para proteger testemunhas”, finalizou a nota com a declaração de Matta.

A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República acompanha o caso.