Aliados de Trump fazem chantagem e divulgam desinformação sobre Brasil
Numa operação coordenada com parlamentares bolsonaristas, aliados de Donald Trump no Congresso dos EUA enviaram uma carta para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, ameaçando cortar recursos e colocando pressão sobre a instituição para que atue contra o Brasil. A alegação é de que a democracia estaria em risco no país diante da suspensão da plataforma de Elon Musk, o X.
Vista como chantagem e num sinal do que poderá ser o governo Trump, a ação é ainda um ataque à autonomia e independência da Comissão Interamericana. O temor é de que, com o Departamento de Estado nas mãos de Marco Rubio, senador com um histórico de ataques contra a esquerda latino-americana, as ameaças sejam concretizadas contra o órgão regional.
Trump, em seu primeiro mandato, já fez uma ofensiva similar. Mas envolvendo outros países e o direito ao aborto. Naquele momento, a Casa Branca suspendeu o envio de US$ 200 mil para a relatoria da Comissão que lidava com direitos das mulheres.
Agora, os deputados republicanos assumiram o discurso bolsonarista sobre a suposta existência de uma censura e repressão no Brasil, narrativa adotada pelos aliados do ex-presidente e que buscam, nos EUA, respaldo para algum tipo de anistia e a garantia de que possam usar as redes sociais para difundir desinformação e ataques contra o sistema eleitoral.
A viagem de deputados brasileiros, que ocorre nesta semana, tinha como objetivo uma audiência com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos para debater a liberdade de expressão.
Mas o encontro foi cancelado, o que gerou uma profunda insatisfação por parte da delegação de deputados bolsonaristas. Agora, eles apenas serão recebidos nesta sexta-feira, em Washington DC, para uma reunião com alguns dos comissários do órgão, sem a presença nem do governo brasileiro e nem de ONGs de direitos humanos.
Além do encontro, os deputados brasileiros conseguiram convencer republicanos a enviar uma carta para a Comissão, tecendo ameaças contra a instituição.
O que os congressistas alertam é que, sem atuar contra o Brasil, o órgão poderia enfrentar cortes de recursos. A partir de 2025, Trump terá o controle do Senado e da Câmara dos Deputados nos EUA, com poder para abalar o orçamento e o destino de recursos para entidades.
"Escrevemos a Vossa Excelência na qualidade de membros da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos a respeito da situação atual no Brasil e das ações tomadas pela Suprema Corte brasileira contra a plataforma de mídia social X, ações que afetam milhões de brasileiros, bem como cidadãos americanos que vivem ou fazem negócios no Brasil e uma empresa americana", disseram os deputados americanos.
Segundo eles, já em 3 de maio de 2024 uma carta foi enviada para a Comissão, exigindo ações. Mas não houve resposta.
"Desde então, a situação no Brasil piorou consideravelmente, como evidenciado, em primeiro lugar, pelo bloqueio ilegítimo da plataforma X no país, com a declaração de Alexandre de Moraes de sua intenção de restringir o discurso político protegido pela lei internacional de direitos humanos", disseram.
"Embora os serviços do X tenham sido restaurados agora, isso só aconteceu depois que as eleições terminaram e com o X tendo sido forçado a cumprir a lei. Tudo isso é inaceitável", escreveram.
"Solicitamos, mais uma vez, que a Comissão e seu Relator Especial para a Liberdade de Expressão informem sobre as medidas que foram tomadas para monitorar e resolver a situação para ajudar a pôr fim a essa conduta flagrante", cobraram os americanos.
A carta, porém, veio seguida de uma ameaça. "Apoiamos o mandato específico da Comissão de promover e proteger o livre gozo dos direitos humanos e liberdades e as ferramentas à disposição da organização para exercer suas funções", disseram.
"Estamos igualmente cientes do fato de que os Estados Unidos fornecem anualmente fundos suplementares à Comissão Interamericana em apoio ao seu mandato e, especificamente, para financiar o Escritório do Relator Especial para a Liberdade de Expressão e sua capacidade de emitir declarações e relatórios sobre a situação da liberdade de expressão, especialmente onde países estão tentando minar esses direitos", disseram.
Newsletter
JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receber"Considerando isso, estamos profundamente preocupados com o uso desses fundos suplementares, à luz da aparente falta de ação de sua organização para tratar dessas questões urgentes que foram amplamente e corretamente entendidas como uma flagrante violação de direitos", escreveram os congressistas americanos Darrrell Issa, Carlos Gimenez, Maria Elvita Salazar e Christopher Smith.
"Como membros da Câmara dos Deputados, é nosso dever supervisionar os gastos dos fundos pagos pelos contribuintes, inclusive aqueles que são desembolsados para a Comissão e o Gabinete do Relator Especial", alertaram.
Republicano fala em "eleição perturbadora" de 2022 no Brasil
Durante a passagem pela capital americana, o grupo de brasileiro se reuniu com alguns dos deputados que formam a base mais radical de Donald Trump.
Um deles, o deputado republicano Brian Banin, do Texas, afirmou que está "preocupado com o que está ocorrendo no Brasil".
Nas redes sociais, ele levantou dúvidas sobre a eleição de 2022. Ele citou "as eleições perturbadoras que vimos quando presidente Bolsonaro não foi eleito, apesar de milhões de pessoas terem ido votar, e os protestos por todo o país". "Odeio dizer isso, mas sei o que eles sentem", disse, numa referência aos protestos de Trump depois de ser derrotado em 2020.
Ele ainda criticou o STF e disse que, com Trump de volta, irão trabalhar para garantir que os brasileiros "tenham liberdade".
O deputado avisou que "quer uma aliança" e que irá trabalhar para "trazer" de volta ao Brasil as instituições democráticas "que o (país) teve no passado e que terá no futuro".
Segundo ele, Trump "certamente não quer ditadores de esquerda na America do Sul e faremos algo sobre isso".
Deixe seu comentário