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Suspeito de atropelar e matar ciclista em SP se entrega à polícia

Mário Prestes Neto (esq.) foi com um advogado ao 91º DP (Distrito Policial) - Aloisio Mauricio/Fotoarena/Estadão Conteúdo
Mário Prestes Neto (esq.) foi com um advogado ao 91º DP (Distrito Policial) Imagem: Aloisio Mauricio/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

03/09/2017 12h28Atualizada em 03/09/2017 17h31

O suspeito de ter atropelado e matado o ciclista Gilmar Barbosa da Mata, 45, na quarta-feira (30), se entregou neste domingo (3) à Polícia Civil. O ciclista, que trabalhava na manutenção de um motel no Morumbi, zona oeste, completaria 46 anos na sexta.

Suspeito do crime, Mário Prestes Neto, 65, identificado pela própria filha, de 38 anos, que viu reportagens sobre o crime e, ao saber que o modelo do carro usado no atropelamento era um Renault Clio de cor preta, desconfiou.

A filha do suspeito tem um carro do mesmo modelo e cor, que foi deixado muito danificado na frente de sua casa pelo pai. O UOL teve acesso ao Boletim de Ocorrência registrado pela filha na delegacia de Itapevi, na Grande São Paulo, onde vivia o suspeito. Em depoimento, ela contou a versão dada pelo pai ao seu marido, por volta das 22h de quarta.

Segundo o registro da ocorrência, o suspeito "contou para o seu companheiro [da filha] que havia sofrido uma tentativa de roubo e, ao fugir, acreditava que havia atropelado o bandido". Ainda segundo a denunciante, o genro teria sentido sinais de embriaguez do suspeito.

A filha também informou à Polícia Civil que indagou o pai sobre o ocorrido e questionou se era ele o atropelador. A denunciante afirmou que ele admitiu o atropelamento e saiu de casa. Ela então ligou para a PM (Polícia Militar) para relatar o caso.

De acordo com o delegado Elder Hamilton Leal, titular do 91º DP (Distrito Policial), na Vila Leopoldina, que investiga o crime, ao deixar o local do atropelamento sem prestar socorro à vítima, Neto será investigado por homicídio doloso, ou seja, quando há intenção de matar.

O crime pode levar a até 30 anos de prisão. "Fica caracterizado o dolo não pelo atropelamento em si, porque ele poderia ter parado logo em seguida e socorrido a vítima, como deve ser feito. Em vez disso, ele fez a fuga do local do acidente, o que caracteriza mais um crime, e ficou patente que ele teve a intenção do resultado assumido", disse.

A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Neto.

Pai de dois filhos, Gilmar havia se casado no mês passado

Gilmar Barbosa da Mata se preparava para comemorar seus 46 anos nesta sexta-feira (1º) ao lado da mulher e dos dois filhos, um de 14 e outro de 7 anos. A previsão era curtir a noite de sexta e o final de semana ao lado dos três.

31.ago.2017 - Gilmar decidiu se casar com a mulher, depois de 14 anos de convivência, no fim de julho de 2017 - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Gilmar se casou no fim do mês passado
Imagem: Arquivo Pessoal

Não deu tempo. Às 17h50 de quarta-feira (30), o motorista de um Renault Clio preto atropelou e arrastou Mata no capô do carro por cerca de 2,5 km, desde a avenida das Nações Unidas, em Osasco, na Grande São Paulo, até o viaduto do Cebolão, já na capital, onde caiu e não resistiu aos ferimentos.

Mata era pintor, mas fazia todo tipo de serviços gerais. O último emprego foi em um motel do Morumbi, zona oeste da cidade, onde atuava na manutenção do espaço. Ele sempre foi trabalhar com seu carro particular. Na quarta-feira, no entanto, decidiu ir e voltar de bicicleta pela primeira vez.

"Foi a primeira vez que ele foi trabalhar de bicicleta e aconteceu essa fatalidade", afirma à reportagem Lusimar Rodrigues, 24, amigo de Mata que estava pedalando ao lado do pintor no momento do atropelamento. Eles trabalhavam juntos.

31.ago.2017 - Gilmar Mata pedalava em ciclovia da marginal Pinheiros pouco antes de ser atropelado - Lusimar Rodrigues/Arquivo Pessoal - Lusimar Rodrigues/Arquivo Pessoal
31.ago.2017 - Gilmar da Mata pedalava em ciclovia pouco antes de ser atropelado
Imagem: Lusimar Rodrigues/Arquivo Pessoal

"Pouco tempo antes, tirei uma foto dele, feliz, pedalando", complementa. Segundo Rodrigues, no momento do atropelamento, Mata levava a bicicleta com as mãos.

Segundo a Polícia Civil, com o impacto da batida, Mata foi parar em cima do carro e se segurou pedindo ao motorista que parasse. Um homem que trabalha em um posto de gasolina testemunhou a cena e falou à Polícia Civil. É esta a testemunha que reconheceu o modelo do carro, mas não conseguiu anotar a placa do automóvel.

Mata tinha 11 irmãos e construiu a própria casa onde vivia com a mulher e os filhos, em Osasco. Ele vivia junto à companheira há 14 anos, desde que teve o primeiro filho. Mas o casal decidiu se casar no fim do mês passado. "Ele botou na cabeça que queria porque queria se casar. Se casou e agora aconteceu essa fatalidade", afirma um dos irmãos de Mata, que pede para não ser identificado.

"Além de não prestar socorro, ele aumentou a velocidade. Como pode um bicho desse à solta pela cidade, fazer isso à luz do dia?", questiona João Marcos Vieira, 27, amigo da família há anos. Além de Vieira, outras 20 pessoas, entre familiares, amigos e vizinhos, faziam uma vigília em frente à casa de Mata na manhã desta quinta-feira (31), prestando solidariedade. À tarde, Mata foi enterrado no Cemitério Santo Antônio, também em Osasco.

21 ciclistas mortos no 1º semestre de 2017

Ao todo, 21 ciclistas foram mortos na cidade de São Paulo entre janeiro e junho deste ano. O número de vítimas representa uma alta de 75%, comparado ao mesmo período de 2016, quando 12 pessoas foram mortas enquanto pedalavam na capital.

Os dados são compilados pelo Infosiga, site do governo de São Paulo que concentra estatísticas de óbitos no trânsito. De acordo com o site, o número geral de mortes no trânsito na cidade subiu 1,2%, passando de 476 para 482 casos registrados em delegacias.

Um protesto foi marcado para esta sexta-feira (1º) na praça do Ciclista, na avenida Paulista, às 20h, em homenagem à memória de Mata e exigindo justiça.

Trecho onde ciclista morreu é considerado perigoso

Band News