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Vítimas de violência, cães baleados em tiroteios no Rio esperam adoção

Netinho Coragem levou cinco tiros durante um tiroteio entre gangues rivais em uma favela no norte do Rio de Janeiro e sobreviveu - Silvia Izquierdo/AP
Netinho Coragem levou cinco tiros durante um tiroteio entre gangues rivais em uma favela no norte do Rio de Janeiro e sobreviveu Imagem: Silvia Izquierdo/AP

Do UOL, em São Paulo

22/07/2016 06h00

Netinho Coragem já pode ser considerado um “highlander” do mundo animal. O cão recebeu cinco tiros durante um tiroteio entre gangues rivais em uma favela no norte do Rio de Janeiro, mas sobreviveu. Ele passou por uma cirurgia e se recupera em um abrigo para animais da Suipa (Sociedade União Internacional Protetora dos Animais). Está à espera de um novo lar.

Netinho foi resgatado por profissionais do centro de adoção depois que moradores ligaram para a instituição. “É um milagre que ele esteja vivo. A maioria dos cães teriam morrido no local antes que nos pudéssemos chegar lá”, disse João Wassita, veterinário à frente do grupo, à agência de notícias AP.

Além de afetar os moradores, o crescimento da violência no Rio de Janeiro também atinge os animais, que se veem em meio ao fogo cruzado dos tiroteios tão comuns nas favelas.

Netinho foi o segundo cachorro em menos de um mês a sobreviver aos tiroteios rotineiros no Rio de Janeiro, semanas antes das Olimpíadas. O governo não contabiliza o número de animais feridos ou mortos em tiroteios, mas os veterinários do abrigo afirmam que têm percebido um crescimento desse tipo de ocorrência.

Segundo dados da Anistia Internacional coletados através de um aplicativo lançado recentemente pela entidade, apenas na semana que Netinho foi baleado houve 265 tiroteios relatados na região, com ao menos 24 pessoas mortas.

Cão baleado 1 - Silvia Izquierdo/AP - Silvia Izquierdo/AP
O vira-lata Sheik foi baleado durante um tiroteio na favela do Jacarezinho em 14 de junho e levado para o abrigo em um carrinho de mão
Imagem: Silvia Izquierdo/AP

O vira-lata Sheik é “vizinho” de Netinho no abrigo da Suipa. Ele também foi vítima da violência. O cachorro foi baleado durante um tiroteio na favela do Jacarezinho em 14 de junho e levado para o abrigo em um carrinho de mão. O ferimento foi tão grave que os veterinários precisarão amputar a perna do animal.

O abrigo tem muita experiência no tratamento de animais com feridas de bala. “Enquanto eu dou essa entrevista, certamente estamos recebendo ligações para o resgate de algum animal ferido em tiroteio”, disse Wassita, enquanto acariciava um cavalo de 12 anos chamado Empezão, que sobreviveu ao disparo de um rifle em 2014.

Cavalo baleado - Silvia Izquierdo/AP - Silvia Izquierdo/AP
O cavalo Empezão, de 12 anos, sobreviveu ao disparo de um rifle em 2014
Imagem: Silvia Izquierdo/AP

Até uma tartaruga já foi tratada pela Suipa. Ela foi baleada entre as patas traseiras e recebeu uma cadeira de rodas para voltar a andar.

O abrigo tem 73 anos e atualmente cuida de 4.500 cães, 600 gatos, dezenas de cavalos e outros animais.

A instituição, no entanto, sofre o risco de fechar suas portas pela falta de recursos financeiros. A Suipa tem mais de US$ 4 milhões de dívidas e as doações caíram substancialmente por causa da crise econômica vivenciada no Brasil. "Suipa é um retrato do estado financeiro do Brasil", disse Izabel Nascimento, presidente do grupo.