Amazônia tem rios mais secos do que em 2023 e entra em alerta máximo
A Amazônia brasileira está em nível de alerta máximo por causa da queda do nível dos rios após a estação chuvosa e a previsão de uma seca que pode repetir ou até mesmo superar aquela registrada em 2023, que foi a maior já medida na região. A época sem chuvas no bioma começa em julho.
Segundo o órgão federal INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), as bacias dos principais rios amazônicos estão com bem menos água que no mesmo período do ano passado.
Como a previsão é de que o período de seca na região, que começa em julho, tenha chuvas abaixo da média, o bioma deve viver dias difíceis.
Estamos com um cenário muito preocupante. Nesse momento, comparado ao ano passado, a recarga dos rios está bem pior, alguns com menores medições de toda a série, que vem de 2000 até agora.
Renato Cruz Senna, meteorologista e pesquisador da Coordenação de Dinâmica Ambiental do INPA
O último relatório do INPA, publicado na quarta-feira (26), mostra que apenas as bacias dos rios Negro e Rio Branco estão em condições mais próximas do que seria o normal para o período. Das 32 bacias, 28 estão com água abaixo da média e uma está estável.
Nossa expectativa é que a região tenha uma seca importante. Não saberia dizer se ela vai ser recorde ou não, mas a gente vai entrar no período mais seco do ano, entre julho a setembro, com grande déficit hídrico em boa parte da região.
Renato Cruz Senna
El Niño fez chuva cair menos
A pouca chuva deste ano já era prevista pelos cientistas por causa do fenômeno El Niño, que estava ativo até o mês passado e historicamente reduz as precipitações na região.
Como a estação de chuvas em boa parte da Amazônia ocorre de dezembro a maio, a tendência natural é de queda do nível dos rios nos próximos meses.
O problema é que grande parte da bacia Amazônica teve deficiência de precipitação na estação chuvosa. Mesmo se as chuvas voltassem a uma normalidade histórica, não seria capaz de recarregar a ponto de voltar a níveis médios. Mas a previsão diz que serão chuvas abaixo da média, por isso o alerta.
Renato Cruz Senna
Apesar do El Niño não estar ativo este ano como em 2023, outro fenômeno que atinge a Amazônia preocupa: o aquecimento das águas do oceano Atlântico tropical norte. "Isso está ocorrendo, como no ano passado. As águas estão muito quentes nessa região que vai do Caribe ao noroeste da África", diz.
No ano passado, com a conjunção dos fenômenos, Renato diz que o cenário vivido especialmente no Amazonas foi "assustador". O rio Negro em Manaus, por exemplo, alcançou 12,7 metros de altura em 26 de outubro do ano passado, o menor patamar em sua história de 120 anos de medições.
"Teve época que ele descia 35 cm por dia, ou seja, a cada três dias ele baixava um metro. Foi uma coisa absolutamente nova, não tem qualquer registro histórico parecido em 120 anos", completa.
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Quero receberLa Niña, a esperança
A esperança positiva dos pesquisadores para que uma tragédia climática, como a de 2023, não se repita é a "torcida" para que os efeitos do La Niña comecem antes do esperado, ou seja, "antecipe" a previsão de trazer impactos (chuvas de maior intensidade na Amazônia) apenas no último trimestre do ano.
Se isso não ocorrer, os rios devem cair de maneira bastante rápida e com antecedência de semanas ou até mais de um mês do que ocorreu o ano passado.
Renato Cruz Senna
Segundo Ana Paula Cunha, do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), o pico da seca em 2023 ocorreu entre os meses de outubro e novembro. Ela diz que a maioria dos modelos climáticos apontam que haverá, nesse período, uma transição de El Niño para o La Niña.
O problema é que os mapas de medições do Cemaden revelam que a região já entra nesse período de maior estiagem com grande parte das áreas com "seca extrema e excepcional", diferente do que ocorreu no ano passado.
Temos que ir acompanhando, mas certamente até setembro a situação estará crítica, principalmente para fogo.
Ana Paula Cunha
Amazonas se prepara
Maior e mais afetado estado com a seca de 2023, o Amazonas têm tomado ações para reduzir os impactos da seca, que deve atingir cerca de 150 mil pessoas.
No último dia 20, o governador Wilson Lima (União Brasil) se reuniu com 30 secretarias e órgãos estaduais para debater o tema. Segundo o governo, os impactos da seca este ano devem começar antes, já a partir do mês de julho.
Uma das principais ações já em andamento é garantir água potável às regiões mais distantes e afetadas pela falta de navegabilidade dos rios.
A Defesa Civil instalou este ano de 42 estações de tratamento, e a Cosama (Companhia de Saneamento do Amazonas) deve instalar mais 20 até o final de setembro. Já moradores de quatro RDS (Reservas de Desenvolvimento Sustentável) receberam filtros de barro e 60 caixas d'água para garantir água limpa.
Esta semana, a Secretaria de Estado de Saúde reforçou o envio de medicamentos e produtos da saúde para municípios das calhas do Alto Solimões, Madeira, Purus e Juruá, que têm níveis baixos de água.
Já o Governo Federal publicou editais para contratação de dragagens para dos rios Amazonas e Solimões. Serão investidos R$ 505 milhões em obras para recuperar a capacidade de navegação dos rios essenciais para transporte de pessoas e mercadorias.
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