Internautas miram patrão e polícia em relatos de abuso de poder
"Vou ter que procurar emprego e sair deste pesadelo." É assim que um administrador de empresas de São Paulo, que pede para não ser identificado, resume a sua situação no trabalho. Ele enviou um relato dos comentários que é obrigado a ouvir de chefes e colegas ao UOL Notícias, via Whatsapp, em resposta a um chamado pela participação do público sobre casos de abuso de poder.
"Trabalho em uma grande multinacional e sofro assédio moral. Sou perseguido por ser judeu e diariamente humilhado", afirma o internauta. "São comentários absurdos, que chegam em forma de perseguição no dia a dia."
"Um dia, um dos meus gerentes gritou que eu deveria estar em Israel, matando palestinos, ao invés de estar na área comercial", exemplifica. "O outro comentou em um almoço, na frente de toda a equipe, que é descendente de libanês, que Israel é assassino e que os homens-bombas fazem justiça."
Entre mais de 2.000 mensagens recebidas pela equipe do UOL Notícias, as principais reclamações de abuso de poder descrevem casos de assédio moral no trabalho ou violência policial. Boa parte dos internautas também comentou o caso da ex-agente de trânsito Luciana Tamburini, condenada a pagar uma multa a um magistrado após ter dito que ele era "juiz, mas não Deus".
"Isso acontece sempre por aí, especialmente no Brasil, onde um juiz se acha", protestou um internauta de São Paulo. "Pra eles, a lei não vale nada. Isso precisa mudar."
"O Judiciário e o Ministério Público são os únicos que põem freios nos políticos, na criminalidade. Se o juiz agiu com abuso, que seja punido", comentou outro internauta, Ricardo Fernandes, de Santos (SP). "É claro que existem desvios, pequenos se comparados com todos os que integram a carreira. E esses desvios estão sendo punidos pelo Conselho Nacional de Justiça."
Humilhação
Um outro caso de humilhação no ambiente de trabalho foi relatado pela corretora de imóveis Jaqueline Lacerda. Ela recordou um episódio que viveu quando trabalhava em um banco, em São Paulo.
"Fui humilhada dentro do elevador, pelo presidente (do banco), porque apertei o número do andar errado", conta Jaqueline. "Ele ficou dois minutos ressaltando minha 'burrice' na frente de outras pessoas, depois mandou um e-mail para o meu chefe, ordenando que ensinasse seus funcionários a usar o elevador."
"Os gritos que ele deu, nunca mais esqueci", acrescenta Jaqueline. "Eu me senti muito mal e quase fui mandada embora. Na época, pagava a faculdade e não podia ficar desempregada."
A analista financeira Flavia Larsen, de Contagem (MG), diz que não suportou o ambiente de trabalho em uma construtora. "Conforme o tempo foi passando, minha ex-chefe começou a me fazer críticas constantemente, falando alto e de forma grosseira, inclusive na frente de outros funcionários."
Flavia afirma que, em uma das discussões, teve de ouvir a sua então chefe dizer as frases: "Você é retardada? Como pode ser tão idiota assim? Tenho dó da sua família, eles devem ter vergonha de você".
De acordo com dados do Ministério Público do Trabalho de São Paulo, as investigações de casos de assédio moral em empresas vão bater recorde em 2014. Apenas nos nove primeiros meses do ano, 962 casos foram denunciados no Estado – o recorde anterior havia sido registrado em 2012, quando 960 denúncias foram registradas.
Abuso policial
Mais frequentes no noticiário, casos de abuso de autoridades policiais também foram relatados para o Whatsapp do UOL Notícias. O empresário Alexandre Kliemann diz lembrar de pelo menos dois episódios em que homens da polícia quiseram tirar proveito da posição.
Dono de um bar em Boa Vista (RR), Kliemann afirma que, nas duas ocasiões, os policiais se recusaram a pagar a conta no estabelecimento.
Na primeira delas, o empresário diz que foi ameaçado por um delegado. Na segunda, as ameaças se estenderam aos outros clientes. "Meu bar ficava numa sobreloja, após dois lances de escada. Ele foi até o final do primeiro lance e sacou a arma, ameaçando todos que estavam ali."
Na Grande São Paulo, o vigia Philipe Silva conta que chegou a "perder dinheiro" ao ser parado por uma blitz da Polícia Rodoviária em Itapevi. "Eu estava de moto e mandaram que eu encostasse. Dei o documento da moto para o guarda, junto com os meus documentos. Dentro, tinha R$ 79."
"O guarda levou para averiguar e, depois de um instante, disse que estava tudo em ordem", relata Silva. "Quando cheguei em casa, percebi que os guardas tinham me roubado."
Para evitar casos assim, as polícias contam com ouvidorias e corregedorias para receber denúncias, investigar e punir os abusos de seus integrantes. Mas especialistas apontam que uma série de fatores, incluindo o corporativismo das polícias e o medo que as testemunhas têm de sofrer retaliações, dificultam as investigações das denúncias.
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