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Com salários atrasados, funcionários de cemitérios entram em greve no Rio

Carolina Farias

Do UOL, no Rio

26/08/2013 17h09

Cerca de 130 funcionários de três cemitérios do Rio de Janeiro que são administrados pela Santa Casa de Misericórdia entraram em greve nesta segunda-feira (26). Eles estão com os salários atrasados e dizem que só voltam a trabalhar quando receberem o pagamento. A instituição informou que vai pagá-los na quinta-feira (29). Os sepultamentos nos cemitérios do Caju, Irajá e Inhaúma, todos na zona norte, estão prejudicados.

O atraso no pagamento dos funcionários dos cemitérios é uma rotina, segundo o diretor social do SindiFilantrópicas (Sindicato dos Empregados em Instituições Beneficentes, Religiosas, Filantrópicas e Organizações não Governamentais do Rio), Marcos Flávio de Mendonça.

"É raro quando não atrasam o pagamento, todo mês é a mesma coisa. Eles deviam ter recebido dia 8. Sem contar aqueles que voltam de férias e não recebem também", disse o diretor.

A Santa Casa administra 11 cemitérios no Rio de Janeiro, mas somente funcionários dos três da zona norte resolveram paralisar as atividades depois de uma reunião na manhã desta segunda com o provedor da instituição, o advogado e jornalista Dahas Chade Zarur, 87. Se a instituição não fizer o pagamento até quinta, funcionários de outros cemitérios também devem parar.

No Caju, segundo o administrador Washington Jorge da Silva, pouquíssimos funcionários estão trabalhando e somente enterros já agendados e de mortos com sepulturas próprias estão sendo realizados.

"Os enterros estão normais, mas só pra quem tem jazíguo perpétuo. Quem não é desses casos é aconselhável procurar outro cemitério", disse Silva.

Por meio de nota, a Santa Casa admitiu o problema e informou que passa por uma crise financeira crônica desde que foi descredenciada pelo SUS (Sistema Único de Saúde). "No entanto, a instituição está providenciando para que os pagamentos sejam feitos o mais rápido possível", diz a nota.  

Investigação

O provedor da Santa Casa é alvo de uma investigação da Delegacia Fazendária da Polícia Civil que apura sua evolução patrimonial. De acordo com a delegada Izabela Santoni, titular da unidade, os investigadores pretendem checar se há irregularidades ou vínculo do patrimônio de Zarur com o da instituição. 

A investigação foi aberta depois de uma reportagem do jornal "O Globo", publicada no último dia 4, que mostrou que, nos últimos 20 anos, o provedor da Santa Casa foi proprietário de 35 imóveis e participou nesse período de 42 transações imobiliárias quando vendeu ou doou apartamentos e casas a familiares.

Alguns dos imóveis ficam no bairro do Leblon, na zona sul, o mais caro do Rio - o metro quadrado pode chegar a custar R$ 36 mil. A Santa Casa também é alvo de outra investigação da Delegacia Fazendária que apura um suposto esquema ilegal de venda de sepulturas clandestinas em três dos 13 cemitérios públicos administrados pela instituição.

O esquema foi denunciado pelo Fantástico, da "TV Globo", no último dia 7. Há suspeita de crime contra a administração pública. A reportagem mostrou funcionários de pelo menos três cemitérios, entre eles o do Caju, negociando a venda de túmulos de forma ilegal, sem a autorização da prefeitura, por até R$ 150 mil por metro quadrado.