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Após uma semana, veja perguntas sem respostas sobre a morte de João Victor

Do UOL, em São Paulo

06/03/2017 16h16Atualizada em 08/03/2017 14h56

Agressão? Parada cardiorrespiratória? Conduta questionável de policiais? Muitas dúvidas sobre a morte do garoto João Victor, 13 anos, e o possível envolvimento de funcionários de uma unidade do Habib’s, na zona norte de São Paulo, ainda pairam no ar. O garoto teve um infarto pouco depois de ter sido perseguido por funcionários do restaurante. O garoto foi socorrido no local, mas não resistiu.

O caso ocorreu na noite de domingo (26) e foi registrado pela Polícia Civil na madrugada de segunda (27). Após uma semana, a família do garoto ainda espera por respostas.

Os pais acusam os funcionários de terem agredido João Victor. O Habib's emitiu nota oficial nesta segunda-feira (06) reiterando informações divulgadas pela empresa na semana passada. A rede diz que "repudia veementemente todo e qualquer ato de violência física ou moral realizada por qualquer pessoa, por qualquer que seja o motivo". A empresa, que na quinta-feira (02), após divulgação de imagens de câmeras de segurança, informou ter afastado os funcionários investigados até o término do inquérito, afirmou que "o tratamento dado pelos funcionários ao adolescente não reflete de forma alguma os princípios, o direcionamento e o treinamento dado pela empresa". Por fim, o Habib's, ainda em nota, disse que aguarda o laudo do IML para tomar "medidas cabíveis".

A assessoria da SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública) enviou na tarde de hoje (6) informando que funcionários do estabelecimento já prestaram depoimento e que mais pessoas estão sendo intimadas. A Secretaria não deu detalhes sobre as investigações.

"A Polícia Civil esclarece que o caso segue sob investigação por meio de inquérito no 28º DP. Diversas pessoas já prestaram depoimento na delegacia, incluindo funcionários do estabelecimento, e outras estão sendo intimadas".

Laudo aponta infarto por ingestão de drogas

O laudo necroscópico do IML (Instituto Médico Legal), divulgado na terça-feira (7), concluiu que João Victor morreu de infarto cardíaco por ingestão de drogas.

Os exames detectaram a presença de sustâncias presentes no lança-perfume. Algumas escoriações também foram detectadas, mas não havia trauma na cabeça do garoto, conforme o documento.

Apesar do resultado, a família ainda acredita que o garoto foi agredido pelos funcionários do restaurante e que isso contribuiu para a sua morte. Uma testemunha do caso disse em depoimento que, no dia da morte, viu um homem segurando o garoto pela gola da camisa e dando um soco na cabeça dele. 

Por outro lado, os funcionários do restaurante dizem, de acordo com o boletim de ocorrência registrado na segunda, que o menino estava incontrolável” e ameaçando funcionários e clientes. Eles tentaram reprendê-lo e ele desmaiou depois de ter saído correndo, de acordo com o relato prestado.

Por que a única testemunha não foi ouvida no dia da ocorrência?

Outra questão que está sem resposta é por qual motivo Silvia Helena Troti, 59, não foi ouvida pelos policiais que atenderam a ocorrência no domingo.

Vizinha da família de João Victor, ela disse ter visto quando o menino levou um soco de um dos funcionários. Na data, ela afirmou que os policiais a chamaram de "noia" [com envolvimento com drogas] e disseram que não serviria para depor. Seu depoimento só foi realizado na quarta-feira (1º), três dias depois do ocorrido.

Em seu relato no 28º DP, ela repetiu que viu João Victor ser agredido e que em determinado momento ele desmaiou.

Imagens de uma câmera de segurança registraram o momento em que o garoto é visto atravessando a rua correndo e sendo seguido por dois homens. Após alguns instantes, eles voltam para o lugar de origem, arrastando o menino e o jogando contra o chão. Aparentemente, ele está desacordado e não demonstra reação.

Por que os pais do garoto só foram ouvidos depois do feriado?

Os pais de João Victor só tiveram seus depoimentos colhidos na tarde de quarta-feira (1º), três dias depois da morte, que ocorreu durante o feriado de Carnaval. Para o advogado Ariel de Castro Alves, que acompanha a família e que é membro do Condepe (Conselho Estadual de Defesa da Pessoa Humana), a demora na abertura do inquérito é absurda.

"Os fatos ocorreram às 19h do dia 26. O registro ocorreu apenas às 4h da manhã do dia 27. E as investigações começaram só três dias depois. Apurações de mortes não podem aguardar o final de feriados", relatou, em referência ao Carnaval.

UOL tenta desde a tarde de quinta-feira (2) um posicionamento da SSP (Secretaria de Segurança Pública) sobre a abertura do inquérito e sobre a demora para ouvir a única testemunha do caso, mas ainda não obteve um retorno detalhado sobre essas questões.

A investigação termina com o resultado do laudo do IML?

A conclusão do laudo do IML é apenas uma das provas do caso e, por isso, a investigação deve prosseguir.

Segundo Alves, os investigadores precisam analisar o documento em conjunto com os depoimentos de testemunhas, que relataram na delegacia terem visto o garoto ser agredido.

"É fundamental que as investigações prossigam através dos depoimentos de novas testemunhas e também com a análise de outras imagens e com a realização de novas perícias", declarou.