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Caso Yoki: Elize Matsunaga começa a ser julgada em SP nesta segunda

Quais as estratégias da defesa e da acusação para o júri?

SBT Online

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

28/11/2016 06h00

Um dos crimes mais violentos da história policial brasileira pode ter um veredicto esta semana, em São Paulo, quatro anos e meio depois de chocar o país. A partir das 9h30 desta segunda-feira (28), Elize Matsunaga, 34, vai a júri popular no Fórum Criminal da Barra Funda (zona oeste de São Paulo) acusada de matar, esquartejar e ocultar o corpo do marido, o empresário Marcos Matsunaga, 42, em maio de 2012. Ela está presa desde aquele ano na Penitenciária do Tremembé, e, se condenada à pena máxima pedida pela acusação, pode pegar até 33 anos de reclusão –30 por homicídio triplamente qualificado e três por ocultação e destruição de cadáver.

A previsão do Tribunal de Justiça de São Paulo é que o julgamento dure até cinco dias, principalmente em função do número de testemunhas arroladas, 20 --dez da defesa e dez da acusação. Outras duas testemunhas podem ser ouvidas, no caso, dois peritos.

O crime aconteceu no apartamento do casal, em 19 de maio de 2012, na Vila Leopoldina, zona oeste da capital. Sacos com partes do corpo do empresário começaram a ser encontrados dois dias depois em Cotia, na Grande São Paulo, pela GCM (Guarda Civil Metropolitana). O empresário era um dos sócios do grupo alimentício Yoki.

As investigações começaram com a suspeita de sequestro, mas, com a descoberta das partes do corpo, chegaram a Elize, que disse ter conhecido o empresário por meio de um site de relacionamentos. Dias depois de ser presa, ela confessou ter matado o marido com um tiro e o esquartejado, sob a alegação de ter agido em desespero, já que Matsunaga a maltrataria, a trairia com uma prostituta e a ameaçaria com a separação e a tomada da guarda da filha única do casal.

O casal Matsunaga - SBT Online - SBT Online
O casal Matsunaga
Imagem: SBT Online

“Esse é claramente um crime de ódio incontido", diz promotor

Para o Ministério Público, Elize matou o marido porque o casamento deles já estaria “arruinado”, e, com a morte do empresário, ela ficaria com a guarda da filha – única herdeira do marido.

“Ela agiu por vingança, pois tinha prévio conhecimento de que o Marcos estava saindo com outra pessoa. Isso não é só percepção: eles dormiam em quartos separados, o casamento estava arruinado, e a mim ficou claro que o desaparecimento dele resolvia dois problemas: ela se livraria do ódio com que estava e ficaria com a guarda natural da filha, que era a herdeira, então, ficaria com a herança – que era 30 vezes mais que a pensão que ela receberia caso se separassem”, afirmou o promotor de justiça José Carlos Cosenzo.

O MP vai defender que o homicídio teve três qualificadoras: motivo torpe, uso de recurso que impossibilitasse a defesa da vítima (no caso, um tiro) e meio cruel, já que, para a acusação, o empresário foi esquartejado ainda vivo. Conforme o promotor, isso estaria provado tecnicamente pela autópsia, que descobriu sangue nas vias respiratórias e no pulmão, situação comum, por exemplo, com a degola.

“Está demonstrado claramente no processo que esse é um crime de ódio incontido”, classificou Cosenzo.

Para IML, Matsunaga foi esquartejado morto - Band Notícias - Band Notícias
Para IML, Matsunaga foi esquartejado morto
Imagem: Band Notícias

"Ele até puxava a cadeira para ela", afirma advogado da família

Contratado pela família do empresário, o advogado Luiz Flávio D’Urso vai atuar como assistente da acusação durante o júri. “O Marcos era apaixonado pela Elize, até puxava a cadeira para ela, atendia todos os desejos dela, era extremamente carinhoso e dava todo o apoio material e financeiro. Isso está largamente comprovado no processo –embora ela diga que, no dia dos fatos, ele teria dado um tapa na mulher”, afirmou.

Conforme D’Urso, entre as testemunhas da acusação estão um irmão e uma prima de Marcos, além do reverendo da igreja anglicana que os casou e policiais.

A primeira mulher do empresário –que, segundo Elize, nos autos, teria sofrido uma tentativa de assassinato por parte dele, por envenenamento –se recusou a testemunhar. “Mas ela nos deu uma declaração em que desmente essa acusação contra o Marcos”, completou D’Urso.

Para defesa, "qualquer pessoa poderia praticar o mesmo ato"

A advogada Roselle Soglio, que defende Elize, declarou que a defesa argumentará contra as três qualificadoras apresentadas pela acusação.
“O promotor quer colocar a ré como uma mulher cruel, ou que não prestava, e nada disso é verdade. Basta ler o processo para entender que ela era uma mãe dedicada e uma mulher incrível, mas que, com o desenrolar de uma briga, acabou resultado nisso”, disse.

Segundo a advogada, Elize, que tem bom comportamento e trabalha no setor de costura do presídio, “está muito ansiosa” pelo júri.
“Ela quer demais que esse julgamento aconteça a partir desta segunda, e quer principalmente que as pessoas entendam o ato praticado por ela e que a verdade seja dita”, afirmou.

Indagada se o fato de o corpo do empresário ter sido esquartejado e ocultado pode dificultar o entendimento dos jurados por um eventual abrandamento da pena, a advogada resumiu: “Nada é fácil, e apenas aqueles que se dispuserem a entender e estiverem dispostos a ouvir os dois lados e compreender toda a circunstância do que ocorreu é que conhecerão a verdade sobre os fatos”, falou.

“Teve um ato de um mãe desesperada, e, nesse sentido, acredito que qualquer pessoa poderia praticar o mesmo ato –ele não está fora de nenhum padrão se houver a ameaça de seu filho ser tomado e você ser internada como louca. Ela não queria matar o Marcos, mas isso aconteceu no transcorrer de uma briga; é algo bastante complexo”, definiu.

Entre as testemunhas arroladas pela defesa de Elize, estão peritos do local do crime, médicos legistas, uma delegada de polícia e amigos que conheceriam a rotina do casal.

A filha do casal vive com os pais do empresário até que a Justiça, em outro processo, decida em definitivo pela guarda da criança. Órfã de pai e mãe, a família de Elize vive no interior do Paraná.