Número de mortos por policiais dobra na gestão Alckmin e é o maior em 22 anos
Luís Adorno
Do UOL, em São Paulo
01/02/2018 12h29Atualizada em 01/02/2018 14h26
O número de pessoas mortas pelas polícias Civil e Militar no Estado de São Paulo chegou a 939 em 2017. Trata-se do maior índice já registrado pela SSP (Secretaria da Segurança Pública), que começou a contabilizar a letalidade policial anual em 1996. Somente na gestão Geraldo Alckmin (PSDB), entre 2011 e 2017, a letalidade policial aumentou 96%. Já o número de policiais civis e militares mortos no Estado (60), em serviço e em folga, é o menor desde 2001.
Durante o ano de 2017, 876 pessoas foram mortas em supostos confrontos apenas por policiais militares. Os outros 63 foram mortos por policiais civis, que teve um impulso devido à ação que terminou com dez suspeitos mortos no Morumbi, zona oeste da capital. No decorrer do ano passado, 45 policiais militares foram mortos em serviço e durante a folga. O número de policiais civis mortos chegou a 15.
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Levando em conta os últimos sete anos do governador Geraldo Alckmin (PSDB), que deve deixar o cargo em abril para ser o candidato tucano nas eleições presidenciais, o número de pessoas mortas por policiais no Estado dobrou. Em 2011, as polícias mataram 480 pessoas. Já em 2017, os 939 mortos representam uma alta de 96%.
Já o número de policiais civis e militares mortos caiu 17%, de 73 (em 2011) para 60 (em 2017).
Para o ouvidor das polícias de São Paulo, Julio Cesar Neves Fernandes, que é o homem responsável por fiscalizar desvios de policiais no Estado, o alto índice de mortes é fruto do desrespeito ao método Giraldi, que é um método de contenção no qual o policial é orientado a disparar dois tiros por vez contra um suspeito para que o policial fique seguro e, ao mesmo tempo, prenda o suspeito, em vez de matar.
"É lamentável que a gente veja isso, quando a expectativa é sempre que diminua. Isso significa que não estão obedecendo o que é feito no treinamento da PM, principalmente, que é exercitar nas ruas o método Giraldi. E quando não realiza permanentemente o que foi aprendido no início da função de policial, a tendência é essa aí: sempre aumentar. Se efetuassem o que aprendeu no treinamento, as duas mortes diminuiriam", afirmou.
Para o professor de Gestão Pública da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Rafael Alcadipani, "mesmo com esse aumento da letalidade policial, a gente não tem visto uma melhora expressiva dos indicadores [da criminalidade] nesses anos todos". "Os índices estão melhorando agora no fim do mandato por uma questão econômica. Isso mostra que matar não resolve o problema", analisa.
De 2011 para cá, durante a última gestão de Alckmin à frente do governo de São Paulo, o número de roubos subiu 29%; o de estupros, 6,6%; e o de roubos seguidos de morte, 2,7%. Em contrapartida, o número de vítimas de homicídios dolosos (com intenção de matar), tiveram baixa de 20,4%.
A socióloga Camila Nunes Dias, professora da UFABC (Universidade Federal do ABC) e colaboradora do NEV-USP (Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo) afirma que "a relação da letalidade policial deixa muito claro que não tem relação com o número de crimes em si. Como uma suposta reação das polícias à atividade dos criminosos. Especialmente quando a gente pega o crime que mais tem relação com isso, que é o homicídio".
Para a especialista, "a questão da letalidade é uma questão de escolha política. Aqui em São Paulo, a escolha política para o enfrentamento às questões de segurança pública está baseada na atuação da Polícia Militar ostensiva e aposta no confronto", analisa.