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Livro censurado pela Justiça revelava em 2010 "erro" em tese de esganadura em Isabella

O casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, condenados pela morte de Isabella - Folhapress
O casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, condenados pela morte de Isabella Imagem: Folhapress

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

08/08/2013 16h38

A tese levantada nesta quinta-feira (8) pela defesa do casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá --pai e madrasta da menina Isabella, morta em 2008-- de que a criança de cinco anos não foi esganada era uma das revelações do livro “A Morte de Isabella Nardoni – Erros e Contradições Periciais", do médico-legista George Sanguinetti, que fez uma perícia paralela à época.

O livro, porém, nunca foi publicado porque a Justiça paulista negou a publicação. “Sou o único escritor censurado antes de publicar. Isso porque há erros absurdos na perícia paulista”, disse, afirmando que nunca recorreu da decisão.

Nesta quinta-feira, o jornal “Estado de S. Paulo” levantou novamente a tese de não haver esganadura ao publicar reportagem com base no laudo do diretor do Instituto de Engenharia Biomédica da George Washington University, James K. Hahn, apontando que as marcas no pescoço da menina não foram feitas por mãos humanas.

A esganadura foi uma tese defendida pela promotoria, que acusou a madrasta de tentar enforcar Isabella antes de a menina ser jogada pelo pai do 6º andar do edifício London na noite do dia 29 de março de 2008.

Censurado

  • Beto Macário/UOL

    O médico legista George Sanguinetti diz que Isabella não foi esganada

Revelação antiga

Em 2010, Sanguinetti deu entrevista ao UOL e explicou que as marcas no pescoço foram provocadas por embolia pulmonar, causada pós-queda do edifício. “Se tivesse ocorrido esganadura, haveria escoriações, ou seja, marcas de unhas, arranhões e mudanças na coloração. No exame do cadáver no IML não foi descrita nenhuma lesão do pescoço.”

Nesta quinta-feira, o médico-legista coronel aposentado conversou novamente com a reportagem e disse ter ficado feliz com a comprovação de sua tese, que acabara sendo descartada pela defesa.

“É bom saber que estou velho, mas o raciocínio está bom ainda. Fico feliz em saber da confirmação desse erro de dizer que houve esganadura. Foram muitos erros”, disse Sanguinetti. Sem fugir das polêmicas, ele voltou a defender a tese de que existem erros primários no laudo oficial, usado para condenar o casal --O pai pegou 31 anos de prisão, e a madrasta, 26 anos e oito meses.

“Disseram que Isabella quebrou o braço e a bacia ao ser jogada no assoalho do apartamento pelo pai, e é impossível. Os corpos em queda livre se comportam como no vácuo, não mudam de posição. As fraturas vieram pela queda do prédio”, disse. “Outro erro grave é de que Ana Jatobá feriu a menina com a chave dentro do carro. Ora, se foi um ferimento feito na vertical, o sangue iria descer, e claro que a roupa dela estaria suja, a roupa do pai --que teria carregado a menina nos braços-- também estaria.”

Pedofilia

A tese de Sanguinetti, que volta a ser debatida agora, não foi usada pela defesa durante o julgamento. Segundo o legista, a explicação é simples: ele não descarta a possível participação dos Nardoni, o que poderia complicar ainda mais o casal. Isso porque ele aponta que a menina tinha marcas de violência sexual.

Segundo ele, o laudo feito pela polícia paulista aponta para quatro lesões na área genital de Isabella, que "provariam" o abuso sexual instantes antes da queda. "São sinais claros da síndrome da criança abusada sexualmente. Se as lesões descritas fossem consequência do impacto do corpo sobre galhos e folhagens da palmeira no momento da queda, haveria na calcinha e na calça perfurações, roturas indicativas. A calcinha e a calça estavam íntegras."

O médico ainda fecha o livro apontando para o "erro crucial" das investigações. "O erro mais grave, entre tantos, foi não realizar de imediato o exame das unhas do casal. A existência ou não de material orgânico de Isabella definiria a culpa ou inocência deles", disse, citando que “se querem saber quem matou Isabella, procurem o pedófilo”.