Loja de carros "abandona" filial de R$ 20 milhões em frente ao Mineirão
Carlos Eduardo Cherem
Do UOL, em Belo Horizonte
24/06/2013 18h57
O grupo Hyundai Caoa retirou veículos e equipamentos de sua loja na Pampulha nesta segunda-feira (24). A filial se localiza em frente ao Mineirão, na capital mineira. O motivo é o clima de insegurança por conta dos protestos agendados para a próxima quarta-feira, quando o Brasil deve enfrentar o Uruguai na Copa das Confederações.
“Não estamos fechando. Estamos tirando o que pode ser retirado e abandonando a loja. Fica entregue pra Deus”, afirmou o diretor regional do grupo Vagner César Santos, enquanto determinava aos empregados para que recolhessem tudo o que fosse possível do estabelecimento.
“Não podemos colocar tapumes porque eles serão incendiados e a situação pode ser ainda pior. Não tem jeito. Temos de sair e deixar tudo aí”, diz Santos.
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O grupo Hyundai Caoa, investiu R$ 20 milhões na loja inaugurada em 2007 na capital mineira. A concessionária fatura R$ 3 milhões por mês.
Prejuízo de mais de R$ 1 milhão
Destruída no início da noite de sábado (22), durante os tumultos na porta do estádio, o diretor estima que o prejuízo material tenha superado R$ 1 milhão.
Protestos continuam
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“Isso somente com a loja e os 20 automóveis danificados”, afirmou. Os veículos, explica, têm preços variando entre R$ 66 mil (o modelo HR) e R$ 90 mil (IX 35). “O pior são 20 funcionários, pais de família, parados durante 40 dias em casa”, disse. “Eles vivem de comissão. Dependem da venda”.
O gerente da concessionária Ronaldo Aggio também está desolado. “Cheguei aqui ainda na madrugada de domingo (23). Chorei muito quando vi o que aconteceu. Estou desmoralizado. Esses meninos prejudicaram quantas famílias? Eles devem ser tratados pelo que são: bandidos”, afirmou Aggio.
A loja, instalada na confluência das avenidas Antônio Carlos e Abraão Caram, à sombra do viaduto José Alencar, de onde caíram três pessoas nos tumultos do fim de semana, comercializava cerca de 60 automóveis Hyundai. “Quarta-feira (26) quero estar longe daqui”, disse o gerente.
“E se não conseguir segurar”
A dona de casa Walkíria Silva Cunha mora na alameda das Princesas em frente ao Mineirão. Sua casa fica a 20 metros de uma das barreiras montadas pela polícia para impedir o acesso ao Mineirão.
“Estou segura aqui porque a polícia montou a barreira e ninguém pode passar. Mas também, se tiver invasão, eles vão invadir mesmo. Isso não tem jeito. É muita gente”, afirmou Walkíria Cunha. A alameda das Princesas fica a cerca de 200 metros do hall da entrada principal do estádio.
Matheus César Rodrigues, 20, é analista de gestão da empresa de logística Fleet, localizada na avenida Abraão Caram, em frente ao Mineirão. Ele não vai trabalhar na quarta-feira (26), dia do jogo Brasil x Uruguai no estádio. Foi dispensado. Vai para a manifestação.
“Entendo a posição da PM (Polícia Militar) em cercar o Mineirão. Mas a manifestação não tem o objetivo de invadir. É segurar o pessoal lá dentro. O objetivo é cercear para que ninguém entre ou saia”, afirma o analista de gestão
Qual deve ser o principal tema dos próximos protestos no Brasil?
O colega de empresa, também na mesma função de analista de gestão, Vinícius Medeiros, 27, não participou ainda de nenhuma manifestação. Mas na de quarta-feira (26), ele vai.
“Não sou a favor do vandalismo. Fazer gracinhas. Roubar e satisfazer o ego de revolucionário. Dar uma de Che Guevara. Mas eu vou. A polícia é que deve focar nas pessoas que estão fazendo o vandalismo”, afirma Medeiros.
Mônica Soares é funcionária do departamento financeiro da Fundação Mendes Pimentel, ligada à UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), instalada também na avenida Abraão Caram, em frente ao estádio.
“Tem nada não. Eu não vou estar aqui (na quarta-feira (26). Não vamos abrir e moro longe”, diz a funcionária.
“Por motivo de vandalismo”
A agência Pampulha do BB (Banco do Brasil) na avenida Antônio Carlos, ao lado do Mineirão, está fechada. Nesta segunda-feira (24), operários colocavam tapumes para proteger a fachada da agência depredada nos distúrbios do fim de semana. As filiais do Mercantil e Itaú, no mesmo quarteirão, também estão fechadas com tapumes. Também foram destruídas nos conflitos.
A maioria do comércio no entorno do estádio fecha as portas na quarta-feira (26), a exemplo do que foi feito nas últimas manifestações. Os que se anteciparam ao fechamento, a exemplo dos bancos e concessionárias de veículos, foram depredados anteriormente.