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PM retira à força ocupantes do cais José Estelita, no Recife

Manifestantes sentam em frente à barreira policial em protesto contra ação de reintegração de posse no cais José Estelita, no Recife - JC Imagem
Manifestantes sentam em frente à barreira policial em protesto contra ação de reintegração de posse no cais José Estelita, no Recife Imagem: JC Imagem

Do UOL, em São Paulo

17/06/2014 10h23

Policiais militares pernambucanos cumpriram na manhã desta terça-feira (17) uma ordem judicial de reintegração de posse e retiraram à força os manifestantes que havia quase um mês ocupavam o Cais José Estelita, no centro do Recife, em Pernambuco. Durante a desocupação, três ocupantes foram detidos. Três pessoas, entre elas uma policial, sofreram ferimentos leves e receberam atendimento médico.

O Ministério Público Federal em Pernambuco divulgou nota de repúdio à reintegração de posse da área, e afirmou que a medida viola “a proposta de acordo formalizada aos Ministérios Públicos pelo Município do Recife”, e que “o mandado foi cumprido de forma arbitrária e com medidas típicas de cumprimento de ordens contra criminosos”.

Efetivos dos batalhões de Choque e de Trânsito, da Polícia Montada e da Companhia Independente de Policiamento com Cães chegaram ao local pouco depois das 5h. Segundo o porta-voz da Polícia Militar pernambucana, capitão Júlio Aragão, negociadores tentaram convencer os manifestantes a deixar o local voluntária e pacificamente, mas, como não houve acordo, às 6h17, começou a operação para cumprir a decisão judicial do dia 29 de maio.

“A ação da polícia foi legítima”, disse o capitão, justificando o uso de “força não letal”. Dos três homens detidos e levados à delegacia mais próxima, dois são estrangeiros – um argentino, estudante da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e um peruano.

Em nota divulgada por meio das redes sociais, os integrantes do movimento Ocupe Estelita acusam a polícia de descumprir acordos firmados com as secretarias estaduais de Defesa Social e de Direitos Humanos e com o Ministério Público Estadual. Os manifestantes afirmam ainda que a responsabilidade pela ação, bem como por eventuais feridos, é do governador João Lyra Neto (PSB).

“Até ontem à noite, tínhamos a certeza de que o mandado [de reintegração] não seria cumprido passando por cima dos protocolos estabelecidos em acordo firmado com o movimento e demais participantes”, informa a nota, em que os manifestantes pedem o apoio de advogados e convoca as pessoas que concordam com o movimento a se reunirem no cais.

Por telefone, o coordenador do Movimento Direitos Urbanos, Leonardo Cisneiros, afirmou que, de acordo com o relato de pessoas que passaram a noite no local, não houve negociação antes da polícia iniciar a operação “de forma truculenta”.

“Chegaram disparando bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Agrediram várias pessoas, entre elas uma advogada ligada ao movimento que tentava dialogar. A ação, de fato, está sendo violenta. Tanto que a polícia não permitiu nem sequer que os manifestantes recolhessem seus pertences pessoais e material e não está autorizando ninguém a entrar no cais. Há até motos lá dentro”, declarou Cisneiros, acrescentando que o movimento tem a informação ainda não confirmada de que quatro manifestantes, e não três, foram detidos na confusão. “Vamos primeiro tentar que os advogados soltem os presos. Em seguida, faremos uma reunião na entrada do cais para decidir o que fazer.”

Os integrantes do movimento Ocupe Estelita são contrários ao projeto urbanístico Novo Recife. Aprovado em dezembro de 2013, o projeto prevê intervenções urbanísticas no cais, localizado em área histórica e um dos principais cartões-postais da capital pernambucana. Entre as obras previstas, está a construção de 12 torres de 40 andares para fins residencial e empresarial, além de área de comércio, hotéis, restaurantes, bares e estacionamento.

Segundo a Câmara Municipal, o projeto receberá investimentos de um consórcio formado por quatro empresas e ocupará uma área de 105 mil metros quadrados. Para concretizar o projeto, é necessário demolir as construções existentes no local como antigos armazéns de açúcar. Os críticos da iniciativa apontam o prejuízo à memória nacional e o aspecto segregador do projeto.

“O projeto é uma bolha de urbanização elitista e segregadora. Seria um grande condomínio fechado. Não bastasse isso, somos contra a forma como o projeto tramitou, a forma como ele foi apresentado, sem maiores debates e sem a participação da sociedade”, já havia dito Cisneiros em entrevista no último dia 30. (Com Agência Brasil)