Análise: PCC está em guerra e não interessa à facção enfrentar o Estado
Especialistas em segurança pública não esperam reação violenta do PCC (Primeiro Comando da Capital) após a transferência de líderes da facção para presídios federais do país. Consultados pelo UOL, eles reconheceram, no entanto, que ainda é cedo para medir as consequências da ação policial.
A transferência dos criminosos foi revelada pelo UOL na manhã de hoje. Entre os presos levados a outros estados, está Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, além de outras 21 pessoas. Ao todo, 15 são considerados da alta cúpula da facção e estavam no presídio de Presidente Venceslau (SP), incluindo Marcola. Outros sete estavam no RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), em Presidente Prudente (SP).
Presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e professor da Fundação Getúlio Vargas, Renato Sergio Lima vê dois motivos principais para não acreditar que haja uma repetição de 2006 - ano em que a cidade de São Paulo sofreu uma série de ataques do PCC em retaliação a uma ação da polícia. O primeiro deles é o fato de a organização, que cresceu e se espalhou pelo Brasil desde então, estar atualmente em "guerra declarada" em vários outros estados.
São Paulo acaba sendo o porto seguro deles, então não vão querer desestabilizar a região.
Renato Sergio Lima
O segundo é justamente uma leitura por parte do PCC de que o Estado está preparado para uma possível represália.
Camila Nunes Dias, professora de Políticas Públicas da UFABC (Universidade Federal do ABC), tampouco aposta em ações violentas.
Houve uma avaliação de que os ataques de 2006 não foram positivos para o PCC. A resposta da polícia foi muito violenta, matou centenas de pessoas, algumas sem qualquer envolvimento com o crime. Eu penso que dificilmente haveria reedição dos ataques, até porque o PCC já demonstrou novas estratégias para fazer enfrentamento do Estado.
Camila Nunes Dias
Isolamento de lideranças e jogada política
Os dois especialistas questionam, no entanto, a eficácia da ação policial.
Na avaliação de Lima, caso não seja um ato único, a transferência representa um isolamento das lideranças e, portanto, um golpe importante na maior organização criminal do país.
Se essa ação vem junto com um trabalho de asfixia da capacidade financeira do PCC, talvez a gente consiga ter resultados positivos. Se for só uma ação política, em breve Marcola vai ser substituído por alguém e o problema vai continuar.
Renato Sergio Lima
Nunes Dias, por sua vez, vê justamente os fins políticos da decisão. "O Ministério Público está pedindo a transferência há vários meses, para não dizer anos em alguns casos, e essa decisão sai agora após as eleições, quando os potenciais efeitos negativos certamente serão diminuídos até o próximo período eleitoral. Indica que para além de uma discussão técnica e jurídica, que supostamente é a base da decisão, há um componente politico fundamental", diz ela.
Dias avalia que o sistema penitenciário federal, caracterizado por um regime de segurança máxima, não pode ser visto como solução para os problemas de segurança do Brasil.
São unidades prisionais sem projeto, planejamento, para refletir o que fazer com os presos que vão para lá. Em termos de controle e punição pode ser bastante eficiente, mas isso está longe de significar a resolução dos problemas da violência e segurança.
Camila Nunes Dias
Para ela, outras lideranças ocuparão o lugar dos presos transferidos. "Já vi acontecer dezenas de vezes nas últimas duas décadas, e o PCC demonstrou sempre capacidade de adaptação às novas condições."
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