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MP quer depoimento da mãe de menina morta no Hopi Hari

A adolescente Gabriella Yukinari Nichimura, que morreu após sofrer um acidente em brinquedo no parque Hopi Hari em 2012. Ela tinha 14 anos - Reprodução/Arquivo pessoal
A adolescente Gabriella Yukinari Nichimura, que morreu após sofrer um acidente em brinquedo no parque Hopi Hari em 2012. Ela tinha 14 anos Imagem: Reprodução/Arquivo pessoal

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em Americana (SP)

28/03/2014 15h04Atualizada em 28/03/2014 17h00

O Ministério Público de Vinhedo vai pedir que a mãe da adolescente Gabriella Nichimura, 14, que morreu ao cair de um brinquedo no Parque Hopi Hari, em Vinhedo, seja ouvida pela Justiça no processo em que 12 pessoas são apontadas pelo MP como responsáveis pela morte da jovem. A mãe, Silmara Nichimura, mora no Japão e acompanhou na quinta-feira (27) a primeira audiência do caso pela Internet. O MP quer a presença da mãe no Brasil.

Entre os réus da ação estão o então presidente do Hopi Hari, Armando Pereira Filho, e o gerente-geral de manutenção e projetos, Stefan Fridolin Banholzer. Dos 12 acusados, sete ainda trabalham no parque. Se condenados, os acusados estão sujeitos a penas que variam de um a quatro anos de prisão.

O pedido será feito à defesa e, se for acatado, Silmara Nichimura deverá ser ouvida pelo juiz da 1ª Vara Criminal de Vinhedo, Fábio Marcelo Holanda. De acordo com o promotor Rogério Sanches, o intuito da medida é agilizar o andamento do processo. “Enquanto as testemunhas de acusação não forem ouvidas, não se pode passar às testemunhas de defesa. Como o procedimento de ouvir uma testemunha fora do país é complicado e pode levar mais de seis meses, a intenção do Ministério Público é fazer todo o possível para que as oitivas ocorram da forma mais rápida possível”, disse. O promotor indicou ainda que, além da mãe, mais de 100 testemunhas podem ser ouvidas no caso. Na acusação, serão apenas seis testemunhas, incluindo Silmara.

"Ela [Silmara Nichimura] seria ouvida no Japão, mas acho que, para o processo, seria muito mais interessante se ocorresse no Brasil, na presença do MP, que conhece todos os detalhes do caso, e também do juiz que dará a sentença”, disse Sanches. Ainda segundo ele, a logística para a vinda de Silmara ao Brasil será acertada com o advogado da família, que trabalha como assistente da acusação no caso.

Procurada pelo UOL, Silmara disse que, embora a intenção da família fosse acompanhar o caso do Japão, os Nichimura poderão vir ao Brasil se for necessário para apressar o processo criminal. “Só voltaremos ao Brasil se for necessário. Temos nossa rotina, minha filha mais nova, a Hanna, tem escola e não pode perder aula. Mas se for preciso, organizamos as coisas para ir”, afirmou.

Tempo

O promotor Sanches deve esperar o depoimento de Natasha, prima de Gabriella, que está previsto para 14 de abril e, dependendo do resultado, admite dispensar o testemunho de Silmara. O depoimento da prima, que estava ao lado de Gabriella no momento da queda, será feito em Guarulhos. “Se ela for tão contundente quanto foi nos depoimentos anteriores, posso até abrir mão do depoimento da mãe, pelo bem da rapidez processual”, disse o promotor.

Segundo Sanches, cada réu indiciado no caso pode indicar até oito testemunhas, o que pode fazer com que somente o período para ouvir testemunhas supere um ano. O julgamento deve demorar ainda mais, já que a defesa dos réus já informou que irá ouvir, por carta rogatória, representantes da empresa que vistoria os brinquedos. São seis profissionais, que residem na Europa.

“As perguntas precisam ser traduzidas por um oficial, depois enviadas à Justiça do país. Depois que o depoimento for marcado, essas respostam voltam, na língua de origem do País, e precisam ser traduzidas por um oficial. É um processo demorado”, disse Sanches.

Na esfera cível, a família Nichimura e representantes do parque formalizaram um acordo de indenização por danos morais. A família pediu R$ 4,6 milhões, mas um termo de confidencialidade assinado pelas partes impede a divulgação do valor final.

Audiência

Nesta quinta-feira (27) foi realizada a primeira audiência do caso. Com duração aproximada de duas horas, a sessão contou com o depoimento de um funcionário do Hopi Hari, ouvido como a primeira das testemunhas de acusação. De acordo com relato do MP, o trabalhador Rodolfo Rocha de Aguiar Santos confirmou que uma negligência causou o acidente envolvendo Gabriella Nichimura.

Além dele e de Silmara, a acusação deve ouvir ainda dois peritos que trabalharam nos laudos de avaliação do brinquedo La Torre Eiffel, de onde Gabriela caiu, a prima de Gabriela e uma ex-funcionária do parque.

Gabriella Nichimura morreu após cair de uma altura aproximada de 25 metros a uma velocidade de 90 km por hora no dia 24 de fevereiro de 2012. Ela tinha ido ao Hopi Hari com os pais, a irmã e uma prima. No brinquedo La Tour Eiffel, um elevador que simula queda livre, ela se sentou em uma cadeira que estava desativada havia dez anos por apresentar problemas mecânicos. Na descida, a trava se soltou e ela caiu do brinquedo. Gabriella chegou a receber os primeiros socorros no local, mas não resistiu aos ferimentos.

No dia do acidente, funcionários avisaram aos supervisores sobre problemas na trava. A cadeira acabou sendo liberada, erroneamente, e foi utilizada pela adolescente. Segundo a perícia, um dia antes houve remoção de peças do assento, o que causou o acidente. Para fazer a manutenção, o colete de segurança foi destravado e não foi ligado novamente. Como não havia sinalização, a adolescente utilizou a cadeira sem saber que ela estava inoperante.

O Hopi Hari informou que não irá se manifestar sobre o processo criminal. O parque aguarda a devida apuração e decisão judicial final.