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"Lembro até hoje com nojo", diz vítima de médico acusado de estupro em SC

Aline Torres

Colaboração para o UOL, em Florianópolis

25/02/2016 20h13

“É a minha hora de fazer Justiça”. Assim, finaliza o seu depoimento ao UOL uma das 38 mulheres que acusam o médico Omar César Ferreira de Castro, 66, de assédio sexual ou estupro, em Florianópolis.

Há oito anos, a veterinária Ana [nome fictício já que a vítima preferiu não se identificar] procurou Castro porque sabia que ele receitava facilmente sibutramina, substância controlada para emagrecer.

Na ocasião, o médico explicou que precisava examinar sua glândula tireoide. “Ele foi atrás de mim, começou a apalpar meus braços, pescoço, e eu sentia ele cada vez mais perto. Comecei a sentir o pênis dele encostando ao meu corpo. Fiquei desconfortável, com vontade de chorar, mas achei que não fosse intencional, que ele não tinha percebido, sei lá. Me afastei e virei. Foi quando ele me puxou a força e tentou me beijar, lembro até hoje com nojo da língua dele passando no meu rosto. Lembro do cheiro. Meu Deus! Eu gritava e ele nem aí. Me senti fraca”, contou Ana.

Na saída do consultório, ela ligou para os pais e juntos foram à delegacia. Ana imaginava que sua experiência seria suficiente para que o médico fosse preso, mas se enganou.

“Foi um balde de água fria. Eles mal me ouviram. A escrivã ainda teve a coragem de perguntar sobre a minha roupa. Saí de lá e fui para casa, nunca mais mexi nessa história. Mas, quando soube que ele foi preso pensei: ‘é minha hora de fazer justiça´”.

Novas denúncias

Ana e outras 23 mulheres decidiram procurar a Polícia, depois que souberam da prisão de Castro, há dez dias. Com as novas denúncias somam 38 boletins de ocorrência no inquérito policial.

As vítimas de Castro tiveram experiências semelhantes. Procuraram o médico, que é um nutrólogo famoso na cidade, com intuito de emagrecer, mas foram abusadas.

“Ele tocava os seios e as costas das pacientes com argumento de examiná-las, mas, em seguida, mandava elogios como ‘você poderia ser miss’ ou fazia perguntas íntimas, como ‘você transa apenas com camisinha?’. Depois tentava beijá-las à força, pedia sexo oral, fazia carícias pesadas. Algumas mulheres conseguiram escapar, outras foram dopadas e estupradas”, informou o delegado responsável pelo caso Ricardo Thomé.

O prazo para a conclusão do inquérito, que investiga também qual substância química Castro usava para dopar as pacientes, é dia 16 de março.

Para o advogado Francisco Ferreira, que defende Ana e outras vítimas, é possível que o número de vítimas  aumente. “Todos os dias recebo ligações de mulheres que desejam marcar horário para contarem suas histórias”, disse. Nesse período, metade das vítimas buscou o advogado com um objetivo em comum: manter o médico na prisão.

Para o advogado, os depoimentos são suficientes para converter a prisão de Castro de temporária para preventiva. A diferença é o tempo da pena. A temporária dura 30 dias e a preventiva até o julgamento ou pelo período necessário para não atrapalhar as investigações.
“Algumas vítimas estão sendo ameaçadas por anônimos, que aconselham que elas desistam porque ele é rico e poderoso. Mas o pior é que uma vez solto ele pode fugir, como o outro médico, o Roger Abdelmassih. Ele foi preso em 2014 e condenado há 278 anos por estuprar 39 pacientes mulheres. Antes ficou três anos foragido no Paraguai”, disse Ferreira.

Castro possui consultório em um dos prédios mais tradicionais do Centro de Florianópolis, o Ceisa Center, na Avenida Osmar Cunha. De acordo com sua secretária, ele atendia até 70 pacientes por dia. As consultas custavam em média R$ 120.

Castro só irá prestar depoimento na parte final do inquérito, o advogado do médico, Alceu Oliveira Pinto Júnior, disse ao UOL que não irá se manifestar sobre o processo a pedido da família.