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PCC domina o crime em 8 estados e disputa o controle em outros 13 e no DF

O nome da facção está em pichações em muros no Jardim Paraíso, em Joinville (SC) - Avener Prado/Folhapress
O nome da facção está em pichações em muros no Jardim Paraíso, em Joinville (SC) Imagem: Avener Prado/Folhapress

Flávio Costa e Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

10/08/2018 04h00

Maior facção criminosa do país, com cerca de 30 mil membros, o PCC (Primeiro Comando da Capital) domina o mercado de drogas e o sistema prisional de oito estados brasileiros, briga pelo controle desses setores em outros 13 mais o Distrito Federal e se encontra em flagrante desvantagem em outras cinco unidades da federação.

Essa é uma das conclusões apresentadas pelos pesquisadores Camila Nunes Dias e Bruno Paes Manso em seu livro recém-lançado "A Guerra --A Ascensão do PCC e o Mundo do Crime no Brasil".

Estudiosos da trajetória do PCC há mais de uma década, eles se basearam em dados da inteligência do sistema prisional dos estados, pesquisas de campo e informações contidas em inquéritos policiais para montar um mapa do grau de influência da facção paulista em cada estado brasileiro (veja o mapa abaixo).

"Quando indicamos que o PCC tem baixa influência em um determinado estado, isso sinaliza que existem outras facções predominantes no local", afirma a socióloga Camila Nunes Dias, professora da Universidade Federal do ABC.

Equilíbrio entre facções significa mais violência

"Nos estados que consideramos como médios em termos de presença do PCC, significa que há outros grupos criminosos em pé de igualdade e em conflito com a facção paulista", completa Dias.

Para o jornalista e economista Bruno Paes Manso, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP (Universidade de São Paulo), esse equilíbrio de força entre facções gera violência. 

Dos dez estados com maiores índices de mortes violentas em 2017, de acordo com levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Públicacinco registram "presença média" do PCC e, por consequência, confrontos entre facções: Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco, Amapá e Bahia.

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Os pesquisadores Camila Nunes Dias e Bruno Paes Manso, em entrevista ao UOL
Imagem: Carine Wallaluer/UOL
"Se em São Paulo o PCC é um elemento estabilizador porque domina completamente o mundo do crime, ele leva à instabilidade a outros lugares, pois enfrenta a resistência de grupos criminosos locais", afirma Manso.

Estados com portos fundamentais para o tráfico de drogas para o exterior, Ceará e Santa Catarina registraram uma série de assassinatos resultantes de conflitos entre facções, nos últimos meses. Ambos são considerados prioridades para a facção paulista.

"Apesar dos conflitos, o PCC exerce também influência sobre seus adversários na maneira de agir e de se organizar. Esse modelo de gangue prisional que articula o mercado das drogas a partir dos presídios acabou se nacionalizando. Os salves, os estatutos, mesmo o vocabulário do PCC é usado pelos rivais da facção paulista."

Guerra de facções começou em 2016

Além de São Paulo, onde a facção foi fundada há quase 25 anos, o PCC monopoliza o mundo do crime e os presídios nos estados do Paraná e no Mato Grosso do Sul, essenciais na rota de tráfico de drogas, pois se encontram na região de fronteira, de onde vem a maior parte da maconha (Paraguai) e da cocaína (Bolívia) consumidas no Brasil.

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Pichação do PCC em presídio de Campo Grande (MS), onde a facção predomina
Imagem: Dalmo Curcio/Folhapress
A facção paulista também é predominante em Alagoas, Sergipe, Acre, Roraima e Piauí. Todos, com exceção do Piauí, entre os mais violentos do país.

A expansão nacional do PCC teve impulso nos últimos quatro anos, quando autoridades estimam que a facção conseguiu batizar cerca de 18 mil novos membros, sendo 3.000 em cidades paulistas e outros 15 mil nos outros estados.

Desde o segundo semestre de 2016, o PCC entrou em guerra aberta com o antigo parceiro Comando Vermelho e com outras facções pelo domínio dos presídios e das rotas de tráfico de drogas e de armas em todo o país.

"Tem algumas facções nos estados, que estão querendo bater de frente com nós [PCC], e elas dizem que fizeram uma aliança com vocês [Comando Vermelho]", lê-se no salve (comunicado) enviado à época pelos líderes da facção paulista a um dos chefes do Comando Vermelho Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP. Ele recebeu o bilhete em sua cela no presídio federal de Catanduvas (PR). 

O PCC desejava que o traficante carioca intermediasse um acordo, o que não aconteceu. Segundo investigações policiais, Marcinho VP recusou-se a interceder ao afirmar que cada filial do Comando Vermelho nos estados tem autonomia de ação.

A partir daí iniciou-se uma série de confrontos em presídios do país, cujo ápice foi o chamado massacre de Manaus: no primeiro dia de 2017, membros da FDN (Família do Norte), então aliada do Comando Vermelho, assassinaram 56 presos (exatos 26 eram filiados ao PCC). Atualmente, as três fações disputam o mercado do crime na região Norte do país.

"Se está ocorrendo essa guerra, não chegou ao meu conhecimento. Mas é lamentável preso destruindo preso", desconversou Marcinho VP, em entrevista ao UOL.

Um agente do setor de inteligência da Polícia Federal que acompanha a atuação das facções criminosas no Nordeste ressalta que a disputa entre gangues por arregimentar mais filiados também é caracterizada por deserções e traições. "É um processo muito dinâmico, muitos trocam de lado. Em alguns estados, uma facção pode ser forte nos presídios e se encontrar em situação de inferioridade nas ruas." 

Investigações da Operação Echelon, da Polícia Civil e do Ministério Público de São Paulo, apontam que membros do PCC mataram ao menos 400 rivais em um período de seis meses. Os assassinatos aconteceram por todo o país.

"O mapa e os fatos indicam que é preciso uma mudança radical do nosso sistema prisional e de segurança pública. É preciso mudar nossa política de encarceramento em massa que hoje em dia só beneficia essas facções em guerra", afirma o vice-presidente da Federação Nacional de Policiais Federais, Flávio Werneck.

PCC matou 400 rivais em seis meses, aponta polícia de SP

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