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Para driblar crise, Saltinho (SP) vai pagar por água da vizinha Piracicaba

Fabiana Marchezi

Do UOL, em São Paulo

08/10/2014 19h29

Para tentar driblar a crise hídrica, o município de Saltinho (a 176 km de São Paulo) decidiu buscar uma alternativa inédita na região: importar água tratada da vizinha Piracicaba. A medida emergencial foi aprovada na terça-feira (7) pela Câmara dos Vereadores de Saltinho.

A lei que permite a venda da água de Piracicaba para cidades vizinhas foi criada pelo prefeito Gabriel Ferrato (PSDB) no final de setembro deste ano e é válida por 12 meses, para que a cidade beneficiada tenha tempo de buscar outras opções. 

Na prática, Saltinho pagará R$ 4,43 pelo metro cúbico de água. O valor é o mesmo cobrado aos moradores de Piracicaba, com isenção da taxa de esgoto.

As obras que viabilizarão a chegada da água ao município devem ser iniciadas dentro de 15 dias e a previsão é de que estejam concluídas até meados de novembro. Depois disso, o município poderá captar a água imediatamente, quando necessário.

“A alternativa trará uma certa tranquilidade ao município de Saltinho, que terá a opção de captar essa água, quando necessário, e não afetará o abastecimento de Piracicaba”, explicou José Valdemir Spada, diretor do Departamento de Águas e Meio Ambiente da cidade.

Segundo ele, o sistema funcionará como funciona nas casas. Serão instalados registro e hidrômetro que liberarão e medirão a água tratada quando o município sentir necessidade.

“Funciona igual funciona nas residências. Por exemplo, a pessoa vai viajar e decide fechar o registro enquanto estiver fora. Depois, quando ela volta, abre o registro para receber a água. A quantidade vai depender da necessidade diária, ou seja, quando as represas e os poços responsáveis pelo abastecimento não forem suficientes para fornecer 1 milhão de litros consumidos por dia na cidade”, acrescentou.

Desde 12 fevereiro, os 7,7 mil moradores de Saltinho enfrentam um severo racionamento de água. Hoje, o abastecimento ocorre apenas entre 15h e 20 horas e a situação não deve mudar, já que a alternativa só será utilizada quando houver necessidade, uma vez que há um limite de captação para que o abastecimento de Piracicaba não fique comprometido.

“O racionamento continua como está, nada vai mudar, ao menos por enquanto. Por lei, podemos retirar no máximo 5 litros de água por segundo. A medida garante que não haja esgotamento total dos reservatórios de Saltinho, além de evitar uma possível ampliação do racionamento, caso não chova”, disse.

Ainda segundo Spada, a compra de água da cidade vizinha só foi viável em razão da proximidade geográfica dos municípios. “A distância entre a caixa d` água de Piracicaba e o reservatório de Saltinho é de apenas 1,5 quilômetro. Então, a alternativa ficou viável”, afirmou.

Segundo ele, cada município fará metade do encanamento. “Ainda vamos abrir a licitação para comprar o material. E, se tudo der certo, a captação começará dentro de 15 dias. É pouca coisa para fazer: encanamento e instalação de registro e hidrômetro, mas o trabalho é um pouco complicado porque será preciso retirar o asfalto de uma estrada vicinal”, disse.

Spada garantiu que os custos da obra e da água que será adquirida de Piracicaba não serão repassados aos moradores.

Piracicaba criou lei em "solidariedade" às cidades vizinhas

A lei que permite a exportação da água de Piracicaba para cidades vizinhas foi criada em solidariedade aos municípios que passam por dificuldades no abastecimento e é válida por 12 meses, para que a cidade beneficiada tenha tempo de buscar outras opções.

A lei ainda prevê que o fornecimento poderá ser suspenso caso o abastecimento do município seja comprometido ou em caso de inadimplência.

De acordo com o Semae (Serviço Municipal de Água e Esgoto de Piracicaba), a venda de água a uma vazão limite de 5 litros de água por segundo, 24 horas por dia, 30 dias por mês, representa 0,25% da vazão outorgada pelo Departamento de Água e Energia Elétrica (Daee) para captação do Rio Corumbataí, que abastece 95% de Piracicaba.

Atualmente, a vazão do rio é de 6 metros cúbicos por segundo e a captação de 1,6 metro cúbico por segundo.

Ainda conforme o Semae, por enquanto, apenas Saltinho se interessou pela compra de água, mas caso haja interesse, a prefeitura fará um estudo de viabilidade para atender a novas cidades.