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Defesa de "Dr. Bumbum" diz ser "precoce" responsabilizar o médico por morte de paciente

O médico Denis Furtado foi indiciado por homicídio doloso e teve a prisão decretada - Reprodução/Facebook
O médico Denis Furtado foi indiciado por homicídio doloso e teve a prisão decretada Imagem: Reprodução/Facebook

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo*

17/07/2018 19h29

A defesa do médico Denis Cesar Barros Furtado afirmou nesta terça-feira (17) ser “precoce” responsabilizá-lo pela morte da bancária Lilian Calixto. Conhecido como "Doutor Bumbum", ele teve a prisão temporária decretada pela Justiça do Rio de Janeiro e foi indiciado pelos crimes de homicídio doloso (quando há intenção) duplamente qualificado e associação criminosa. Até as 19h de hoje, Furtado era considerado foragido.

Lilian morreu na madrugada de domingo (15) após ser submetida a um procedimento estético nos glúteos, realizado por Furtado no sábado (14) em um apartamento na Barra da Tijuca, zona oeste da capital fluminense. A paciente teria passado mal durante o procedimento. Ela foi levada pelo próprio médico para o Hospital Barra D’Or, onde chegou em estado considerado extremamente grave e não resistiu.

Em nota, a advogada Naiara Baldanza, que também representa a mãe de Furtado, afirmou que “ninguém é considerado culpado antes da sentença penal condenatória” e expressou seus pêsames à família de Lilian.

“Infelizmente, existem fatalidades que transcendem ao entendimento humano. Saliento que o Dr. Denis é um dos médicos que mais realiza bioplastias no Brasil, de modo que fazer um juízo de valor a acerca de sua conduta profissional, em razão de uma circunstância isolada, que não necessariamente tenha relação com o procedimento estético realizado, não me parece razoável”, disse.

A advogada disse que, em sua última conversa com seus clientes, foi informada de que Lilian não apresentou “qualquer complicação no momento do procedimento estético”. Segundo ela, a bancária só foi acompanhada pessoalmente por Furtado e sua mãe até o hospital porque ligou a eles “informando que não estava se sentindo bem”.

“Muitas das informações que estão circulando na internet e redes sociais acerca do médico são inverídicas”, afirmou a advogada.

A mãe dele, Maria de Fátima, que teria auxiliado no procedimento, também teve a prisão temporária decretada e é considerada foragida. Maria de Fátima teve o registro de médica cassado e é dona da clínica onde o filho atendia.

A namorada de Furtado, Renata Fernandes, que também teria envolvimento no atendimento, foi detida na 16ª Delegacia de Polícia. A Justiça negou pedido de prisão contra ela. Na delegacia, a namorada do médico negou participação na cirurgia e alegou que trabalhava apenas como secretária.

Denis Furtado tem registro em Goiás e em Brasília e não poderia atuar profissionalmente no Rio sem autorização do Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro), que informou que vai investigar o caso.

As causas da morte da paciente ainda não foram divulgadas. A suspeita é de que a bancária tenha sofrido uma embolia pulmonar devido à aplicação da substância PMMA (polimetilmetacrilato), material utilizado para fazer preenchimentos corporais e faciais. O produto é aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), mas indicado para situações pontuais e em pequenas quantidades.

Titular da 16ª DP, a delegada Adriana Belém informou que o médico tem oito passagens criminais, uma delas por homicídio em 1997, além de porte ilegal de arma, crime contra administração pública, exercício arbitrário das próprias razões, ameaça, duas por resistência à prisão e violação de domicílio.

Um milhão de seguidores

Com diversas contas em redes sociais para divulgação do trabalho estético, o médico de 45 anos tem quase 1 milhão de seguidores. Nas redes, o médico diz que já fez mais de 5.000 procedimentos estéticos, "em mais de 15 anos de bioplastia".

O profissional se apresenta como médico, pós-graduado em dermatologia pelo Instituto Brasileiro de Ensino (Isbrae), modulação hormonal pela Brasil-American Academy for Integrative e Regenerative Medicine (Barm), medicina estética, nutrologia e ortomolecular. Afirma também atuar nas áreas de medicina integrativa, acompanhamento ortomolecular e hormonal, tratamento da dor crônica e emagrecimento, além de medicina neural, sistêmica e funcional.

Após a denúncia, o Facebook do médico vem sendo atacado por internautas, que rechaçam os procedimentos realizados.

De acordo com o Cremerj, o médico responde a um processo ético no Conselho Regional de Brasília. Já a mãe dele teve o CRM cassado em 2015 no Rio de Janeiro devido a prática frequente de propaganda enganosa --divulgação de utilização de métodos com resultados não reconhecidos pela medicina.

"Sobre a mãe, ela já teve a pena máxima no que diz respeito à atuação do Cremerj. Mandamos inclusive uma notificação para a Polícia Federal. Sobre o filho, solicitamos documentação do hospital onde a paciente foi atendida, da delegacia que informou que apreendeu farto material de cirurgia no apartamento e vamos encaminhar para Brasília pra ser julgado pelo conselho", disse o presidente do Cremerj, Nelson Nahon, que reiterou a abertura de uma sindicância para acompanhar o caso.

A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica lamentou a morte da paciente e destacou que o procedimento foi realizado por médico não especialista e feito em local inadequado. "A SBCP repudia e reprova procedimentos médicos na área, realizados por não especialistas, e sobretudo nestes moldes", diz a entidade, por meio de nota.

Ao UOL, o presidente da entidade, Niveo Steffen, disse que a aplicação de PMMA para aumento dos glúteos é uma prática não permitida pela medicina. "Essa substância é autorizada apenas em pequenas quantidades, indicada para pequenos preenchimentos e principalmente na região da face para pacientes que sofrem deformações no rosto causada por alguma doença, por exemplo a Aids, que causa enrijecimento de algumas áreas do rosto."

O especialista destaca ainda que os locais para qualquer procedimento estético precisam contar com autorização da Anvisa para funcionar. "Esses espaços precisam de equipamentos específicos, como desfibrilador, para garantir a segurança dos pacientes." Entre os riscos de realizar o procedimento, segundo ele, estão a necrose e a embolia pulmonar.

*Com informações da Agência Brasil