Topo

RS: Secretário municipal e servidores são indiciados por matança de animais

Do UOL, em Porto Alegre

01/12/2014 18h20

Quatro servidores da prefeitura do município gaúcho de Bom Jesus foram indiciados pela polícia pela morte por envenenamento de 126 cães e três gatos, ocorridas no dia 20 de novembro.

Um dos indiciados é o secretário do Desenvolvimento Econômico do município, Rafael Oliveira Silveira. Na madrugada daquela quinta-feira, as ruas da cidade amanheceram com dezenas de animais mortos ou agonizantes, alguns dentro dos pátios das casas.

A Polícia Civil da cidade de 11,8 mil habitantes, a 237 km de Porto Alegre, nos Campos de Cima da Serra, na divisa com Santa Catarina, realizou buscas nas casas dos suspeitos nesse sábado. Foram apreendidos alguns tipos de veneno, mas que precisam passar por nova análise para verificar se foram os mesmos que mataram os animais.

Como as prisões não foram em flagrante, a polícia preferiu não divulgar o nome do servidores. Silveira acabou sendo identificado porque a delegada da Polícia Civil da cidade, Thalita Giacometti Andrich, que abriu a investigação, pediu afastamento do caso para não comprometer os trabalhos de apuração. O delegado da cidade vizinha de Vacaria assumiu a investigação.

Thalita é noiva do secretário que foi acusado pelos outros três funcionários que teriam admitido o crime. Silveira nega. Em entrevista a um jornal local ele se disse apoiador da causa animal, que não deu qualquer ordem para o extermínio e que considera seu indiciamento baseado nas acusações dos outros suspeitos uma "pouca vergonha".

A polícia verificou que a ação foi orquestrada e realizada na noite do dia 19 e madrugada do dia 20 em diversos bairros da cidade. O objetivo seria "limpar" a cidade dos animais de rua. Desde o início da investigação, já havia suspeita sobrea participação de funcionários do Executivo na matança - algo que, conforme moradores do município, ocorre todos os anos. 

A câmara de vereadores chegou a discutir a criação de um canil municipal neste ano, mas o projeto foi arquivado. 

Os suspeitos foram indiciados por maus tratos contra animais e associação criminosa. As penas podem chegar a dois anos de prisão pelo primeiro crime, e a três pelo segundo. A reportagem tentou contato com a ex-delegada do caso e seu noivo, mas não obteve resposta aos telefonemas. 

"Vi muitas crianças chorando nesses dois dias"

"Perdi uma cadela labrador de cinco anos e meio. Quando levantei na quinta [20] pela manhã, fui até o pátio e a Lara veio até mim, cambaleando, babando, tendo convulsões", lembra o advogado Rafael Santos Oliveira. "Aqui na cidade não tem clínica especializada.Então saímos correndo para Vacaria, a 60 km. A Lara chegou a ser internada, mas não resistiu." 

Pai de um menino de quatro anos, Santos conta que um dos principais desafios têm sido explicar ao filho porque o cão de estimação se foi. "Vi muitas crianças chorando nesses dois dias. É lamentável. Meu filho falou:  'Papai, é verdade que a Lara morreu?'" 

A mortandade de cães em Bom Jesus não é novidade. Todos os anos há casos de cães envenenados. "Infelizmente é uma prática antiga. Estou há seis anos na cidade e sempre cobramos uma providência sobre isso. É algo que já se tornou comum. Todo ano tem casos de envenenamento. Mas agora foram muitos animais de uma vez só", lamenta o radialista Celso Oliveira. 

"É um absurdo ter que conviver com uma situação dessas. Se fazem isso com animais indefesos, podem fazer o mesmo, até matar, com qualquer pessoa se for do interesse deles", adverte Santos.