Topo

IML de Americana (SP) se transforma em casa de servidor público

Eduardo Schiavoni

Do UOL, Americana (SP)

02/12/2014 19h22

O IML (Instituto Médico Legal) de Americana (127 km de São Paulo) se transformou, há cerca de dois meses, a casa de um servidor que se separou da mulher. Ele disse que não tem condição de pagar aluguel e afirmou ainda ter sido autorizado pelos seus superiores a habitar o local, mas que irá se mudar do espaço até o fim do ano. A prefeitura informou que apura se realmente houve a autorização e de quem ela partiu.

O IML fica instalado no Cemitério do Parque Gramado, e o local ocupado pelo servidor fica ao lado do necrotério, onde ficam os corpos a espera de identificação. Lá, foram instalados uma cama, uma mesa, um guarda-roupa e uma televisão.

Douglas Pereira da Silva, que é jardineiro concursado pela Prefeitura de Americana há 15 anos e, desde 2008, está cedido ao IML, confirmou a informação, em entrevista ao jornal "O Liberal", de Americana.

“Assim que ela for viajar, vou morar na casa de novo. Eu não tenho condições de pagar aluguel em outro lugar porque continuo 'bancando' minha família. Eu fiz a divisão e não é nada clandestino porque avisei meus superiores", disse o jardineiro.

Procurado pelo UOL, no entanto, ele disse que permanece no local “em plantões de 24h”. Ele afirmou, no entanto, que está se separando da mulher e que dorme no local. Silva também disse que já foi chamado pela prefeitura para explicar o fato.

“Isso vai dar problema pra mim, então não tenho nada a declarar sobre isso”, informou. Ele confirmou, no entanto, que é normal que pessoas pernoitem no local. “Os médicos descansam quando estão de plantão, em alguns IMLs eles podem até passar a noite."

Antes, Silva havia dito que vive no local “há mais ou menos dois meses” e que trouxe as coisas para o IML após decidir se separar da mulher. Ainda segundo ele, a ex-companheira ficou na casa que ambos alugavam, mas já se comprometeu a voltar para a Bahia, estado de origem do casal, com os dois filhos resultantes da união. Ele disse que a mudança deve ocorrer até o fim do ano e que, assim que ela for embora, ele voltará para casa.

Em entrevista a "O Liberal", no entanto, ele afirmou que reconhecia que não deveria morar no local, mas que, desde que se “mudou” para o IML, os casos de vandalismo zeraram.

“Sei que não é lugar de pessoa morar, mas pelo menos eu tomo conta. Já conversei até com alunos de escolas do bairro que quebravam janelas, fechaduras e torneiras do cemitério e agora não temos mais problema nenhum. Mas daqui há dois meses, no máximo, volta a ser como era antes", completou.

Improbidade

De acordo com o advogado Gustavo Bugalho, especializado em direito público, se for confirmada a autorização para que o servidor morasse, ainda que temporariamente, no local, os responsáveis poderão ser enquadrados improbidade administrativa.

"O prédio é um bem público, que não pode ser utilizado como residência. Tanto o servidor, que se beneficiou, quanto o chefe, se autorizou, podem ser responsabilizados", informou. A pena para o crime inclui multa e perda do cargo, entre outras punições possíveis.

Questionada sobre a suposta autorização dada ao funcionário e sobre eventuais punições aos envolvidos,  a Prefeitura de Americana, responsável pela administração do espaço, informou que o servidor mora no local, mas que apura se houve e de onde partiu a autorização que teria sido dada ao servidor.