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1 ano após desastre, turismo ainda vive crise em Mariana (MG) e Linhares (ES)

Moradores observam o mar de lama no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), após o rompimento de barragem da mineradora Samarco Imagem: Antonio Lacerda/ EFE

Carlos Eduardo Cherem e Rayder Bragon

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte

15/11/2016 06h00

O rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), considerado o pior desastre ambiental do país, ainda afeta o turismo na cidade histórica mineira e na praia de Regência, distrito de Linhares (ES), passados 12 meses da tragédia que deixou 19 mortos.

Desde o acidente, no dia 5 de novembro de 2015, a administração de Mariana diz vir trabalhando para acabar com boatos de que o centro histórico da cidade tenha sido afetado pela lama. "A principal estratégia se deu no sentido de reverter a imagem negativa de que a cidade havia sido destruída. Continuamos nos esforçando nesse sentido. Percebemos que, após um ano, esse trabalho vem surtindo efeito."

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Além dos impactos ambientais dos rejeitos de minério de ferro, o cenário econômico desfavorável é outro fator que atrapalha a volta à normalidade para quem vive às custas dos viajantes. 

"O fluxo turístico da cidade caiu, o que pode ser comprovado pela baixa ocupação registrada pelos meios de hospedagem. No entanto, essa queda é refletida também por outros fatores, como a crise econômica brasileira", afirma o secretário de Turismo de Mariana, José Luiz Papa.

O presidente da Associação do Circuito Turístico do Ouro em Minas Gerais Ubiraney de Figueiredo Silva, por sua vez, lembra outros fatores para explicar a evasão de turistas de Mariana e a queda de faturamento. "Essa tragédia veio no pior momento, porque a queda de arrecadação do município já vinha sendo afetada pela baixa do preço do minério de ferro no exterior", diz.

Segundo o executivo, o desaquecimento do turismo também atrapalha outras cidades próximas. "Para a região, é muito importante que o turismo se restabeleça em Mariana, porque, apesar de Ouro Preto ter mantido o fluxo de turistas, não interessa para nós somente o turismo em Ouro Preto. Interessa que o turista visite as demais cidades da região."

Para o presidente do Circuito do Ouro de Minas Gerais da ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis), Antonino Tavares dos Santos, a crise econômica brasileira afetou o segmento mais do que qualquer outra questão. Santos, no entanto, disse acreditar que o pior da crise já tenha passado.

"O impacto é agora na questão da crise econômica brasileira. A rede hoteleira foi prejudicada. Por outro lado, temos que incentivar as pessoas a voltarem a viajar. O segmento está, aos poucos se recuperando, já parou de cair tanto, mas precisa ser mais acelerado esse processo de recuperação."

Lama invade mar em Regência, no Espírito Santo Imagem: Ricardo Moraes/Reuters
Mudança de perfil

Impacto semelhante aconteceu em Regência, famosa por ser destino turístico sobretudo de surfistas. Para o secretário de Turismo do Espírito Santo, José Sales Filho, com as informações negativas do impacto do desastre sobre o litoral capixaba, houve um reflexo imediato no turismo.

"Logo no início do verão de 2015/2016, com as notícias de que mais de 400 quilômetros de praias capixabas haviam sido contaminados, houve um refluxo do número de turistas. Tanto é que iniciamos imediatamente a campanha 'Tá Dando Praia', para explicar que o litoral do Estado não havia sido atingido dessa forma", afirma o executivo.

Sales Filho explica que essa situação foi contornada em parte por uma mudança no perfil de turistas no verão. "O problema maior causado pela lama foi em Regência. A lama impediu a continuação da prática do surfe. Mas o município está dando a volta por cima. A alternativa foi mudar", diz.

Ele explica que moradores e visitantes habituais de Regência, apoiados por organizações não governamentais e órgãos públicos, alteraram o calendário de atividades no distrito, incorporando música, gastronomia e celebrações históricas, o que tem movimentado o turismo em Linhares. O visitante ampliou seus gastos médios em cerca de 40%, e o tempo de permanência do viajante passou de nove dias, também em média, para 11 dias.

"Como Regência é um point de surfistas e artistas, conhecido internacionalmente, houve muita solidariedade, sobretudo por causa das questões ambientais. A necessidade de melhorar a autoestima fez ainda com que a população ficasse muito unida nessa situação. Isso acabou fazendo com que as coisas acontecessem", afirma. "Qualquer retração no turismo está relacionada à retração econômica do país, mais do que qualquer outra coisa."

O vice-presidente da Fecomércio (Federação do Comércio, Serviços e Turismo) do Espírito Santo, João Elvécio Faé, avalia que como "as duas tragédias vieram juntas", o desastre de Fundão e a recessão na economia brasileira, é difícil apontar as causas da retração no turismo do Estado.

"As notícias ruins do desastre e a recessão vieram e, concomitantemente, tiveram impactos no verão de 2015/2016. Houve um recuo no número de turistas, que esperamos que não se repita neste verão", afirma o executivo.

Para Faé, como a lama de rejeitos de minério atingiu pontualmente o Estado, sobretudo no município de Linhares, a expectativa é que os possíveis estragos da tragédia de Mariana exclusivamente em relação ao turismo capixaba já tenham sido eliminados.

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