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Justiça encerra interrogatório de megajulgamento de facção criminosa de Santa Catarina

Renan Antunes de Oliveira

Do UOL, em Florianópolis

19/09/2013 16h29

A juíza Jussara Schitller Wandscheer, da 3ª Vara Criminal de Blumenau (120 km de Florianópolis), encerrou, nesta quinta-feira (19), o interrogatório de 93 dos 98 réus do megajulgamento do PGC (Primeiro Grupo Catarinense), facção criminosa que comandou as ondas de ataques em Santa Catarina entre novembro de 2012 e fevereiro deste ano.

Na prática, está encerrada a fase principal do maior julgamento da história de Santa Catarina, com a audiência de mais de 130 pessoas em oito dias. O tribunal não se reunirá mais. Agora ficam faltando apenas um parecer da Promotoria e as alegações finais da defesa, ambos com prazo de 10 dias. As sentenças individuais serão conhecidas no final de outubro, por decisão monocrática da juíza Wandscheer.

Na quarta-feira (18), advogados de vários presos se uniram para pedir ao Tribunal de Justiça a suspensão do megajulgamento, sem sucesso.

Aos 38 anos, a juíza Wandscheer é conhecida por suas posições duras contra o tráfico. Ela atua há 10 anos na área criminal. Foi dela a primeira autorização para monitorar telefones de presos, ação que levou à descoberta da ação organizada do PGC --por isto ela recebeu a tarefa de julgar a maioria dos envolvidos com a facção.

As audiências aconteceram num tribunal improvisado dentro do presídio de Canhanduba, em Itajaí (100 km de Florianópolis), dado ao número recorde de réus.

O Batalhão de Choque da Polícia Militar isolou o perímetro do julgamento. Também na madrugada desta quinta-feira o Deap (Departamento de Administração Prisional) iniciou o traslado dos presos para suas cadeias de origem.

O processo corre em segredo de Justiça. Pela assessoria, a juíza  informou que só ficou faltando ouvir três dos réus que estavam soltos e duas mulheres grávidas que tiveram as crianças no período. Estes serão ouvidos no fórum de Blumenau na próxima semana, sem prejuízo para o prazo da sentença de outubro.

Segundo o promotor Flávio Duarte de Souza, os réus são acusados de formação de quadrilha e de narcotráfico, podendo pegar penas de 2 a 10 anos. Nas audiências no presídio, o ponto alto foi a delação de David Schroeder, o Gangster, integrante do PGC. Policiais que investigaram a facção deram mais detalhes de funcionamento dela e apresentaram as conclusões dos inquéritos dos incêndios.

Segundo a promotoria, os líderes do PGC, em busca de regalias nas cadeias, enfrentaram as forças de segurança do Estado comandando de dentro dos presídios ataques incendiários a ônibus e prédios públicos. Foram 58 incidentes em 16 cidades, em novembro, e 114 ações em 37 cidades, em fevereiro.

Para o julgamento os réus foram divididos em 55 presos, 14 em liberdade, seis foragidos e 23 à distância --neste caso, ouvidos por videoconferência via internet. Estes eram os considerados mais perigosos. Eles foram transferidos para Mossoró (RN) por intervenção do Ministério da Justiça, em fevereiro, medida que fez cessarem os ataques.

A juíza Wandscheer é também rigorosa com os prazos. Ela conseguiu ouvir quase todos os envolvidos no período que tinha sido estipulado (de 9 a 18 de setembro), mesmo com sessões entrando pela madrugada, como na última.