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Ele tatuou até a bunda para que a mulher deixasse de fumar, e ela não parou

Carlos Eduardo Cherem

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte

17/10/2015 06h00

Em 2004, o ex-chefe de segurança Roberto Matrigani pediu à mulher, Helena de Almeida Matrigani, que deixasse de fumar. Contrariada, Helena foi ríspida e ameaçou: “Você pode tatuar até a bunda que eu não vou parar de fumar”.

As promessas se cumpriram e o casal de Sorocaba (a 100 km de São Paulo) continua junto. Ela, aos 64 anos, ainda fuma algo entre oito e dez cigarros por dia. Ele, aos 67, tem o corpo todo tatuado, com exceção da cabeça e rosto, antebraços, pés e mãos. O corpo de Matrigani “está fechado” pelos desenhos do tatuador Rafael Fernandes, 32.

Fernandes recebeu nove troféus com tatuagens feitas no corpo do ex-segurança. Matrigani recebeu cerca de 40 homenagens, entre 2011 e este ano, nos diversos eventos ligados à tatuagem espalhados pelo país.

“Existem dois tipos de concursos, num a tatuagem tem de ser feita no local, em outro pode ser feita antes. Quem recebe os prêmios são os tatuadores, os tatuados não recebem nada”, afirma Matrigani.

Ele explica que, com Fernandes, formou uma dupla, que “bombou em todo os concursos de tattoo do país”, entre 2008 e 2011, tornando-se uma espécie de “hors concours” devido à qualidade excepcional.

Atualmente, ele participa como convidado especial desses eventos, numa média de dois por mês, em todo o país, com um cachê que varia entre R$ 500 e R$ 1.000, mais despesas.

“Dependendo do evento, num Tattoo SP Week por exemplo, eu chego a tirar mais de 5.000 fotos. Meus olhos ficam ardendo. Às vezes é muito cansativo, mas eu gosto”, diz. Normalmente, ele veste sungas nos eventos, para tornar visíveis as tatuagens. “A da bunda, tenho que abaixar a sunga”, afirma ele.

Não faça o que faço

Até 2004, quando se aposentou do serviço de chefe de segurança de uma indústria em Sorocaba, Matrigani tinha “umas duas ou três tatuagens bem escondidas”. “A empresa não via com bons olhos a tatuagem e eu era o chefe da segurança”, diz ele.

A primeira tatuagem foi feita em 1970 com palitos e agulhas. Não havia máquinas como hoje, explica. “Tinha uma tatuagem na perna esquerda, que não dava para ver”, afirma. De lá para cá, o aposentado fez 80 tatuagens e cobriu o corpo totalmente. “Estou fechado.”

Cinco anos antes da ameaça da mulher com o cigarro, um filho de Matrigani, então com 16 anos de idade, tentou fazer uma tatuagem em casa, quando ele chegava do serviço. O ex-segurança impediu e colocou o tatuador para fora da residência.

“Hoje a pessoa só pode fazer tatuagem após os 18 anos. Mas, independente da idade, eu acho que a pessoa só deve fazer uma tatuagem quando for dona de sua própria vida. Quando for dona de seu próprio nariz”, afirma. O filho, explica, só foi fazer uma tatuagem aos 25 anos de idade. Já estava casado.

O ex-chefe de segurança tem um casal de filhos que, juntos com o genro e a nora, têm tatuagens no corpo. “Poucas e discretas, meu filho é o que mais tem: três”, diz. Nenhum dos cinco netos, com idades variando entre cinco e 17 anos, têm tatuagens.

Promessa e preconceito

“Virei amante disso tudo. Gosto de tatuagem. Se ela [a mulher] parar de fumar, eu mando ela voltar a fumar. Mas não tiro nenhuma [tatuagem]”, afirma.

“Não bebo, não fumo, tenho bons hábitos de alimentação e uma vida saudável. Vejo pessoas na minha idade pintando o cabelo de vermelho, fumando e bebendo.”

“Outro dia, num ponto de ônibus, eu ouvi uma senhora falando da minha tatuagem no peito, que ela tinha visto. Puro preconceito, se eu colocar um terno, ninguém vê as tatuagens. Que diferença faz para ela?”, indaga Matrigani.