"É um gesto de carinho", diz prima sobre enterro coletivo de vítimas de chacina
Familiares e amigos se despedem neste sábado (12) dos cinco jovens encontrados mortos em uma área rural de Mogi das Cruzes (Grande São Paulo). Dezenas de pessoas levaram flores ao Cemitério da Vila Alpina, na zona leste da capital, onde o enterro coletivo de quatro vítimas será realizado. Outra será enterrada no Cemitério da Vila Formosa. Por volta das 14h, os corpos ainda não haviam chegado ao local.
Jones Ferreira Araújo, 30, César Augusto Gomes, 19, Jonathan Moreira, 18, Caique Henrique Machado, 18, e Robson Donato de Paula, 16, desapareceram no dia 21 de outubro no Jardim Rodolfo Pirani, na zona leste de São Paulo.
Os corpos foram encontrados no domingo (6), em uma área rural de Mogi das Cruzes, em estado avançando de decomposição, enterrados em covas rasas e cobertos com cal. Um guarda civil de Santo André está preso suspeito de participação nas mortes.
A família de Jones chegou a ir até o Cemitério da Vila Alpina, acreditando que os cinco seriam enterrados no local. Como Jones foi a última vítima a ser identificada, na noite da quinta-feira (10), por meio de teste de DNA, não houve tempo de viabilizar seu sepultamento junto com os demais, segundo Cheila Olalla, do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, órgão do governo do Estado.
Jones não será enterrado hoje. Como o corpo ainda não foi liberado pelo IML (Instituto Médico Legal) e o cemitério fecha às 17h, não haverá tempo hábil para realizar o sepultamento. A data do enterro não foi confirmada.
Os parentes e amigos chegaram ao Cemitério da Vila Alpina a pé e em um ônibus cedido pela Prefeitura de São Paulo. Eles entraram no local em silêncio, levando flores. Para os familiares, o sepultamento dos jovens juntos é um ato de união e solidariedade.
"Estamos juntos nos momentos de dificuldades, e também num momento de dor como esse", disse Kennedy Vasconcelos, 18, primo de Robson.
Foram oferecidas às famílias salas de velório individuais. Mas os parentes tentam providenciar o velório coletivo. "Se despedir deles juntos é um gesto de carinho", disse Sarah Santos, 14, prima de Robson. "Eu conhecia todos", afirma.
Para realizar o enterro, as famílias tiveram que esperar a identificação de todos os corpos e enfrentar a resistência do Governo do Estado de São Paulo, que pressionava pelo enterro e negou-se a autorizar uma perícia independente solicitada pelas famílias.
O Estado chegou a dizer que poderia sepultar os jovens como indigentes por uma questão sanitária - os corpos estavam em avançado estado de decomposição. Robson, que tinha uma prótese na coluna, foi o primeiro a ser identificado, na segunda-feira (7).
Zilda Maria de Paula, mãe de uma das vítimas da chacina que ocorreu em Osasco em 13 de agosto de 2015, foi ao enterro em gesto de apoio. "A dor de mãe é a mesma. Morte a gente aceita, mas não assim. Ninguém tem direito de matar o filho da gente", disse.
Para Zilda, que representa um grupo organizado por mães de vítimas da chacina de Osasco, "uma chacina cobre a outra". "Não queremos deixar que esqueçam, vamos cobrar para esclarecer as mortes e para pararem com elas."
Ativistas da ONG Rio de Paz, que luta contra a violação de direitos humanos, realizaram uma manifestação no cemitério com uma faixa com os dizeres: "Governo do Estado de São Paulo, quem matou os cinco?".
"A intenção desse ato é cobrar o Governo do Estado pela elucidação rápida do caso. Quanto mais rápido for elucidado o crime, melhor se garante que não haja impunidade", diz Fernanda Vallim Martos, coordenadora da ONG.
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