Jovem e tiktoker: quem é Jordan Bardella, líder da extrema direita francesa

O francês Jordan Bardella é um jovem de 28 anos aclamado por seus correligionários, mas visto por seus críticos como carente de conteúdo. Presidente do Rassemblement National (RN), de Marine Le Pen, ele levou seu partido à vitória nas eleições ao Parlamento Europeu e no primeiro turno das eleições legislativas na França. Agora, almeja mais do que ser apenas o garoto-propaganda da extrema direita: ele quer (e tem boas chances de) se tornar primeiro-ministro da França.

Como pensa Bardella

Veio de família italiana, mas se posiciona contra a imigração. Bardella rejeita o funcionamento da União Europeia hoje, embora negue que seja contrário à existência do bloco em si. "Eu não sou contra a Europa. Sou contra a maneira como a Europa funciona agora", disse o francês durante debate com o primeiro-ministro da França, Gabriel Attal, antes das eleições ao Parlamento Europeu.

Já disse se opor ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Mesmo assim, aceitou que, para a maioria dos franceses, "o casamento para todos agora é uma realidade" e afirmou que o debate sobre o assunto está encerrado, sugerindo haver questões mais importantes a serem discutidas no país. Bardella ainda defende cortar os serviços sociais para imigrantes ilegais e legalizar a cannabis para fins medicinais.

Foi acusado de publicar comentários racistas e homofóbicos. Em janeiro, uma reportagem da emissora France 2 revelou a existência de uma conta falsa no X (ex-Twitter) supostamente administrada por Bardella. Sob o pseudônimo "RepNat du Gaito", o perfil também exaltava Jean-Marie Le Pen, pai de Marine Le Pen, conhecido por seus comentários racistas e antissemitas. A última postagem, feita em fevereiro de 2017, é uma imagem obscena zombando de Théo Luhaka, um jovem negro que sofreu graves agressões da polícia naquele ano. Bardella nega ser dono da conta.

Rompeu a imagem tradicional do partido de Marine Le Pen. Bardella é presidente do RN desde 2022. Seus críticos o veem como mais liberal do que Le Pen e o acusam de dedicar muito tempo a aperfeiçoar sua imagem pública e pouco a estudar as questões políticas importantes. Sua figura bem cuidada e sua habilidade de comunicação lhe rendem sucesso nas ruas e nas redes sociais: no TikTok, Bardella conta com 1,7 milhão de seguidores, em sua grande maioria jovens.

Levou o RN à vitória no primeiro turno das eleições legislativas. O partido conquistou 33% dos votos, enquanto o bloco centrista liderado pelo presidente Emmanuel Macron terminou em terceiro lugar, com 20%. "No próximo domingo [7], se o povo francês nos conceder a maioria absoluta para reerguer o país, pretendo ser o primeiro-ministro de todos os franceses, ouvindo cada um deles, respeitando a oposição e atento à unidade nacional", disse Bardella a uma multidão em Paris, em seu primeiro discurso após a eleição.

Le Pen está tentando fazer um rebranding [do partido], reduzir um pouco a pressão. Ela sabe que tem um capital político pesado do pai dela, do sobrenome, da trajetória. Ela pegou um garoto que, a princípio, parece um ótimo comunicador e o está colocando como uma nova face da direita francesa. (...) Ele tenta se posicionar como alguém palatável, um político aceitável para gerir o país. Querem vendê-lo como uma espécie de 'genro favorito'. Mas obviamente ele tem posições duras.
Leonardo Paz, pesquisador da FGV, ao UOL

O que esperar do 2º turno

Sistema de votação em dois turnos torna cenário atual incerto. Todos os candidatos que obtiveram mais de 12,5% dos votos nos 577 distritos eleitorais franceses passarão para a segunda e definitiva rodada de votação. O alto comparecimento às urnas no primeiro turno — quase 70%, o maior em quatro décadas — sugere que o segundo pode ser mais volátil do que o normal, uma vez que muitos assentos do Parlamento parecem destinados a disputas triangulares.

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Oposição já se movimenta para criar frente contra a extrema direita. Para evitar a divisão do voto, tanto a NFP (Nova Frente Popular), de esquerda, quanto o Juntos, de centro, se comprometeram a se retirar estrategicamente da disputa se seus candidatos terminarem em terceiro lugar, deixando que o outro avance para o segundo turno para enfrentar a RN em uma base mais forte.

Emmanuel Macron renovou o apelo contra o avanço dos radicais. "Diante da vitória do RN, chegou a hora de uma aliança ampla, claramente democrática e republicana para o segundo turno", disse o presidente francês em comunicado divulgado no domingo (30). Representantes da esquerda também assumiram compromissos semelhantes contra a extrema direita, mas ainda não se sabe se todos cumprirão suas promessas.

Independentemente do resultado, a política francesa mudará para sempre. Na semana anterior ao primeiro turno, o ex-presidente socialista François Hollande — que nos anos 2010 foi responsável pela entrada de Macron na política partidária — deu uma sentença definitiva: "O macronismo acabou. Se é que alguma vez existiu, mas acabou (...). O que ele conseguiu representar, a certa altura, acabou".

(Com AFP e Deutsche Welle)

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