"Ele gostava de ser livre", diz mãe de carroceiro morto por PM
A mãe do carroceiro Ricardo de Oliveira Santos, 39, morto por um policial militar em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, na última quarta-feira (12) se mostrou resignada durante o enterro do filho no cemitério do Perus, zona norte da capital. "Não tem o que fazer", disse Aristides Silva Santana, 54.
A mãe do carroceiro, que estava afastada dele havia cerca 10 de anos, disse que o filho era uma pessoa boa, mas decidiu ir embora de casa e viver na rua. "Sempre fez o que quis, gostava de ser livre", contou.
No entanto, ela costumava vê-lo quase todos os dias. Há 30 anos ela trabalha como empregada doméstica em uma casa em Pinheiros, bairro onde o filho escolheu para viver, mesmo que na rua. "Passava por ele quase todos os dias, mas ele não queria falar comigo."
"Quando eu ficava três dias sem vê-lo, ficava preocupada. Não dormia pensando como ele vivia naquelas condições", contou a mãe. A última vez que eles conversaram foi há cerca de três anos, quando ele foi até a casa dela pedir um cobertor. "Conversamos pouco e ele quis voltar para a rua."
O carroceiro tinha duas irmãs. A caçula, a missionária evangélica Rosângela de Lima, 35 anos, se lembra de Ricardo como "feliz". Ele chegou a estudar inglês e francês. "Fez o que queria. Foi vendedor, atendente. Só não casou porque não quis: recusou um pedido de noivado. Gostava de ser livre", disse.
Ricardo nunca teve um grande sonho na vida, mas o que mais gostava era de jogar futebol. Já a irmã tinha como sonho ser policial. "Eu ia virar policial, mas Deus me puxou e hoje eu sirvo a Deus", afirmou.
Abraçada ao padre Julio Lancelotti, da Pastoral do Povo de Rua, Rosângela afirmou estar tranquila, porque "agora Ricardo está num caminho de luz".
Na próxima quarta-feira (19), ao meio-dia, uma missa em homenagem ao carroceiro será realizada na Catedral da Sé, centro de São Paulo.
A Corregedoria da PM investiga as circunstâncias do crime. Segundo a SSP (Secretaria da Segurança Pública), o DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), da Polícia Civil, instaurou inquérito e ouviu testemunhas. A arma do PM envolvido na ocorrência foi enviada para perícia e o policial, afastado de atividades operacionais.
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