Topo

Com a legalização de casamento, Parada Gay de SP foca violência e "fundamentalistas"

Gil Alessi

Do UOL, em São Paulo

01/06/2013 06h00

Os participantes da 17ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, conhecida como Parada Gay, têm motivos para comemorar e também se preocupar quando forem para a avenida Paulista, região central de São Paulo, neste domingo (2). Nunca desde sua primeira edição, em 1996, os homossexuais tiveram tantos direitos no país quanto agora, com a legalização do casamento gay pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Por outro lado, a violência homofóbica e a escolha do pastor Marco Feliciano (PSC-SP), defensor da ‘cura gay’, para presidir a CDH (Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara) preocupam militantes.

"Com a decisão do CNJ, um casal homossexual passa a ter os mesmos direitos de um par heterossexual em relação à pensão, herança e adoção. É um avanço", afirma Maria Berenice Dias, advogada especialista em direito homoafetivo e vice-presidente do IBDFAM (Instituto Brasileiro de Direito da Família), uma das organizações responsáveis pelo pedido feito à Justiça para que emitisse a resolução.

Telefones úteis

NÚMERO DO TELEFONEÓRGÃO
100Disque Denúncia - Exploração sexual de crianças e adolescentes
156Prefeitura - Informações, reclamações, itinerários de ônibus
181Disque Denúncia - Combate à violência e prevenção ao crime
190Polícia Militar
192SAMU – Remoção de doentes (ambulância)

“Mas se por um lado o poder judiciário consegue avançar no campo dos direitos, não existem leis que punam a homofobia. É uma omissão covarde do legislador”, afirma Berenice. Os crimes homofóbicos seguem assolando a comunidade gay: de acordo com levantamento do Grupo Gay da Bahia, um dos mais antigos do Brasil, fundado em 1982, um homossexual é assassinado a cada 28 horas no país.

Para Nelson Matias Pereira, diretor institucional da APOLGBT (Associação da Parada do Orgulho LGBT), “o maior desafio ainda é a violência, que começa em casa e que está institucionalizada na escola. A violência contra o LGBT não é só o extremo, da agressão física, são todas as pequenas discriminações que ele sofre ao longo da vida, desde a infância”.

Segundo relatório da secretaria de Direitos Humanos da presidência, de janeiro a dezembro de 2011 foram denunciadas 6.809 violações de direitos humanos contra homossexuais, com 278 homicídios registrados.

Pastor polêmico

A eleição de Marco Feliciano, pastor da Igreja Assembleia de Deus há 14 anos, para presidir a CDH foi outro fato marcante para a comunidade LGBT. Criticado por entidades ligadas aos direitos humanos por acusações racistas e homofóbicas, o deputado é defensor da ‘cura gay’ (desde 1990 a Organização Mundial de Saúde não considera a homossexualidade uma doença).

“O fundamentalismo evangélico é outro grande problema, que coloca em risco não apenas as conquistas da população LGBT mas as conquistas da democracia. É um perigo a todos. Caminhamos para um grande retrocesso caso a sociedade não abra o olho”, diz Pereira.

Feliciano afirmou que foi “mau interpretado”, e que seu pensamento “reflete o da maioria dos brasileiros, que não tem voz para falar”.

“A bancada evangélica esta tomando conta do nosso Congresso Nacional. Eles são organizados e ocupam os espaços. É um crescimento assustador. Eles se aliam com outras bancadas conservadoras, como a ruralista e a católica, e impedem a aprovação de projetos positivos para a comunidade LGBT”, afirma Berenice.

Um dos trios elétricos que participarão do desfile da Parada do Orgulho LGBT deste ano terá protestos contra os deputados federais Marco Feliciano (PSC-SP) e Jair Bolsonaro (PP-RJ), e o pastor evangélico Silas Malafaia, além de outras pessoas que agem contra os direitos dos homossexuais.