PM diz que revidou ataque de criminosos em ação que deixou 7 mortos em SP
Luís Adorno e Fabiana Marchezi
Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL, em Campinas (SP)
01/03/2018 15h22Atualizada em 01/03/2018 18h39
A PM (Polícia Militar) afirmou que os sete homens mortos na noite desta quarta-feira (28) atiraram quando receberam ordem de parada, em uma rodovia que liga Valinhos ao distrito de Joaquim Egídio, em Campinas, no interior de São Paulo. Os tiros, segundo a polícia, foram revidados. Nenhum PM ficou ferido na ação. Além dos sete mortos, um suspeito ficou ferido e outro está foragido. Até agora, seis corpos já foram identificados por familiares.
Em entrevista coletiva realizada no início da tarde desta quinta-feira (1º), o tenente-coronel Marci Elber Silva, comandante do 1º Baep (Batalhão de Ações Especiais), responsável pela ocorrência, afirmou que cerca de 40 PMs fizeram um cerco na rodovia onde teria ocorrido o confronto para capturar uma quadrilha que foi denunciada dias antes através de uma carta anônima.
Na carta, que agora é fruto de investigação pela Polícia Civil, um anônimo alertou que cerca de dez criminosos utilizariam a estrada municipal Dona Isabel Fragoso Ferrão, na região de Valinhos, para fazer um assalto a uma agência bancária em Joanópolis, cidade da região. A estrada seria utilizada pelos criminosos por ser pouco fiscalizada e com iluminação precária.
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Os 40 policiais fizeram um cerco na estrada e se esconderam atrás de barricadas e árvores. Na noite de ontem, chegaram a abordar e liberar ao menos dois carros antes de terem dado ordem de parada ao grupo criminoso, ainda segundo a PM.
"Felizmente, nós nos posicionamos estrategicamente perto de abrigos como árvores e barrancos e conseguimos nos livrar dos tiros. Nem a gente sabe como ninguém foi atingido. Foi graças a Deus mesmo", afirmou o tenente-coronel Silva.
Ainda segundo o comandante, assim que os policiais deram ordem de parada, os criminosos começaram a atirar. "Para a gente também seria melhor capturar vivo, para fruto de investigação", afirmou o policial.
O UOL teve acesso a imagens, que estão sob posse da Polícia Civil, dos suspeitos mortos. Pelas imagens, é possível ver que alguns deles foram alvejados no rosto. Um laudo, que deve ser concluído em cinco dias úteis, deve precisar quantos tiros foram disparados e os locais em que os homens foram atingidos.
Além da investigação que corre por meio de um inquérito no 4º DP (Distrito Policial) de Campinas, a Corregedoria da PM apura se houve excesso de força. A ouvidoria da Polícia de SP também acompanha as investigações.
Segundo o delegado em exercício na 1ª Seccional de Campinas, Roberto Daher, "ainda é cedo para falar sobre o caso, mas estamos levantando informações sobre a quadrilha. Local de atuação, envolvimento em outros crimes e a procedência do material apreendido".
Todo o armamento usado pelos PMs foi recolhido e será periciado. A polícia diz ter apreendido com os criminosos: um fuzil 556; duas metralhadoras .40; uma metralhadora 9mm; duas espingardas calibre 12; duas pistolas calibre 45; duas pistolas calibre 9mm; um revolver calibre 38; munição de todos esses calibres e também de calibre .50; dois coletes a prova de bala; uma bolsa com explosivos e materiais detonantes, incluindo 13 detonadores; e 26 cartuchos de emulsão explosiva.
O número de pessoas mortas pelas polícias Civil e Militar no Estado de São Paulo chegou a 939 em 2017. Trata-se do maior índice já registrado pela SSP (Secretaria da Segurança Pública), que começou a contabilizar a letalidade policial anual em 1996. Somente na gestão Geraldo Alckmin (PSDB), entre 2011 e 2017, a letalidade policial aumentou 96%. Já o número de policiais civis e militares mortos no Estado (60), em serviço e em folga, é o menor desde 2001.
Ações com suspeitos mortos em SP
Sob a gestão do governador Geraldo Alckmin (PSDB), esta é a terceira vez em que uma ação da polícia termina com a suposta quadrilha inteira morta e nenhum policial ferido. Nas duas primeiras ações, em 2002 e 2017, o governador elogiou os policiais envolvidos.
Em 2002, na rodovia senador José Ermírio de Moraes, a Castelinho, que dá acesso a Sorocaba (100 km da capital), um ônibus que levaria 12 integrantes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) a um roubo, PMs da Rota interceptaram e mataram a suposta quadrilha.
No ano de 2014, a Justiça de São Paulo absolveu sumariamente todos os policiais envolvidos na ocorrência, que ficou conhecida como "Operação Castelinho". Alckmin sempre elogiou a ação, afirmando que "em São Paulo, bandido tem dois destinos: prisão ou caixão".
Em 2017, uma ação da Polícia Civil terminou na morte de 10 suspeitos de integrarem uma quadrilha de roubo a casas em áreas nobres da capital. Nenhum policial foi alvo de investigação. Alckmin também defendeu a ação.
"A polícia com esse trabalho de inteligência monitorou e fez a intervenção. Graças a Deus, nenhuma vítima foi atingida, nem policiais. Então, esse é o trabalho que tem que se feito, um trabalho de inteligência, para você tirar essas organizações criminosas, principalmente armadas com fuzil", disse o governador.
O governador, que também pré-candidato à Presidência da República, não comentou a ação desta quinta. Alckmin participou de uma reunião com o presidente Michel Temer (MDB) e disse que, se eleito, vai manter o recém-criado Ministério da Segurança Pública.