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Investigação está toda torta, diz irmã de Tayná

Tayná desapareceu em 25 de junho, após avisar a mãe que estava voltando para casa - Reprodução/CGN
Tayná desapareceu em 25 de junho, após avisar a mãe que estava voltando para casa Imagem: Reprodução/CGN

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Colombo (PR)

11/08/2013 06h00

Um mês e meio após o assassinato de Tayná Adriane da Silva, 14, em Colombo (região metropolitana de Curitiba), a família da adolescente exibe um sentimento que vai da decepção à revolta com o trabalho da polícia na investigação do crime.

“Como a investigação está toda torta, eles [a polícia] não têm resposta para nada”, disse Márcia Fernanda da Silva, 29, irmã mais velha de Tayná, que se tornou uma espécie de porta-voz da família.

“A polícia não nos fala nada. Diz que [investigação] está em segredo de Justiça, e só repete que está no caminho certo”, afirmou.

A reportagem conversou com Márcia e a cozinheira Cleusa da Silva, 47, mãe de Tayná, numa audiência pública realizada na Câmara Municipal de Colombo, quinta-feira (8), para discutir casos de violência contra a mulher.

Segundo a vereadora Maria Michele Mocelin (PT), que convocou a reunião, após a morte de Tayná, em 28 de junho passado, houve outros quatro assassinatos de mulheres no município, que tem 215 mil habitantes.

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“Um deles sequer teve inquérito aberto. E, fora o caso de Tayná, as outras investigações estão paradas”, disse a vereadora. “Pedi às duas delegacias de Colombo os números de homicídios contra mulheres na cidade. Elas não têm”, falou.

“Porco sujo”

O que mais revolta a família, porém, é o trabalho e o comportamento do chefe do necrotério do IML (Instituto Médico Legal), Alexandre Gebran Neto.

“Acho que ele é um porco sujo”, disparou Márcia. Em entrevistas a emissoras de televisão, esta semana, o médico-legista afirmou que, segundo os laudos, Tayná teria vida sexual ativa, apesar da idade.

Em tese, não poderia ter dado detalhes de documentos da investigação, que está sob sigilo judicial.

“Isso não tem lógica. Se é segredo de Justiça, por que estão indo na televisão se defender, falando mal dela [Tayná], a atacando, acabando
com a índole da minha irmã e da minha família também? Porque, ao mesmo tempo que fazem isso com ela, que não está mais aqui para se defender, atacam a família”, disse Márcia.

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A família também faz críticas ao trabalho da Polícia Científica.

“Ele [Gebran Neto] falou que eu não quis pegar a roupa dela [Tayná] no IML, e que daí tiveram de queimar, pois não tem onde guardar. É tudo mentira. Falo e afirmo. É mentira. Não sei porque eles queimaram. A roupa não foi nem periciada. Por que a roupa não foi periciada. Por que não tem o laudo da roupa?”, disse Márcia. “O cinto dela foi recolhido por mim, no local do crime, ao lado do poço [onde o corpo de Tayná foi encontrado]. Eu o entreguei à polícia.”

Outro lado

A reportagem procurou a assessoria da Secretaria da Segurança Pública para que comentasse as entrevistas do chefe do necrotério do IML.

A assessoria informou que ele não está autorizado a se pronunciar e nem fala em nome da instituição, que afirmou ainda que possíveis sanções contra Alexandre Gebran Neto sanções serão tomadas pelo Conselho da Polícia Científica, que já analisa o caso.

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Coordenador dos Centros de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Proteção aos Direitos Humanos do MPE, o promotor Olympio de Sá Sotto Maior Neto disse que “não há nenhuma regra expressa” no Estatuto da Criança e do Adolescente que impedisse as declarações do legista.

“Mas o que se recomenda, nessas situações, é preservar a imagem da pessoa, não fazer exposição desnecessária. Ela não foi vítima de homicídio porque tinha vida sexual ativa”, afirmou Sotto Maior, que participou da elaboração do estatuto.