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Dois anos após morte, funcionário do Hopi Hari é ouvido pela Justiça

Fabiana Marchezi

Do UOL, em Vinhedo (SP)

27/03/2014 19h24

Dois anos após o acidente em um brinquedo do parque de diversões Hopi Hari que terminou com a morte da estudante Gabriela Yukari Nichimura, a Justiça de Vinhedo (83 km de São Paulo) ouviu na tarde desta quinta-feira (27) a primeira testemunha do caso.

Rodolfo Rocha de Aguiar, funcionário da área de elétrica do parque, foi arrolado ao processo pelo Ministério Público e é considerado pela promotoria testemunha chave para confirmar uma das negligências que, segundo o MP, levaram à morte da jovem. Aguiar depôs por mais de duas horas. Ele saiu sem falar com a imprensa,

“O fato ocorreu em razão de uma série de negligências, uma série de omissões. A testemunha presenciou o acidente e hoje ratificou o que já havia falado à polícia. Ele confirmou que foi detectado que havia um colete solto numa sessão sabidamente composta de uma cadeira inoperante e ao perceberem que esse colete estava solto, um colete que jamais poderia estar solto, nenhuma providência foi tomada, mesmo depois que ele avisou os responsáveis. Essa é apenas uma das negligências que o Ministério Público apurou nas investigações”, disse o promotor Rogério Sanches.

O advogado Alberto Zacharias Toron, que defende quatro dos 12 réus –entre eles o então presidente do parque Armando Pereira Filho--, classificou a audiência como positiva.

Para ele, houve falha de alguns colaboradores do parque em relação às normas que já estavam pré-determinadas porque a cadeira já estava desativada havia 10 anos.

“Foi um depoimento circunstanciado, rico e deixou claro que houve por parte de alguns colaboradores do parque o descumprimento de regras claras e simples que já estavam definidas há muito tempo. A cadeira estava desativada há dez anos e mais de 9 milhões de pessoas passaram por aquela atração sem se ferir, sem nenhum tipo de problema. Isso deixa claro que houve falha de alguns colaboradores, sim”, afirmou o advogado.

Os pais da estudante, que moram em Iwata, no Japão, não vieram ao Brasil para acompanhar a audiência.

Silmara Nichimura, mãe de Gabriela, disse que estava ansiosa.

“Não consegui dormir. Dois anos de espera é muito tempo, não vejo a hora de terminar esse processo. Cada vez que mexe passa um filme em nossa mente do dia que ocorreu a tragédia... Triste demais!!! Muito cansativo. Pior que está só no começo. Só quero que a Justiça seja feita”, escreveu a mãe em uma rede social em conversa com a reportagem do UOL, nesta tarde.

Crimes

Na esfera criminal, doze réus respondem por homicídio culposo (quando não há intenção de matar). Sete dos 12 réus ainda trabalham no parque. “Se condenados, os acusados poderão pegar de um a três anos de prisão, mais aumento de um terço da pena por inobservância de técnica”, disse o promotor.

Gabriela, que tinha 14 anos na época, morava no Japão e passava férias com os pais e a irmã no Brasil. Ela morreu após cair de uma altura aproximada de 25 metros a uma velocidade de 90 km por hora no brinquedo La Tour Eiffel. Ela se sentou em uma cadeira que estava desativada há dez anos.

O laudo do Instituto Médico Legal (IML) apontou que a estudante sofreu politraumatismo ao cair do brinquedo. Já o laudo do Instituto de Criminalística de Campinas apontou falha humana no acidente que causou a morte da estudante.

A perícia concluiu que um dia antes do acidente, por um equívoco, os técnicos da manutenção mudaram a chave que mantinha o assento interditado.

Em fevereiro do ano passado, na esfera cível, os pais da adolescente e representantes do parque formalizaram um acordo de indenização por danos morais. A família pediu R$ 4,6 milhões, mas um termo de confidencialidade assinado pelas partes impediu a divulgação do valor.

A próxima audiência está marcada para o dia 14 de abril, quando a prima de Gabriela, que estava ao lado dela no momento do acidente, será ouvida em Guarulhos, na Grande São Paulo.