MP pede a jurados do Carandiru que livrem PM de "maus policiais"
Janaina Garcia e Gabriela Fujita
Do UOL, em São Paulo
02/08/2013 14h08
O promotor do caso Carandiru, Fernando Pereira da Silva, pediu nesta sexta-feira (2) ao final da fase de debates que os jurados condenem os 25 policiais militares acusados da morte de 52 presos como forma de livrar a corporação "dos maus policiais".
“Bons policiais dão sua vida pelo cidadão, mas maus policiais cometem arbitrariedades e plantam provas”, disse Silva durante o júri que acontece nesta sexta-feira (2) no Fórum Criminal da Barra Funda (zona oeste de SP). A sentença deve ser lida de madrugada.
Silva citou trecho de relatório da própria PM, feito à época do massacre na Casa de Detenção, em que a operação dos PMs no presídios havia sido classificada como “perfeita”.
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“Será a PM esta instituição perfeita que não admite desvio de conduta [como colocado, durante os interrogatórios, pelos réus]?”, indagou. “Essa não é a polícia que nós conhecemos e que nós vemos no dia a dia. Será que é isso que a sociedade espera de uma ação perfeita?”
Para o promotor, a alegação de perfeição da PM “faz com que aquele mau policial tenha uma sensação de estar acima do bem e do mal e possa tirar a vida de um ser humano”, defendeu.
“Essas vítimas [os presos do Carandiru] cometeram crimes, mas não estavam sujeitas à pena de morte”, disse, para sugerir que os jurados têm a atribuição de “escrever uma página na história do país e dar uma resposta aos organismos internacionais”.
“A ONU elogiou a decisão do primeiro julgamento e aguarda com preocupação os desdobramentos deste”, enfatizou.
No final do primeiro júri, em abril deste ano, a advogada dos réus, Ieda Ribeiro de Souza, disse após a condenação dos 23 PMs que o resultado "não era o que a sociedade esperava". Ali, o julgamento havia sido por 13 mortes ocorridas no segundo pavimento do pavilhão 9 do Carandiru.
O promotor ironizou a forma como alguns réus se portaram durante o interrogatório –ele citou o caso do tenente-coronel Salvador Madia, tenente à época do massacre e ex-comandante da Rota entre 2011 e 2012.
Na avaliação de Silva, a abordagem de Madia às perguntas da defesa –que focou a atuação da Rota nos dias atuais –virou uma espécie de “talk show”.
“Virou uma entrevista de Jô Soares [apresentador de TV da Rede Globo], um verdadeiro talk show”, disse o promotor. Ao avaliar o que foi dito pelo tenente-coronel Madia, o promotor disse que os réus presenciaram um “discurso político de defesa da instituição que serve para lavar a honra da Polícia Militar”.