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Coração "doeu de felicidade": como um pai postar a foto do filho com o namorado só ajudou

Da esquerda para a direita: Abhner Benevides, Aldo Benevides e Gustavo Freitas - Reprodução/Facebook
Da esquerda para a direita: Abhner Benevides, Aldo Benevides e Gustavo Freitas Imagem: Reprodução/Facebook

Gabriela Fujita

Do UOL, em São Paulo

16/12/2017 04h00

Você já pediu para não ser beijado pela sua mãe na frente dos amigos? Ou fez cara feia quando viu um comentário “babão” do seu pai nas redes sociais? Uma demonstração pública de afeto pode incomodar os mais tímidos ou aqueles que ficam constrangidos quando os pais não disfarçam as emoções, mas para Abhner Benevides, 23, aconteceu bem o oposto. “Eu senti necessidade de agradecer porque eu sei que muita, muita gente não tem esse carinho”, diz.

O jovem morador de Campo Grande (MS) se refere a um post que o pai dele, Aldo Benevides, fez no Facebook com uma foto em que o filho aparece ao lado do namorado, Gustavo, 22. Além de marcar os dois na publicação, o pai de Abhner fez uma brincadeira e chamou Gustavo de “noro”. Os rapazes estão juntos há quatro anos.

“Meu pai já tinha feito essa brincadeira com a palavra ‘noro’, mas eu só tinha agradecido a ele em particular, não tinha postado nada sobre isso. Eu realmente não esperava que ele fosse fazer de novo", ele conta.

Eu pensei: eu tenho que compartilhar isso, porque foi emocionante para mim

Abhner Benevides, 23

O pai de Abhner é policial militar em Mato Grosso do Sul, está perto de completar 50 anos de idade e mora a 160 km do filho, em Rio Brilhante --uma cidade com cerca de 36 mil moradores, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Há cerca de dez anos, ele e a mãe de Abhner se separaram, e pai e filho se encontram de uma a duas vezes por mês.

"Meu coração dói de felicidade"

“No dia que ele compartilhou a foto, eu liguei para ele, e ele me falou que, independentemente de tudo, eu sou filho dele e que ele sente muito orgulho de ser meu pai. A gente teve uma conversa sobre isso [Abhner no post com o namorado]. Ele disse que não teria por que esconder isso, que não é uma vergonha para ele compartilhar isso”, o jovem afirma.

Depois de ver a mensagem na linha do tempo do pai, Abhner fez um agradecimento público, reproduzindo o post no Twitter com esta frase: “Meu pai não sabe o tanto que meu coração dói de felicidade quando ele faz isso”.

Em pouco tempo, o tuíte recebeu milhares de curtidas. Em menos de uma semana, foram 15 mil compartilhamentos e mais de 90 mil likes. “Eu não esperava tanta repercussão”, ele diz. “Nos comentários, as pessoas se dizem orgulhosas pela atitude e entraram no perfil do meu pai para elogiá-lo.”

“99% dos meus amigos não têm aceitação dos pais”

Criado em uma família evangélica, Abhner tem outros três irmãos homens (um deles é pastor) e só revelou que era gay há pouco tempo, quando tinha 19 anos. Ele morava com a mãe, na época. Logo depois, contou para o pai.

“Como ele é policial militar, a gente estava com medo da reação dele”, diz.

A família se reuniu na sala de casa e Abhner se revelou. “A gente estava apreensivo, mas, quando eu contei, ele falou: ‘Nossa, era só isso? Pensei que era alguma outra coisa muito séria, que você estava com câncer, que estava doente’. Foi a primeira reação positiva que eu tive, ele foi o primeiro que me aceitou.”

Todo mundo se surpreendeu. Fiquei de boca aberta. Contei para meus amigos e ninguém acreditou. Foi ótimo, eu me senti muito bem

Abhner Benevides, sobre a aceitação do pai de sua homossexualidade

O rapaz diz que a maioria das pessoas LGBT que ele conhece não pode contar com esse mesmo tipo de apoio. “Noventa e nove por cento dos meus amigos não têm aceitação dos pais, e eles acham incrível minha relação com os meus pais, me perguntam como é. Todo mundo acha o máximo.”

A foto que viralizou nas redes sociais foi feita em um domingo bem cedo, com o celular, quando Abhner voltava de uma festa onde tinha trabalhado como DJ.

“O que eu vivo hoje com a minha família é um exemplo de que você pode ser gay, pode estar com pessoas do mesmo sexo e pode ter uma convivência boa com a família. Muita gente não tem isso, mas eu acredito que, com o tempo, as pessoas vão abrindo mais a cabeça. Que mais pais possam agir como o meu pai.”